O “ataque brutal” a Salman Rushdie deixou-o sem ver de um olho e sem poder usar uma das mãos
Agente literário do escritor britânico falou pela primeira vez, ao diário El País, das sequelas do atentado de 12 de Agosto.
Foi a 12 de Agosto que o escritor Salman Rushdie foi esfaqueado no pescoço e no tronco quando se preparava para dar uma palestra no estado de Nova Iorque sobre a liberdade artística, mas só agora o seu agente deu a conhecer a extensão dos danos causados pelo brutal ataque. O autor de Os Versículos Satânicos ficou sem ver de um dos olhos e sem poder usar uma das mãos.
A notícia foi dada pelo seu agente, Andrew Wylie, em conversa com o diário espanhol El País, e está a ser citada por diversos jornais internacionais, incluindo o britânico The Guardian.
“[Os seus ferimentos] foram profundos e perdeu a visão de um olho”, disse Wylie, nome influente do mundo editorial, com uma carteira de clientes que inclui autores como Milan Kundera, Antonio Muñoz Molina, Art Spiegelman, Yasmina Reza, Orhan Pamuk, Susan Sontag e Louise Glück. Rushdie ficou com três ferimentos graves no pescoço, precisou, e uma das suas mãos “está incapacitada porque os nervos do braço foram cortados”.
O escritor britânico que, por causa de um dos seus livros, foi alvo de uma fatwa decretada pelo ayatollah Khomeini, há 33 anos, ficou ainda com “mais 15 feridas no peito e no torso”, contou Andrew Wylie em entrevista a Guillermo Altares, publicada este sábado no diário espanhol. “Foi um ataque brutal.”
O agente não pôde dizer, por motivos de segurança, se Rushdie já teve ao não alta hospitalar: “Não posso dar nenhuma informação sobre o local onde se encontra. Ele vai viver… E isso é que é o mais importante.”
Antes do ataque de Agosto, o escritor de 75 anos e o seu agente tinham já reflectido juntos várias vezes sobre os riscos que Rushdie corria, chegando ambos à conclusão de que, passadas décadas, o principal perigo viria de uma pessoa qualquer que, isolada, aparecesse de repente e o atacasse. E foi precisamente o que aconteceu.
“Uma pessoa não se pode proteger de um ataque assim porque é totalmente inesperado e ilógico. Foi como o assassinato de John Lennon”, resumiu Wylie.
Hadi Matar, de 24 anos, o homem suspeito de esfaquear Rushdie múltiplas vezes, declarou-se inocente das acusações de agressão e de tentativa de homicídio em segundo grau quando compareceu em tribunal seis dias depois do ataque.
Matar, que tem dupla nacionalidade, americana e libanesa, é residente no estado de Nova Jérsia e foi detido logo após o ataque ao romancista.
Numa entrevista publicada pelo jornal New York Post, que, já na prisão, falou com o responsável pelo atentado à vida de Rushdie, este confessou-se “surpreendido” pelo facto de o autor ter sobrevivido e descreveu-o como “alguém que atacou o islão, que atacou as suas crenças”.
Hadi Matar arrisca uma pena máxima de 25 anos de prisão e foi-lhe negada, naturalmente, qualquer possibilidade de sair em liberdade condicional enquanto se desenrola o processo.
A última audiência aconteceu a 22 de Setembro. Nela o juiz concedeu à acusação mais 60 dias para reunir provas contra Matar e o direito ao anonimato a todas as testemunhas que o desejem.
Em Novembro, Hadi Matar voltará a comparecer em tribunal.