Começa o Eurobasket mais esperado de sempre
Campeonato europeu de basquetebol reúne os dois últimos MVP da NBA e outras figuras da liga norte-americana. O rol de estrelas está longe de ficar por aí e o nível das equipas cria expectativas de um torneio para a história.
Praga, Milão, Tbilisi, Colónia e Berlim recebem, a partir desta quinta-feira, a 41.ª edição do Eurobasket, cinco anos depois da última edição, que viu a Eslovénia surpreender e conquistar o seu primeiro título da história. O torneio ainda não começou, mas já há quem dele fale como um dos melhores de sempre.
Talvez haja alguma precipitação nestas palavras, mas o nível de talento que participa neste europeu permite arriscar este tipo de julgamentos. O talento que surge na Europa é cada vez maior, com as principais selecções europeias a aproximarem-se cada vez mais dos todo-poderosos Estados Unidos com que se cruzam em Mundiais e Jogos Olímpicos.
A maior competitividade e os nomes fortes europeus que também dominam o topo da NBA trazem, pois claro, maior atenção. O campeonato europeu está a ser altamente antecipado pelos norte-americanos e fãs da NBA de todo o mundo, que têm aqui a oportunidade de ver em acção, durante o Verão, os últimos dois vencedores do prémio MVP da maior liga do mundo – duas vezes Giannis Antetokounmpo, outras duas Nikola Jokic – e Luka Doncic, um possível (até provável) futuro laureado com este troféu individual.
Os três são as figuras principais de três das grandes candidatas à vitória: Eslovénia (Doncic), Grécia (Antetokounmpo) e Sérvia (Jokic) partem no pelotão da frente da competição, acompanhadas da França de Rudy Gobert e Evan Fournier.
Eslovénia defende título com nova ordem de protagonismo
A Eslovénia chega a este Eurobasket para defender um título que conquistou de forma surpreendente e categórica em 2017. O veterano Goran Dragic jogou o melhor basquetebol da sua carreira numa caminhada imbatível até ao ouro (9-0), com um Doncic miúdo, de 18 anos, ainda no Real Madrid, a fazer de seu braço direito. Desta feita, os papéis invertem-se, num regresso de Dragic à selecção depois de cinco anos fora.
Aos 23 anos, Luka chega ao torneio como um dos três melhores jogadores europeus (e um dos dez do mundo) e pretende carregar aos ombros uma equipa montada à sua volta, em muitos aspectos idêntica à formação dos Dallas Mavericks que esta temporada chegou às Finais de Conferência da NBA.
O treinador Aleksander Sekulic imprimiu na equipa um estilo de jogo rápido, de transição, com Mike Tobey a dar mobilidade e capacidade de lançamento na posição de poste, dando espaço a Doncic e Dragic para atacarem o cesto e marcarem ou assistirem os colegas de equipa. O plantel pode não ter a profundidade de outros candidatos, mas conta com outros jogadores de qualidade como Zoran Dragic (irmão de Goran), Vlatko Cancar ou Klemen Prepelic.
Sérvia, Grécia e França ambicionam ouro
A desafiar os eslovenos estarão na primeira linha a Sérvia, a Grécia e França. Os sérvios chegam ao Eurobasket em grande forma, com vitórias frente à Grécia e à Turquia nos jogos de qualificação para o próximo campeonato do mundo.
Das três superestrelas nomeadas anteriormente, Nikola Jokic é quem estará rodeado do melhor conjunto, mesmo considerando a ausência por lesão de Bogdan Bogdanovic (que liderou a Sérvia em pontos por jogos nas duas últimas competições internacionais) e a incerteza à volta da participação de Nemanja Bjelica.
O MVP da NBA (nas duas últimas temporadas) conta no elenco com o também MVP – mas da Euroliga - Vasilije Micic, que repartirá com o “Joker” as despesas de organização do ataque coordenado pelo treinador Svetislav Pesic. O técnico decidiu deixar de fora dos convocados o lendário base Milos Teodosic, uma decisão que dividiu opiniões na Sérvia, mas conta com vários jogadores de qualidade, como Nikola Kalinic, Marko Guduric ou Vladimir Lucic, para a corrida ao ouro.
