Festival Imaterial abre com o fado de Helder Moutinho e o cante do Desassossego

Durante nove dias, o festival Imaterial leva a Évora concertos, filmes e conferências, além de um Encontro Ibérico de Música. Começa dia 1 de Outubro e vai até dia 9.

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Helder Moutinho, a voz que abrirá o festival em 2022 Pauliana Valente Pimentel

Estreado em Junho de 2021, o festival Imaterial está de volta a Évora para nove dias de concertos, filmes e conferências. Organizado pela Câmara Municipal de Évora/DCP (Divisão de Cultura e Património), cidade que é candidata a Capital Europeia da Cultura em 2027, em parceria com a Fundação Inatel e com direcção artística de Carlos Seixas, o Imaterial levou até Évora, na sua primeira edição, artistas como Ballaké Sissoko, Aynur, Mónika Lakatos, Aldina Duarte, Mustafa Saïd, Egschiglen, Vincent Moon, Mari Kalkun, San Salvador e Fargana Qasimova, entre outros, vindos de vários países e culturas.

Com todas as sessões de acesso gratuito, o programa deste ano abre no Dia Mundial da Música, 1 de Outubro, com fado e cante, no Palácio Dom Manuel. Primeiro com Helder Moutinho (21h30) e depois com os Cantadores do Desassossego (22h45). Um começo a muitas vozes, prenunciando o que, em matéria de concertos se segue, agora no Teatro Garcia de Resende, sempre às 21h30: Parvathy Baul (dia 2), Annie Ebrel & Riccardo Del Fra (3), Saz’iso (4) e Amélia Muge (5). Nestes mesmos dias, ainda no palco do Garcia de Resende mas integrados num denominado Encontro Ibérico de Música, actuarão, sempre às 22h45, Tarta Relena (dia 2), Verde Prato (3), Bandua (4) e Tanxugueiras (5). Nos dias seguintes, os concertos serão no Palácio Dom Manuel: Natche (6, 21h30), Barrut (7, 21h30 e também dia 8, no Pátio da Fundação Inatel, às 19h), Lia de Itamaracá (7, 22h45), Soona Park (8, 21h30), Farnaz Modarresifar & Haïg Sarikouyoumdjian (9, 21h30) e Grupo de Cantares de Évora (9, 22h45). Este último, fundado em Évora, em 1979, por Joaquim Soares e Feliciano Cupido, tem a particularidade de ser um colectivo misto, de homens e mulheres unidos no cante, e vai juntar-se ao fadista Helder Moutinho na Sede Cantares de Évora (dia 9, 16h), num encontro a que chamaram Petiscar com Cante e com o Fado.

Quem seguir todos os concertos, desde o início, saiba que Parvathy Baul é uma cantora indiana que aprendeu com os seus antepassados do povo Baul, da região de Bengala, um repertório a que dá voz nos dias de hoje. E que Annie Ebrel é uma cantora bretã que se juntou ao contrabaixista italiano Riccardo Del Fra em 1996, gravando em 1999 o disco Voulouz Loar – Velluto di Luna, recém-reeditado e premiado com um Diapason d’Or. Já os Saz’iso são albaneses e trazem um género antigo, o saze, que fixaram em novas releituras no álbum At Least Wave Your Handkerchief at Me, editado em 2017.

Quanto a Amélia Muge, cantora e compositora que já tanto tem dado à música, lançou este ano, três décadas após a sua estreia discográfica solo com Múgica, um disco onde a sua voz se multiplica em variações tonais, tímbricas e pulsões rítmicas: Amélias, com arranjos de António José Martins, descrito no PÚBLICO como “uma surpreendente obra-prima”. E é esse disco que apresentará agora em Évora, neste concerto. No dia seguinte, Natche, um cantor nascido em São Tomé que cresceu desde os seis meses em Cabo Verde, absorvendo a cultura local, vocalista do grupo Kings nos anos 80 e depois com uma carreira a solo.

