Governo alemão demite chefe de cibersegurança suspeito de ligação à Rússia

Arne Schönbohm foi afastado na sequência da investigação de um programa satírico. Alegações não foram provadas, mas o Governo considera que não há a confiança pública necessária.

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A ministra do Interior, Nancy Faeser, decidiu afastar o responsável pela cibersegurança da Alemanha CHRISTIAN MANG/Reuters

A ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, dispensou o chefe da cibersegurança do país, Arne Schönbohm, por alegações de proximidade com a Rússia.

Arne Schönbohm foi proibido de continuar como seu presidente da agência de segurança federal BSI com efeito imediato, anunciou um porta-voz do ministério pouco depois de a revista Der Spiegel ter noticiado o afastamento.

O programa satírico Magazine Royal, da televisão pública ZDF, alegou que Schönbohm tinha tido contactos com pessoas envolvidas com os serviços secretos russos através de uma associação que ajudou a fundar, o Conselho de Cibersegurança da Alemanha.

Esta associação, criada em 2012, tem entre os seus membros uma empresa alemã subsidiária de uma empresa de cibersegurança russa fundada por um antigo funcionário do KGB.

A associação rejeita as alegações, dizendo que são “absurdas” e garantindo que é politicamente neutra, aconselhando outras empresas, políticos e autoridades em questões de cibersegurança.

A Alemanha já acusou a Rússia de ciberataques, como um levado a cabo em 2015 contra o Parlamento alemão, pelo mesmo grupo que acedeu a mensagens da liderança do Partido Democrata dos EUA depois divulgadas pela WikiLeaks. O ataque deixou a rede do Parlamento paralisada durante alguns dias.

Na altura, especulou-se que os atacantes não teriam, no entanto, encontrado nada de relevante nos e-mails dos deputados alemães, que tendem a usar a comunicação electrónica com muito mais parcimónia do que os americanos. A resistência à comunicação electrónica da Alemanha e algumas dificuldades com o digital foram neste caso vistas como uma vantagem.

A investigação a Schönbohm não terminou, mas a ministra do Interior achou que havia motivos para o afastamento. O que está por trás da decisão não são as alegações em si, disse o porta-voz, mas o facto de estas serem “bem conhecidas e amplamente discutidas nos media” causaram “um dano permanente na confiança pública na neutralidade e imparcialidade da conduta” da chefia da “autoridade de cibersegurança mais importante da Alemanha”.