FC Porto-Benfica: um duelo de invencibilidades
FC Porto pode chegar a recorde de dez jogos consecutivos sem perder com o rival da Luz. Benfica soma oito triunfos em nove rondas e quer manter estatuto e duplicar vantagem.
FC Porto e Benfica jogam, na noite desta sexta-feira, no Estádio do Dragão, a liderança do campeonato, num choque de invencibilidades. E por muito que os treinadores relativizem as estatísticas e tendências mais recentes ou aleguem que à 10.ª jornada é impossível apurar campeões, um clássico entre candidatos não tolera discursos sem a vitória como palavra de ordem.
Com o Benfica na liderança, com três pontos de vantagem sobre os portistas, há uma responsabilidade acrescida para a equipa de Sérgio Conceição.
Ganhar é, em primeira instância, uma questão de honra. Jogando em casa, torna-se praticamente uma obrigação. Para os “dragões” não há desculpas, até porque o empate significa o adiar do assalto ao poder. E, aqui, entra o histórico recente: caso o Benfica tropece, será a primeira vez que, em dez duelos consecutivos, não consegue vencer o rival portuense.
Do lado da equipa de Roger Schmidt, os princípios que sustentam a cultura das “águias” são essencialmente os mesmos. Até porque os pilares do novo Benfica assentam na invencibilidade — que nem PSG nem Juventus foram capazes de quebrar em contexto de Champions — e na possibilidade que se apresenta de quebrar o tal ciclo de sete derrotas e dois empates para, consequentemente, duplicar a vantagem sobre o campeão nacional e rival directo.
O empate, que a este nível só configura um bom resultado consoante as incidências do próprio jogo, pode, contudo, não ser um desfecho tão doloroso para os visitantes, pois permite conservar a vantagem e pontuar num estádio onde Sporting e Sp. Braga caíram com estrondo.
Para Roger Schmidt, este é o primeiro clássico no futebol português e o maior teste à invencibilidade benfiquista, especialmente depois das dúvidas levantadas pelo Caldas, na Taça de Portugal, contra quem a equipa da Luz foi levada ao extremo e confrontada com o sortilégio dos penáltis para garantir a sobrevivência.
Um episódio que poderá condicionar a abordagem a um jogo de exigência máxima, afectando, mesmo que subconscientemente e em sentido distinto, a confiança das duas equipas. Pelo menos no plano teórico, pois na prática, no cara a cara, os jogadores não têm tempo para contemporizações.
Com Neres e sem Pepe
E é nesse plano que o jogo pode começar a definir melhor uma tendência. Roger Schmidt sorri com a recuperação de David Neres e sem outros condicionalismos numa altura em que pode contar com todos os jogadores para a deslocação ao Dragão.
Já Sérgio Conceição experimenta dificuldades acentuadas pela indisponibilidade de Pepe, “patrão” da defesa e voz de comando da equipa, especialmente eloquente em jogos de alta tensão. Paradoxalmente, o FC Porto não sofreu qualquer golo sem Pepe em campo e o único consentido em cinco partidas foi, curiosamente, marcado pelo internacional português… na própria baliza, frente ao Sp. Braga (4-1), em jogo que marcou a reacção portista após uma fase conturbada.
Roger Schmidt destacou, aliás, a capacidade e qualidade do adversário que ameaça — tal como sucedeu com o Sp. Braga, que também entrou com estatuto de invencível no Dragão — colocar um ponto final no estado de graça do Benfica.
De resto, descontando os jogos da Champions e da Taça de Portugal, o Benfica tem vindo a revelar dificuldades na condição de visitante, no campeonato: desde a última exibição contundente (0-3 no Estádio do Bessa) há praticamente dois meses, os “encarnados” passaram à justa em Famalicão (11.º triunfo consecutivo), não tendo ido além de um nulo em Guimarães, com polémica e acusações minhotas de erros de arbitragem à mistura.
Nessa medida, o triunfo de Turim, frente à Juventus, e os empates com o PSG, na Liga dos Campeões — onde o Benfica tem excelentes perspectivas de qualificação para os oitavos-de-final — não só permitem a Schmidt manter uma chama intensa, como ainda podem obrigar o FC Porto a manter a guarda e concentração indispensáveis frente a uma equipa que tem mostrado apetência para os grandes palcos.
No planeamento de Sérgio Conceição, em tempo de retoma portista, há uma experiência relevante que o técnico guarda como exemplo a evitar: a última derrota frente ao Benfica acabou por ser decisiva para a atribuição do título de 2018/19. Então, os “azuis e brancos” permitiram a recuperação do rival e a ultrapassagem fatal em pleno Dragão. Desta feita, sem a mesma carga de dramatismo, é preciso prevenir o desastre e devolver a ultrapassagem. Resta saber para que lado penderá a balança deste clássico que, longe de ser decisivo, pode vir a pesar nas contas finais.