Portugal Fashion pode acabar por falta de financiamento
O quadro comunitário Portugal 2020 terminou e o evento ainda não conseguiu aceder a novos apoios europeus. A 51.ª edição será totalmente financiada pela organização.
A 51.ª edição do Portugal Fashion poderá ser a última. O evento de moda do Porto pode deixar de acontecer já em 2023 por falta de apoios, avançou, este domingo, o Jornal de Notícias, numa notícia entretanto confirmada pela organização através das redes sociais. Nos últimos cinco anos, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Católica do Porto, a realização do evento gerou um impacto de 45,4 milhões de euros no valor acrescentado bruto português e foi plataforma de apoio para criadores nacionais como Alexandra Moura, Diogo Miranda, Hugo Costa, Marques’Almeida ou Miguel Vieira.
Até agora, o certame, iniciado em 1995, sempre foi financiado por fundos europeus, mas tal financiamento não foi suficiente para a realização da edição a começar nesta terça-feira, 11 de Outubro, até sábado, dia 15. O evento desta semana será totalmente assegurado pela organização do evento, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), que contou com o apoio de financiamento privado.
Contudo, asseguram, em comunicado a que o PÚBLICO teve acesso, “a ANJE não conseguirá repetir este esforço, o que pode implicar o fim do Portugal Fashion e de todo o trabalho desenvolvido e investimento já feito pelo país nos últimos anos”. Antes da pandemia, que deixou em suspenso os eventos de moda ou os mudou para o digital, o impacto do PF para o país ultrapassava os dez milhões em cada edição e gerava cerca de 400 postos de trabalho.
O quadro comunitário que financiava o evento, o Portugal 2020, terminou e o Portugal 2030 ainda não começou para que o PF consiga concorrer. Já na edição de Março deste ano, os fundos haviam terminado, como informou ao PÚBLICO a directora do evento, Mónica Neto, mas esperavam que se iniciasse entretanto a nova fase de apoios. A resposta negativa chegou à ANJE apenas 30 dias antes da realização da 51.ª edição, lamenta a ANJE.
Entretanto, a organização já pediu uma reunião com “carácter de urgência” ao ministro da Economia, mas até agora “sem resposta”. Os fundos comunitários sempre foram atribuídos ao PF pela importância do evento, não só para a região norte do país e para a indústria têxtil, mas sobretudo por promover a moda nacional além-fronteiras em semanas da moda internacionais, quer através de desfiles ou em participações em showrooms.
A ligação à indústria é precisamente o que distingue o PF do evento irmão, a ModaLisboa ─ a decorrer até este domingo. O evento tem criado novas oportunidades de exportação para o têxtil e calçado nacional. Recentemente, trouxe investimento estrangeiro com uma parceira com o Afreximbank, com vista a diversificar os mercados de destino da moda portuguesa, encontrando em África uma nova oportunidade, não só para exportar, mas também para os criadores africanos produzirem por cá.
Noutros países, como Itália ou França, onde as semanas de moda têm uma importância redobrada, há fundos específicos que suportam o sector e a moda de autor. Em Portugal, por exemplo, a ModaLisboa é co-organizada pela Câmara Municipal de Lisboa, que contribui com 350 mil euros a cada edição.
O Portugal Fashion é casa de inúmeros criadores nacionais, de destacar as duplas Ernest W Baker e Marques’Almeida, ambas reconhecidas a nível internacional. Por cá, dezenas de criadores iniciaram o percurso no certame do Porto, como Susana Bettencourt, Hugo Costa e Diogo Miranda.