Sexo anal, pecado mortal?

O facto de ser algo visto como “proibido”, “transgressivo”, pode ajudar a perceber este fascínio. No entanto, muitas mulheres referem já tê-lo feito por pressão. Sempre fomos ensinadas a servir, inclusive (e até principalmente) no sexo, o que pode ajudar a perceber este comportamento que nunca deveria acontecer! E isso leva-nos à nossa primeira dica para um bom sexo anal.

Foto
Plugs anais podem ser muito úteis Tuomas Lehtinen

Recentemente, vimos sair um artigo a partir de um estudo britânico que dizia que a crescente popularidade do sexo anal estaria a ter consequências na saúde das mulheres. Mais concretamente, incontinência, DST e fissuras anais. O artigo gerou polémica e muitas questões, tais como “mas porquê só para a saúde das mulheres quando, qualquer pessoa com ânus, poderá praticar sexo anal?”. No entanto, ao longo do artigo, a ginecologista Irina Ramilo esclarece que a anatomia do pavimento pélvico, os esfíncteres anais menos robustos e os efeitos hormonais da gravidez e do parto que aumentam o risco de incontinência acabam por ser factores de risco acrescidos.

Porém, não obstante este esclarecimento, é importante referir que os riscos do sexo anal não são exclusivos à mulher. Assim como não é o potencial de prazer! No entanto, como em muitas discussões sobre sexualidade, focam-se os riscos e esquece-se o prazer. O ânus é uma zona erógena, com muitas terminações nervosas (ainda com o extra de dar acesso à próstata, no caso dos homens), e que, com os devidos cuidados, pode, sim, proporcionar muito prazer! É sobre esses cuidados que falaremos mais à frente.

Mas antes ainda! Outro ponto que foi mencionado e que deve ser explorado é o de que, anteriormente, o sexo anal era associado ao mundo da pornografia e que só agora estaria a tornar-se mais popular devido às redes sociais, filmes e séries — registou-se um aumento de 12,5% para 28,5% entre casais dos 16 aos 24 anos. Podendo ser verdade esta crescente popularidade, é importante dizer que esta não é, de todo, uma prática nova na História da humanidade. Na verdade, existem peças de arte erótica de há cerca de 4000 anos, da antiga Mesopotâmia, que se acredita retratarem pessoas a praticar sexo anal, sendo este dos meios de contracepção mais comuns antes de outros terem sido criados.

Por outro lado, deve referir-se também que, segundo um estudo de 2014, o sexo anal é uma fantasia extremamente comum nos homens heterossexuais, o que não se verifica nas mulheres. Claro que podemos questionar-nos: serão as mulheres capazes de assumir ou, até mesmo, permitir-se fantasiar com isto, tendo em conta o julgamento que ainda existe sempre que nos aventuramos em tudo o que não seja o permitido por deus nosso senhor — pénis na vagina? Fica a questão no ar. Por outro lado, o receio da dor e da sujidade podem também ser factores que influenciem estes resultados. Oiço muitas vezes, das mulheres que acompanho em consulta, queixas como: “Mas porquê a fixação dos homens com o anal?!”. O facto de ser algo visto como “proibido”, “transgressivo”, pode ajudar a perceber este fascínio. No entanto, muitas mulheres referem já tê-lo feito por pressão. Sempre fomos ensinadas a servir, inclusive (e até principalmente) no sexo, o que pode ajudar a perceber este comportamento que nunca deveria acontecer! E isso leva-nos à nossa primeira dica para um bom sexo anal:

  • Consentimento

Na verdade, nem pode ser considerado uma dica. É um pressuposto básico, inerente e inquestionável a qualquer prática sexual. Querer é critério essencial para relaxar e aproveitar, mas, acima de tudo, para acontecer! Não existe vontade? Não se faz, não se insiste. Ceder não é consentir!

  • Lavagem

Um dos principais medos de quem pensa praticar sexo anal é a sujidade. No entanto, é importante normalizar essa possibilidade e rir-nos disso, caso aconteça (sim, o sexo na vida real não é como na pornografia). Por outro lado, poderá ser feita a lavagem anal com uma pêra de lavagem, objecto que conseguem encontrar em qualquer sex shop. Esta minimizará o risco e é uma boa possibilidade para conseguir livrar-nos dessa preocupação que pode ser um entrave, especialmente nas primeiras vezes. No entanto, não é recomendável fazê-lo regularmente, pelo risco de desregulação da flora intestinal. Observando o nosso trânsito intestinal, também vamos percebendo quando é ou não viável.

  • Lubrificante

Essencial! O ânus não é uma zona naturalmente lubrificada e saliva não é lubrificante! Sem o uso de lubrificante, aumentam as probabilidades de haver fissuras anais, o que, além de doloroso, facilita a transmissão de DST.

  • Plugs

Os plugs anais podem servir tanto para diversificar a estimulação (usar em simultâneo com o sexo vaginal, por exemplo) como para ajudar a dilatar e relaxar os músculos do ânus e, assim, facilitar o sexo anal. Os plugs, tal como qualquer objecto inserido no ânus, deve sempre ter uma base mais larga, sob risco de se perder por ali adentro e ter de se ir ao médico resgatar o desaparecido.

  • Preservativo

Absolutamente essencial e muitas vezes esquecido porque não existe possibilidade de gravidez. No entanto, a probabilidade de transmissão de DST é bastante maior no sexo anal, por isso, preservativo sempre!

  • Tempo, calma

Não é, de facto, algo para se começar às pressas. É preciso tempo, estimulação de vários outros pontos do corpo, do próprio ânus também, e um alto nível de excitação!

Ainda assim, depois de ler tudo isto, não há vontade ou interesse? Tudo OK! Não temos que gostar todas/os das mesmas coisas. Se houver, é colocar em prática estas sugestões, e aproveitar muito!

Vale ainda a pena lembrar que sexo anal não tem género ou orientação sexual. Qualquer pessoa com ânus tem potencial para sentir prazer com esta parte do seu corpo. Por isso, vamos livrar-nos de preconceitos e mitos infundados porque o nosso corpo é um parque de diversões e, querendo, podemos explorá-las todas!

Sugerir correcção
Ler 25 comentários