Processo de anexação de territórios na Ucrânia não abafa as fragilidades russas no campo de batalha
Processo de anexação das quatro regiões submetidas aos referendos de Moscovo acontece ao mesmo tempo que os ucranianos recuperam diariamente territórios. Máquina de guerra russa é criticada por aliados de Putin.
A câmara baixa do Parlamento russo (Duma) ratificou esta segunda-feira por unanimidade os tratados de incorporação das regiões ucranianas de Zaporijjia, Kherson, Donetsk e Lugansk, mas os passos para a anexação dos territórios não escondem as fragilidades russas que o conflito no terreno tem deixado evidentes – a cada dia que passa, Moscovo parece estar a perder terreno nas regiões que reclama suas.
Ao mesmo tempo que decorre o processo de anexação das quatro regiões ocupadas submetidas a referendos, os russos não têm conseguido esconder as dificuldades da sua máquina de guerra, desde o recrutamento aos combates. E o reconhecimento das falhas terá sido admitido pelo próprio Vladimir Putin.
Segundo o relatório desta segunda-feira dos serviços de informação britânicos, o Presidente russo admitiu na passada quinta-feira, perante o Conselho de Segurança, que há problemas com a mobilização parcial anunciada a 21 de Setembro.
“Estão a ser levantadas muitas questões durante a campanha de mobilização, e temos de corrigir rapidamente os erros e não os repetir”, afirmou Putin, numa admissão “invulgarmente rápida” das falhas que, no entender do Ministério da Defesa britânico, evidencia o “mau fucnionamento da mobilização” durante a primeira semana.
Os britânicos acrescentam ainda que os oficiais russos estão provavelmente a ter dificuldade em dar formação aos reservistas e a encontrar militares para liderar novas unidades.
Estas avaliações surgiram no dia em que os primeiros mobilizados por ordem do Presidente russo chegaram à região de Lugansk, incumbidos de controlar o território. O Ministério da Defesa russo tinha informado que os mobilizados, depois de concluído o período de instrução e treino de combate, seriam destacados para a missão de controlo dos territórios de leste, maioritariamente dominados por Moscovo.
A anexação ilegal dos territórios é assombrada pela contra-ofensiva ucraniana, que todos os dias recupera terreno e abala a estratégia do Kremlin. O marco mais recente é a libertação de Lyman, na província de Donetsk. Situação que leva Moscovo até a desconhecer quais são os limites territoriais das regiões anexadas.
Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, disse esta segunda-feira que o Governo russo vai consultar as populações locais para saber o limite exacto das regiões de Zaporijjia e Kherson.
A perda de Lyman, território estratégico que estava sob domínio russo desde Maio, levou a que dois aliados de Putin ridicularizassem publicamente a máquina de guerra da Rússia.
Ramzan Kadirov, líder da Tchetchénia, destacou a perda da cidade, que coloca as zonas ocidentais da região de Lugansk sob ameaça: “O nepotismo no exército não trará nada de bom”, disse, acrescentando que o comandante das forças russas na área deveria ficar sem as medalhas e ser enviado para a linha da frente com uma arma para lavar a sua vergonha com sangue.
Declarações que vão no mesmo sentido das proferidas pelo fundador do grupo de mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, que sugeriu enviar para a frente de batalha os culpados pela derrota, “descalços com armas automáticas”.
As demonstrações do desprezo público pelos generais que dirigem a guerra têm sido recorrentes na elite próxima de Putin. O desagrado já levou a várias demissões no Exército russo, com o mais recente a ser o de Alexander Zhuravliov, responsável pelo distrito militar ocidental, um dos cinco distritos do país.