José Carlos Malato assume-se não-binário: “É uma questão de princípio activista”
O apresentador de televisão e locutor de rádio afirma acreditar “que a dualidade masculino/feminino ou outro está presente nos seres humanos apesar de a cultura fascista e de a sociedade patriarcal a tentarem esmagar”.
José Carlos Malato recorreu ao Instagram para se afirmar não-binário, considerando ser esse o seu “dever enquanto megafone que detém algum poder de fala na sociedade portuguesa”.
Trata-se, explicou a conhecida figura portuguesa, de “uma questão de princípio activista”, mas “também uma demonstração de empatia com todes os que sentem como eu e um manifesto contra todas as formas de discriminação e violência que muit@s sofrem/sofremos todos os dias”. “O meu ‘não-binarismo-pessoal’ é uma forma de dar representação e visibilidade a todos/todas/todes que sentem/ são assim”, resume.
“Acredito que a dualidade masculino/feminino ou outro está presente nos seres humanos apesar de a cultura fascista e de a sociedade patriarcal a tentarem esmagar. Isso significa que a minha identidade de género e expressão de género não são limitadas ao masculino e feminino. Estão para além desse espartilho maniqueísta.”
A declaração antecede uma explicação de como o género nas palavras altera o seu significado: “Dizer que se está ‘cansada’ é mais forte, semanticamente, do que ‘cansado’. ‘Sou portuguesa! Portuguesa com certeza’ — verso de Rosa Lobato de Faria — expressa melhor o que eu sou do que ‘sou português’ ou ‘Sou um homem. Assim o provam as calças!’, como tão bem disse Ary dos Santos.”
Além dos dois poetas, Malato cita as “insondáveis palavras do Papa João Paulo I quando afirma que ‘Deus é pai e mãe’”, alertando para o facto de se viver “numa era marcada pelo terrorismo das redes sociais”. “Ninguém pode ser quem não é. E ser quem se é não prejudica ninguém. E a mais ninguém diz respeito.”
Agora com 58 anos, o alentejano de Monforte estreou-se na rádio, em 1985, tendo iniciado o seu percurso televisivo na SIC, em 1991. Afirmou-se anos depois como um apresentador de primeira linha da RTP, sendo actualmente um dos rostos dos programas anuais Natal dos Hospitais, Festival RTP da Canção e do Circo de Natal RTP. Com maior regularidade, participa nos programas Portugal no Mundo e Aqui Portugal.
Em 2018, e após a morte do pai, assumiu publicamente o facto de ser homossexual, que também nunca escondera. “Na minha geração, há coisas que a gente não faz por respeito aos pais. Por respeito ao pai, que é diferente da mãe”, escreveu na altura também no Instagram.