Portugal e Alemanha confirmam inflação recorde em três décadas
No mês do regresso ao trabalho e às aulas, o preço da roupa e dos sapatos subiu 23,8% face a Agosto. INE mantém valor de 9,3%, avançado na estimativa rápida. Germânicos registam 10%.
A inflação homóloga em Setembro foi de 9,3%, anunciou esta quinta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE), confirmando assim os valores avançados a 30 de Setembro na estimativa rápida. É o valor mais alto deste indicador desde 1990 e que reflecte uma subida de 0,4 pontos percentuais face aos 8,9% de inflação homóloga registada em Agosto.
Os dados desta quinta-feira confirmam todos os números de há duas semanas e que já ameaçam a previsão do Governo para 2022. A variação média dos últimos 12 meses em Portugal cifra-se agora em 6%. O Governo estava a prever que este indicador se situasse nos 7,4%, uma meta em risco, mesmo que a inflação homóloga deixe de subir no último trimestre do ano, como o PÚBLICO já explicou.
Na proposta de Orçamento do Estado para 2023, o Governo prevê que a inflação baixe para 4% no próximo ano.
No caso português, a variação de preços nos produtos energéticos até desacelerou, tal como o PÚBLICO havia destacado aquando da divulgação dos números provisórios, que agora são confirmados. Os preços subiram 22,2% (menos 1,8% do que em Agosto). Porém, outras classes de bens continuam a pressionar fortemente o poder de compra dos consumidores, cujos salários não estão a acompanhar a subida da inflação em produtos como bens alimentares, vestuário e calçado e também os acessórios e equipamentos domésticos, que são os principais contribuintes para a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC).
Roupa e sapatos mais caros 23,8%
Em termos mensais, a variação do IPC foi de 1,2% face a Agosto, ou de 1,6%, excluindo os produtos alimentares não transformados e energéticos, salienta o INE. Tal diferença pode ser explicada pela tendência de descida dos preços dos combustíveis na recta final do Verão.
Num mês que marca a reabertura das escolas após as férias e o regresso ao trabalho de milhares de famílias, a classe que mais contribuiu para esta variação mensal foi a do vestuário e calçado, especifica o INE, com uma variação de 23,8%. “Em sentido inverso, a classe com maior contributo negativo para a variação mensal foi a dos transportes, com uma variação de -1,2%”, acrescenta.
A evolução do preço do vestuário de criança e bebé (+44,6%), o vestuário de mulher (+31,7%) e o vestuário de homem (+22,7%) terão também reflectido efeitos sazonais ligados ao lançamento de novas colecções da estação Outono/Inverno, admite o INE.
Nas descidas de preço, os maiores contributos negativos são os voos internacionais (-20,18%) e as férias organizadas no estrangeiro (-18,04%).
Alemães com energia mais cara 43%
Na Alemanha, a autoridade estatística também divulgou nesta quinta-feira os dados definitivos da inflação de Setembro, tendo confirmado que a taxa homóloga se situou nos 10%. Para os germânicos, trata-se do valor mais elevado desde a reunificação da Alemanha federal e da Alemanha do Leste, também há 32 anos.
Diz a agência Destatis que “os enormes aumentos de preço na energia são a principal razão para esta inflação alta”. “No entanto, também vemos aumentos de preços em muitos outros produtos, especialmente alimentos”, realça o presidente da autoridade estatística alemã, Georg Thiel.
Em Setembro, o preço dos produtos energéticos na Alemanha estava 43,9% acima do preço de há um ano.
O fim de algumas medidas temporárias que Berlim lançou para apoiar as famílias também já se faz sentir, adverte Thiel. Estão neste caso o fim do período de desconto nos combustíveis e o bilhete único de transporte, que expirou a 31 de Agosto.
Durante três meses, os alemães puderam viajar em transportes públicos com uma tarifa baixa e única de nove euros por mês. Esse bilhete único era válido em todos os serviços de transporte de autocarros e comboios locais e regionais. A excepção eram os comboios de longo curso.
“Estas medidas temporárias do segundo pacote de ajuda tiveram o efeito de baixar a inflação geral entre Junho e Agosto”, garante Thiel.