Salman Rushdie continua a recuperar no hospital

Autor de Os Versículos Satânicos permanece internado. Polícia de Nova Iorque ainda não determinou as razões do ataque que o escritor sofreu na sexta-feira.

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Salman Rushdie Olivier Douliery

Salman Rushdie está acordado e mantém uma conversa articulada com os investigadores, enquanto permanece internado num hospital em Erie, na Pensilvânia, na sequência do violento ataque que sofreu na passada sexta-feira, em Nova Iorque, quando se preparava para fazer uma conferência no centro cultural Chautauqua Institution. A informação foi divulgada na manhã desta terça-feira pela cadeia CNN, com base no testemunho de um responsável pela investigação policial em torno do incidente que teve por alvo o autor de Os Versículos Satânicos.

Rushdie, de 75 anos, foi submetido a uma operação de urgência na sexta-feira, depois de um jovem – entretanto identificado pela polícia de Nova Iorque como sendo Hadi Matar, um cidadão norte-americano de 24 anos – alegadamente o ter esfaqueado uma dezena de vezes, provocando-lhe graves ferimentos num olho, num braço e no fígado.

Na segunda-feira, depois da operação e ainda sob apertada vigilância médica, o escritor de origem indiana que em 2016 adquiriu também a nacionalidade norte-americana tinha já recuperado a consciência e respondeu a perguntas dos investigadores. Mas as suas declarações não foram tornadas públicas, acrescenta a CNN.

Segundo informação prestada no domingo pelo seu filho Zafar Rushdie ao New York Times, apesar da gravidade dos ferimentos sofridos Rushdie conserva “intacto o seu habitual sentido de humor desafiante e combativo”.

O suspeito do ataque que abalou o mundo literário, Hadi Matar, saltou na sexta-feira para o palco da Chautauqua Institution, localizada a 110 quilómetros de Buffalo, no estado de Nova Iorque, e esfaqueou repetidamente o escritor, segundo a polícia estadual. Foi imediatamente imobilizado por assistentes da plateia e por funcionários da instituição, e a seguir detido pelas autoridades.

Presente no sábado perante um juiz sob a acusação formal de “tentativa de homicídio em segundo grau e agressão em segundo grau”, Matar declarou-se inocente. À CNN, o seu defensor público, Nathaniel Barone, disse que o acusado se tem mostrado “muito cooperante” e tem comunicado com abertura. Mas, e apesar das buscas já realizadas na sua casa em Fairview, Nova Jérsia, as autoridades policiais ainda não identificaram as razões do ataque ao autor de Os Versículos Satânicos, livro que, após a sua publicação em 1988, motivou uma fatwa. A sentença de morte ao escritor foi decretada pelo então líder religioso iraniano ayatollah Ruhollah Khomeini.

O suspeito, que não possui antecedentes criminais mas será eventualmente um simpatizante do extremismo xiita, tem sido descrito como um homem calmo e reservado, de acordo com pessoas que com ele privaram numa academia de boxe em North Bergen, Nova Jérsia. “Ele tinha aquele olhar de quem pensava: ‘Este é o pior dia da minha vida!’. Era assim que ele entrava aqui todos os dias”, disse à CNN o proprietário do State of Fitness Boxing Club, Desmond Boyle. Um dos frequentadores da mesma academia, Roberto Irizarry, acrescentou que ele treinava “três a quatro vezes por semana”. E reforçou a ideia de que se tratava de “um rapaz muito calmo”.

Se for condenado pelos crimes de que está acusado, Hadi Matar pode vir a cumprir até 32 anos de prisão.

Se as autoridades do Irão vieram desvalorizar o ataque a Salman Rushdie, dizendo, segundo o porta-voz do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, Nasser Kanaani, que o escritor é o único responsável pelo sucedido, na sequência do seu “insulto” à religião muçulmana, continua por outro lado a aumentar o número de figuras da cultura e da política que condenam a acção de Hadi Matar, a partir de países como os Estados Unidos, o Reino Unido e a França, mas também a Índia e a Turquia. O jornal Le Monde cita esta terça-feira a declaração do romancista americano Gary Shteyngart, amigo próximo de Rushdie: “É incrível que isto lhe tenha acontecido quando ele se preparava para fazer uma conferência, porque é no palco que [Rushdie] atinge o seu melhor: frente a um público alargado. Aí vemos até que ponto ele é perspicaz, engraçado, brilhante.”

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