Como viverá o Reino Unido a morte da rainha Isabel II? Operação London Bridge (e Unicorn) em curso
A família a rumar a Balmoral, depois de os médicos terem confirmado estar a supervisionar a saúde da rainha, foi um sinal de que a Operação London Bridge, que reúne os planos para a morte da monarca, já estaria em andamento. Na eventualidade de a rainha morrer na Escócia, como aconteceu, a operação tinha o nome de código Unicorn.
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Uma das coisas que constam em todas as versões dos planos para a morte de Isabel II é a de que a família estaria toda presente. Por isso, quando os filhos e netos começaram a anunciar que estavam a caminho de Balmoral, nas Terras Altas da Escócia, onde a rainha se encontrava, como era seu hábito, a passar as férias de Verão, os alarmes dispararam. Mais ainda depois de ter sido feita uma comunicação sobre o seu estado de saúde, algo raro.
“Após uma avaliação mais aprofundada nesta manhã [de quinta-feira], os médicos da rainha estão preocupados com a saúde de Sua Majestade e recomendaram que ela permaneça sob supervisão médica”, informou o Palácio de Buckingham. A confirmação chegou às 18h30.
No passado, em pelo menos duas situações, também foi avançada uma espécie de avisos para o que estava prestes a acontecer. No caso da rainha Vitória, em 1901, foi o médico sir James Reid a informar que a monarca sofria de “grande prostração física, acompanhada de sintomas que causam muita ansiedade”. Dois dias depois, a soberana morreu.
Já com Jorge V, o médico lorde Dawson fez saber, às 21h30 de 20 de Janeiro de 1936: “A vida do rei está a avançar pacificamente para o seu desfecho.” Pouco depois, Dawson injectou o rei com 750mg de morfina e um grama de cocaína. A morte foi declarada ainda antes da meia-noite.
No caso de Isabel II, que detém o recorde do reinado mais longo da História inglesa (e o segundo mais longo de todos os tempos, sendo apenas superada por Luís XIV, o Rei Sol), existiram várias situações em que a monarca foi protegida, justificando a ausência em determinados eventos ou cancelamentos e alterações de agenda com “problemas de mobilidade”. Ainda assim, a rainha não deixou de reinar: nesta terça-feira, por exemplo, recebeu, em Balmoral, Liz Truss para a convidar a formar Governo em seu nome, depois de a conservadora ter conquistado a liderança do partido.
De acordo com os planos, resumidos já há alguns anos pelo Guardian, o protocolo dita que, depois de os seus olhos se fecharem, Ana, André e Eduardo beijarão as mãos do irmão rei Carlos. Já o secretário pessoal da rainha, sir Edward Young, tratará de dar a notícia à primeira-ministra, e do Ministério dos Negócios Estrangeiros sairá a notícia para os 14 países onde a rainha é também chefe de Estado e para todas as restantes nações da Commonwealth: “London Bridge is down” (a Ponte de Londres caiu) será a mensagem a correr linhas seguras.
O resto do mundo apenas saberá da notícia depois, sendo expectável que a primeira a receber a informação seja a agência noticiosa britânica Press Association, sendo depois disparada em simultâneo para todos os meios de comunicação social. No mesmo instante, descreve o Guardian, alguém de luto “sairá de uma porta no Palácio de Buckingham, atravessará o cascalho cor-de-rosa e afixará um aviso nos portões”.
Com a morte a ocorrer em Balmoral — a parte escocesa da operação recebe o nome Operação Unicorn, revelou também a imprensa inglesa —, o corpo da rainha será levado para Holyroodhouse, em Edimburgo. Depois, o caixão será transportado pela Royal Mile até à Catedral de St Giles, para um serviço religioso, antes de ser colocado a bordo do Comboio Real, na estação de Waverley, que o levará até Londres.
A rainha morreu, longa vida ao rei
Com 96 anos e no trono desde 1952, poucos britânicos se lembram de ter tido em Buckingham outro monarca. E, entre os que se lembram, a maioria seria demasiado jovem quando o pai de Isabel II morreu para se lembrar com exactidão do choque que atingiu o país e de todos os sentimentos envolvidos na futura declaração: “A rainha morreu, longa vida ao rei.”
Com a morte de Isabel II, ambas as casas do Parlamento serão convocadas e as pessoas sairão mais cedo do trabalho. Nos próximos nove dias, haverá uma série de momentos que não permitirão esquecer a partida da monarca — até a programação televisiva sofrerá alterações — e é esperado que Londres receba em peso o mundo diplomático (mais ainda do que no funeral de Winston Churchill, o que obrigará a medidas excepcionais na segurança), enquanto o novo rei entrará em digressão nos dias que antecedem o funeral.
E, claro, a Internet desempenhará um papel fundamental. O site da família real passou a ser uma única página com fundo negro e palavras a confirmarem a morte da rainha. Todos os sites do Governo exibirão também uma faixa negra e as imagens de perfil nas redes sociais serão alteradas para um brasão. Os retweets estão proibidos e não deverão ser publicados quaisquer conteúdos não urgentes que não estejam relacionados com o óbito.
Os planos para o funeral serão comunicados pela família e o primeiro membro do Governo a falar ao país será a primeira-ministra. Só depois deste momento é que os restantes ministros e secretários se poderão pronunciar sobre a questão. Haverá um minuto de silêncio nacional.
Depois, a primeira-ministra deverá encontrar-se com o novo rei, do qual é esperada uma comunicação às 15 nações onde passa a ser chefe de Estado.
As cerimónias fúnebres, que deverão decorrer dez dias após a morte, serão realizadas na Abadia de Westminster, com dois minutos de silêncio ao meio-dia. A rainha será sepultada na Capela do Castelo de Windsor, onde haverá um serviço de homenagem.
Notícia alterada. Incluído o nome de código da Operação Unicorn, que esteve sempre planeada na eventualidade de a rainha Isabel II morrer na Escócia.