Os Barrut são sete cantores (homens e mulheres) e um percussionista que, segundo a organização do festival, “encontram a fonte para as suas magnéticas e selváticas canções nas polifonias vocais da região francesa da Occitânia”, enquanto a brasileira Lia de Itamaracá, que actua no mesmo dia e palco, logo a seguir, é conhecida como “Rainha da Ciranda” e nasceu Maria Madalena no Pernambuco, há 78 anos, na ilha de Itamaracá, que adoptou como nome artístico como forma de homenagear a sua cultura de origem.

Soona Park vem da Coreia do Sul, embora tenha nascido no Japão, onde contactou pela primeira vez com o instrumento de cordas de tradição coreana que a acompanha até hoje, o gayageum. Quanto a Farnaz Modarresifar & Haïg Sarikouyoumdjian são outro duo (tal como Annie Ebrel & Riccardo Del Fra), juntando a franco-iraniana Farnaz Modarresifar, tocadora de santur (um instrumento de cordas da família do saltério), ao arménio Haïg Sarikouyoumdjian, tocador de duduk (oboé “tido como a alma do povo arménio”).

Os participantes no Encontro Ibérico de Música são as catalãs Marta Torrella e Helena Ros, que como Tarta Relena (assim se chama o duo formado por estas duas amigas de infância) ressoam influências da música sacra, renascentista, barroca e romântica. Já Verde Prato, que também actuou no MIL, é uma jovem e promissora cantora basca que se estreou em disco como o álbum Kondaira Eder Hura (“Aquela linda história”), editado em 2021. Os portugueses Bandua, dupla formada pelo produtor e músico Bernardo D’ Addario, como Tempura the Purple Boy, e Edgar Valente, cantor do grupo Criatura, estrearam-se com um disco homónimo descrito no PÚBLICO como “uma obra surpreendente”, com uma “música profundamente contemporânea, ancorada nas raízes da Beira Baixa”. Por fim, as Tanxugueiras vêm da Galiza, são tocadoras de pandeiros galegos (pandeiretas) e unem as raízes musicais galegas à pop, à electrónica e à música contemporânea. Estrearam-se em 2018 com um álbum homónimo e acabam de lançar um terceiro álbum, Diluvio (2022).

Filmes e conferências

A par dos concertos, há um ciclo de cinema com seis filmes, todos no Auditório Soror Mariana: Like a God When He Plays (Madagáscar 1997), dia 2, 15h30; Polyphonia (Albânia, 2012), dia 3, 15h30; Elders’ Corner: A Musical Voyage of Rediscovery (Nigéria, 2021), dia 4, 18h; All Mighty Mama Djombo (França/Guiné-Bissau, 2022), dia 5, 21h30; Povo Que Canta (selecção de três filmes da série da RTP de Michel Giacometti, realizada por Alfredo Tropa, 1972), dia 6, 21h30; e Sigo Siendo (Peru, 2013), no dia 7 às 21h30.

Quanto às conferências, estão previstas sete. As primeiras três serão no Teatro Garcia de Resende, sempre às 18h: dia 2, Por um (MAT)rimónio Imaterial Negro, pela Associação União Negra das Artes; dia 3, Manifesto a Crioulização, uma Poética de Partilha para Multiplicar, por Mário Lúcio Sousa; dia 5, Apresentação do projecto É preciso avisar toda a gente, Música e exílio em França durante o regime do Estado Novo (1933-1974), por Manuel Deniz Silva, Ricardo Andrade e Hugo Castro. As outras quatro mudam de palco e serão todas no Palácio Dom Manuel, também às 18h: dia 6, Tango e Chamamé. Duas Músicas e Danças Patrimoniais da Argentina, por Liliana Graciela Barela; dia 7, Estado Geral do Cante em 2022, por Paulo Lima, Francisco Torrão e José Guerreiro; e dia 8, O contínuo apartheid na música internacional. Colonialismo e racismo nos mass media, por Ian Brennan e Marilena Umuhoza Delli. Ainda no dia 8, mas duas horas antes, às 16h, será apresentado no Palácio Dom Manuel o livro Severa 1820, por Paulo Lima e José Moças, uma edição da Tradisom destinada a assinalar os 200 anos da célebre fadista Severa.

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