Por seu lado, Giannis Antetokounmpo vem acompanhado de jogadores como Kostas Sloukas, Nick Calathes, Kostas Papanikolaou, Ioannis Papapetrou ou Georgios Papagiannis, membros de uma geração grega que ainda procura vencer a primeira medalha – a última da Grécia foi de bronze, em 2009. Giannis, na qualidade de jogador mais dominante do mundo, permite sonhar. O plantel conta ainda um dos seus irmãos, Thanasis, e do base (agora dos Dallas Mavericks) Tyler Dorsey, que se estreia pelos gregos em grandes torneios.
França também partilha o favoritismo com estas equipas. A figura principal é Rudy Gobert, âncora defensiva dominante que, na selecção, é também importante na manobra ofensiva. O poste é apoiado de perto por Evan Fournier, que nas últimas duas competições internacionais tem sido um tratado no ataque. O lançador dos New York Knicks foi determinante nas caminhadas francesas até à prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio e ao bronze no Mundial de 2019 e espera repetir a proeza neste Europeu para regressar às medalhas continentais, que lhes escapam desde 2015 (bronze).
Os franceses trazem um conjunto de grande qualidade e experiência, com jogadores que actuam na Euroliga ou já tiveram experiência de NBA como Elie Okobo, Thomas Huertel ou Guerschon Yabusele.
Geração de Ouro espanhola em final de ciclo. Itália sem expectativas
Fora dos principais favoritos, várias equipas procuram um lugar nas medalhas. Há a Lituânia, que conta com o duo de postes Domantas Sabonis (colega de Neemias Queta nos Sacramento Kings) e Jonas Valanciunas para dominar o jogo interior e espera contribuições importantes do jovem base Rokus Jokubaitis, de 21 anos, escolhido no draft da NBA de 2021 e ainda a jogar em Barcelona.
A Alemanha, que recentemente bateu a Eslovénia nas qualificações para o Mundial de 2023, também chega ao Eurobasket com os olhos no pódio. A equipa germânica tem no jovem Franz Wagner a principal figura, contando ainda com a criação de jogo de Dennis Schröder e o jogo interior de Daniel Theis.
Fora do reino da NBA, o papel do lançador Andreas Obst, do Bayern Munique, também pode ser decisivo para uma participação alemã bem-sucedida. E atenção ao factor casa: todos os encontros dos alemães na fase de grupos são em Colónia e todos os jogos a partir dos quartos-de-final serão em Berlim.
Quem parte com menos expectativas que o normal é a Espanha. A selecção espanhola está numa sequência estrondosa de seis medalhas nos últimos seis europeus (três de ouro), mas o núcleo responsável pelo sucesso já não figura nos convocados – não há Marc ou Pau Gasol, Sergio Rodríguez ou Juan Carlos Navarro, e Ricky Rubio ainda recupera de uma lesão. Da velha guarda, sobra apenas Rudy Fernández.
O conjunto espanhol conta, ainda assim, com vários jogadores de qualidade e nunca deve ser descartado da luta pelas medalhas. À disposição do técnico Sergio Scariolo há o recém-naturalizado Lorenzo Brown (não sem polémica no país vizinho), experiente base de 32 anos que deverá ajudar a colmatar a ausência de Rubio. Independentemente deste Europeu, o futuro tem tudo para ser risonho – este Verão, as selecções espanholas dos escalões de formação conquistaram sempre medalhas nos torneios internacionais.
A Itália, que até há poucos dias partia com expectativas altas de um último torneio de bom nível para geração de Danilo Gallinari, Marco Belinelli e Gigi Datome, viu as suas hipóteses de uma surpresa esfumarem-se com uma lesão de “Gallo” que o deve afastar dos pavilhões até ao Inverno. Como consolo, a selecção pode ver como se comporta Simone Fontecchio, que em Julho assinou contrato com os Utah Jazz, num papel mais preponderante, depois de um grande torneio olímpico em Tóquio no Verão passado.
No grupo de conjuntos que ambicionam as medalhas pode ainda acrescentar-se a Turquia, liderada pelo jovem poste Alperen Sengun, pelo experiente base Shane Larkin e pelo lançador Furkan Korkmaz; e, numa hipótese mais remota, até a Finlândia de Lauri Markkanen, uma das figuras do Eurobasket 2017.
O momento das decisões começa já esta quinta-feira, com acção bem concentrada: vão ser 76 jogos do melhor basquetebol europeu em apenas 18 dias. Em Portugal não há transmissão televisiva, pelo que os jogos apenas estarão disponíveis na plataforma de streaming Courtside 1891.