Rushdie foi esfaqueado dez vezes. Suspeito, acusado de tentativa de homicídio, declara-se inocente

Hadi Matar foi detido sexta-feira depois do ataque, e “formalmente acusado de tentativa de homicídio em segundo grau e agressão em segundo grau”.

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A polícia, sexta-feira, no local da agressão EDUARDO MUNOZ/Reuters

Hadi Matar, o homem suspeito de atacar o romancista Salman Rushdie na sexta-feira em palco na Chautauqua Institution, foi acusado de tentativa de homicídio e agressão, anunciou este sábado a procuradoria local. Numa audiência posterior em que Hadi Matar se apresentou a um juiz, os procuradores detalharam que o escritor foi esfaqueado dez vezes. Matar declarou-se inocente.

“O indivíduo responsável pelo ataque de ontem, Hadi Matar, foi agora formalmente acusado de tentativa de homicídio em segundo grau e agressão em segundo grau”, disse o procurador-geral do condado de Chautauqua, Jason Schmidt, em comunicado, citado pela agência Reuters. “Foi detido sob estas acusações na noite passada e não tem direito a fiança”, acrescenta o comunicado. Jason Schmidt acrescentou que as agências de segurança federais e estatais, incluindo as de Nova Jérsia (onde Matar tinha a sua última morada conhecida) estão a tentar apurar o planeamento e a preparação que antecederam o ataque, e assim determinar se o suspeito será alvo de outras acusações.

Horas mais tarde, ainda este sábado, Matar foi ouvido brevemente em tribunal. Usando uniforme prisional preto e branco, declarou-se inocente através do seu advogado. O New York Times detalha que os procuradores revelaram que Salman Rushdie sofreu dez golpes às mãos do suspeito e que consideram que o ataque foi premeditado e que tinha como alvo o escritor.

Salman Rushdie continua hospitalizado este sábado após o esfaqueamento no palco do centro cultural Chautauqua Institution, que ocorreu cerca das 10h45 (hora local) de sexta-feira. Internado em Erie, na Pensilvânia, Rushdie está a respirar com ajuda de um ventilador e incapaz de falar. Segundo o seu agente disse sexta-feira, poderá “perder um olho” e sofreu cortes nos nervos de um braço e lacerações no fígado. Matar estava entre o público da conferência em que o escritor ia participar. Este sábado, Andrew Wiley não respondeu às tentativas de contacto de vários jornalistas.

A estação local do canal NBC, a NBC New York, noticiou por seu turno este sábado que uma revisão preliminar feita pelas autoridades às contas do suspeito nas redes sociais mostraram que Matar tem simpatia pelo extremismo xiita e pela Guarda Revolucionária do Irão. Nascido na Califórnia, Matar mudou-se há pouco tempo para Nova Jérsia, diz a NBC New York, que detalha que no momento da sua detenção tinha uma carta de condução falsa na sua posse. Sobre o que se sabe já quanto à forma como Matar acedeu ao local da conferência, os procuradores acrescentaram durante a tarde deste sábado na audiência em tribunal que o suspeito se deslocou de autocarro e que comprou bilhete para assistir às conferências.

O FBI esteve na sua última morada conhecida, em Fairview, na noite de sexta-feira, diz a mesma NBC New York, citada pela Reuters. Salman Rushdie é alvo de uma fatwa desde 1989 devido à forma como retrata o Islão no seu livro Os Versículos Satânicos. A ordem de morte foi depois acompanhada pela oferta de uma recompensa de cerca de três milhões de euros por parte de um grupo extremista. O motivo do crime cometido na sexta-feira não é ainda conhecido.

Entretanto, o analista de terrorismo e segurança Kyle Orton, chamou a atenção para uma notícia da Fox que mostra a carta de condução falsa de Matar e que ostentava o nome de um famoso líder do Hezbollah, grupo armado libanês apoiado pelo Irão — que por seu turno disse este sábado nada saber sobre o ataque a Rushdie. O especialista em extremismo e movimentos jihadistas Romain Caillet reproduziu o tweet de Orton na sua própria conta.

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