Da pandemia de covid à pandemia da inflação: os avisos de Marcelo no último ano

Marcelo Rebelo de Sousa discursa esta quarta-feira nas comemorações da implantação da República e esperam-se avisos ao Governo.

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Marcelo Rebelo de Sousa tem insistido para que o Governo antecipe o cenário macro-económico de 2023 LUSA/NUNO VEIGA

Nas comemorações do 5 de Outubro de há um ano, o Presidente da República exortava Portugal a “entrar a tempo” no novo ciclo de produção de riqueza depois de “superada” a pandemia. Mas nesse mesmo mês, o chumbo do Orçamento de Estado (OE) para 2022 ditava legislativas antecipadas. E ao combate contra a covid-19 sucedeu-se a primeira guerra na Europa em 60 anos, que marcou dois dos discursos seguintes, o da tomada de posse do Governo e o do 25 de Abril. Com uma crise económica à porta, Marcelo Rebelo de Sousa faz esta quarta-feira, nas comemorações da implantação da República, uma nova intervenção pública institucional.

Há um ano, o discurso de Marcelo nas comemorações do 5 de Outubro não dava sinais da crise política que se desenrolou escassas semanas depois. Sem se referir directamente à “bazuca” europeia, a mensagem traduziu-se em forma de aviso para que Portugal aproveitasse uma “ocasião única e irrepetível” nos anos seguintes e entre a “tempo” no novo ciclo económico de crescimento que então se esperava.

Só uma semana depois da intervenção nos Paços do Concelho, a 13 de Outubro, o Presidente dava nota pública de uma iminente crise política. Um eventual chumbo do OE conduziria “muito provavelmente” a eleições antecipadas, avisava Marcelo, deixando nas entrelinhas desentendimentos na geringonça.

O OE 2022 chumbaria mesmo, na generalidade, no final de Outubro de 2021, o que implicou a convocação de eleições legislativas antecipadas para 30 de Janeiro. Depois de um contratempo com a repetição das eleições no círculo na Europa, o novo governo socialista de maioria absoluta tomou posse a 30 de Março, já a invasão da Ucrânia levava mais de um mês. É precisamente pelo dia 24 de Fevereiro – em “que “todos nos vimos ao espelho e a imagem já não era a mesma” – que Marcelo começou o seu discurso da tomada de posse do XXIII do Governo Constitucional.

Perante o novo ciclo – que assinalou como coincidente com o dos de autarcas, com o do Governo e o de si próprio – o Presidente adiantou o que esperam os portugueses. Não só “segurança”, “estabilidade” e “unidade no essencial”, mas também garantir que se vai “protegendo os custos dos bens básicos, custos que a guerra agravou”. “Para que não saiamos da pandemia da saúde para a pandemia da inflação sem controlo em clima de crescimento enfraquecido”, advertia em Março passado, num discurso que ficou marcado pelo aviso sobre a impossibilidade de substituir António Costa como primeiro-ministro sem eleições.

Quase um mês depois, dois meses após o início da guerra da Rússia, no discurso do 25 de Abril, no Parlamento, o Presidente pedia reforços para a Defesa.

Desde então a inflação agravou-se e cresceram as previsões pessimistas sobre a economia na zona euro. Nas últimas semanas, o Presidente insistiu na ideia de que o Governo deveria antecipar o cenário macroeconómico que constará do OE 2023. Mas o primeiro-ministro não cedeu e remeteu para a apresentação da proposta orçamental na próxima segunda-feira. Na semana passada, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, declarou que as perspectivas para a zona euro “são cada vez mais sombrias”, com o BCE a antever que a actividade económica “abrande substancialmente nos próximos trimestres”.

Marcelo assumiu a mesma análise “pessimista”. Já António Costa disse, no Parlamento, não prever recessão em Portugal no próximo ano.

Ainda antes da guerra, já quando Portugal vivia há sete meses em pandemia e com paragens da actividade económica, Marcelo avisava que a recuperação económica duraria “anos”. Foi em Outubro de 2020 nas comemorações da implantação da Republica condicionadas pela pandemia. Em 2021, apelou a que o país não perca o comboio da competitividade. Desta vez, na Praça do Município de Lisboa, Marcelo terá nova oportunidade para intervir, depois do presidente da câmara, Carlos Moedas, fazer o seu primeiro discurso do 5 de Outubro. O primeiro-ministro estará na primeira fila a ouvir os recados.

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