Atacante de Rushdie declara-se inocente de tentativa de homicídio

Acusado ainda de agressão em segundo grau, Hadi Matar garante ter agido sozinho e contou à imprensa que só leu duas páginas de Os Versículos Satânicos.

Foto
Hadi Matar chega ao tribunal acusado de tentativa de homicídio Reuters/LINDSAY DEDARIO

Hadi Matar, o homem de 24 anos acusado de ter esfaqueado na semana passada o escritor Salman Rushdie, declarou-se esta quinta-feira inocente, numa audiência no tribunal do condado de Chautauqua, em Mayville, das acusações de tentativa de homicídio em segundo grau e agressão em segundo grau.

Matar, residente no estado de Nova Jérsia, foi detido logo após o ataque ao romancista, que ocorreu na sexta-feira passada, quando o autor de Os Versículos Satânicos acabara de subir ao palco da Chautauqua Institution, no estado de Nova Iorque, para dar uma palestra, e tem estado desde então detido na prisão de Mayville.

O agressor, que tem dupla nacionalidade americana e libanesa e que chegou ao tribunal algemado e com uma máscara de protecção contra a covid-19, vinha já acusado de tentativa de homicídio em segundo grau – um crime cuja pena máxima é de 25 anos de prisão – por um grande júri, uma instituição própria do sistema legal americano, sem correspondente na justiça europeia.

O juiz ordenou que o acusado voltasse à prisão sem possibilidade de requerer fiança, e a próxima sessão do seu julgamento foi agendada para o próximo dia 22 de Setembro.

Numa entrevista publicada pelo jornal New York Post, que falou com Hadi Matar na prisão, este confessou-se “surpreendido” pelo facto de Rushdie ter sobrevivido ao atentado e descreve o escritor como “alguém que atacou o islão, que atacou as suas crenças”.

Durante a conversa, gravada em vídeo, o acusado diz ainda que não gosta de Rushdie: “Não acho que seja muito boa pessoa. Não gosto dele.”

Mas recusou-se a comentar qualquer possível ligação entre a fatwa decretada pelo ayatollah Ruhollah Khomeini e a sua decisão de viajar até Chautauqua para atacar o escritor. “Respeito o ayattollah. Creio que é uma pessoa notável. E é tudo o que direi acerca disso”, afirmou Hadi Matar, observando que apenas lera “umas duas páginas” de Os Versículos Satânicos. “Não li a coisa toda de um lado ao outro.”

O acusado sublinhou também que agiu sozinho e de sua livre vontade, negando ter tido qualquer contacto com a Guarda Revolucionária do Irão, uma das instituições que recolheram dinheiro para aumentar a recompensa oferecida pelo assassínio de Rushdie.

Ao longo dos cerca de 15 minutos de entrevista, Hadi Matar explica que foi depois de ter visto anunciada a sessão com o romancista que decidiu ir a Chautauqua, que descreve como “um sítio agradável”. Apanhou uma camioneta em Nova Jérsia, que o deixou em Buffalo na véspera do ataque, tendo chamado depois um Lyft – uma empresa de transporte privada semelhante à Uber ou à Bolt – para a última etapa do trajecto. E como chegou ao seu destino ainda na quinta-feira, diz ter “andado por ali, sem fazer nada de especial”, tendo dormido na relva que rodeia a Chautauqua Institution.

Salman Rushdie continua hospitalizado e, embora venha apresentando melhoras, sofreu ferimentos no fígado, tem nervos danificados e é provável que perca a visão num dos olhos.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários