A popularidade do sexo anal está a ter consequências na saúde das mulheres, alertam especialistas

Por falta de informação sobre os riscos associados a esta prática, que tem vindo a tornar-se mais popular sobretudo entre os jovens, as mulheres estão a receber “diagnósticos tardios e tratamentos ineficazes”.

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Incontinência, fissuras anais e doenças sexualmente transmissíveis são algumas das consequências da prática do sexo anal nas mulheres Romina Farias/Unsplash

A crescente popularidade da prática do sexo anal entre casais heterossexuais está a ter sérias consequências na saúde das mulheres, segundo um artigo publicado recentemente no British Medical Journal, avançado pelo Guardian. Em causa estão problemas como a incontinência, doenças sexualmente transmissíveis ou fissuras anais, para os quais os médicos não estão a advertir o suficiente, alertam as duas cirurgiãs do Sistema Nacional de Saúde britânico.

O sexo anal, anteriormente associado ao “mundo da pornografia”, tem vindo a tornar-se mais popular entre as gerações mais jovens através das redes sociais, bem como dos filmes e séries, segundo as autoras. Nas últimas décadas, a prática do sexo anal no Reino Unido subiu de 12,5% para 28,5% entre casais dos 16 aos 24 anos, apontam Tabitha Gana e Lesley Hunt, citando um inquérito realizado a nível nacional sobre os comportamentos e estilos de vida sexuais. A questão é que esta mudança de mentalidade não está a ser acompanhada pelo aconselhamento médico devido, o que deixa as pacientes expostas a “diagnósticos tardios e tratamentos ineficazes”.

As consequências vão para lá das doenças sexualmente transmissíveis, que costumam ser os principais riscos mencionados por serem mais elevados neste tipo de relações sexuais, visto que não estão envolvidas secreções vaginais e o preservativo acaba por ser deixado de lado.

Outros problemas a ter em atenção são a incontinência, patologias gastroenterológicas, fissuras anais ou dores e hemorragias, um claro “sinal de trauma”, apontam as médicas. Tanto mais que os riscos do sexo anal são maiores quando “em associação com o álcool, drogas ou múltiplos parceiros sexuais”.

Numa resposta por escrito enviada ao PÚBLICO, Irina Ramilo, ginecologista no Hospital Lusíadas Lisboa, comenta que o artigo publicado no British Medical Journal realça a premente “necessidade de haver uma educação para a saúde sexual”.

Apesar da crescente vontade de praticar sexo anal que se está a verificar entre as mulheres, estas precisam de ter consciência de que as suas próprias condições biológicas favorecem o aparecimento de patologias, sublinha Irina Ramilo: a anatomia do seu pavimento pélvico, com esfíncteres anais menos robustos, e os efeitos hormonais, da gravidez e do parto aumentam o risco de sofrerem incontinência.

Além de que, por vezes, a prática do sexo anal não acontece em contexto de mútuo consentimento. É absolutamente essencial que “as mulheres façam escolhas de acordo com o que desejam” e não pela “questão da pressão dos parceiros” para evitar que, aos efeitos físicos, se some o impacto psicológico, diz a ginecologista.

Desta forma, urge que o assunto seja trazido para cima da mesa e que os médicos prestem um melhor aconselhamento às pacientes. A falta de informação pode estar mesmo “a falhar uma geração de jovens mulheres, que não estão cientes dos riscos”, segundo alertam as autoras do artigo.

Em Portugal, o sexo anal é apenas um dos vários aspectos da sexualidade sobre os quais continua a pairar o silêncio – não só entre a população, mas também em contexto clínico, aponta Irina Ramilo: “As próprias relações sexuais são, por vezes, tabu na sociedade portuguesa e isto reflecte-se também nas consultas médicas.”

Para contrariar isto, a ginecologista refere que um dos aspectos fundamentais para quem exerce funções de atendimento médico é dar ouvidos às pacientes: “Deixo sempre uma pergunta evasiva de modo a deixar a mulher falar.”

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