Incêndio na Serra da Estrela é “operação difícil de gerir”. Três bombeiros gravemente feridos

As chamas já entraram no concelho de Celorico da Beira, onde um carro dos bombeiros de Loures terá capotado. Pelas 16h55, combatiam o incêndio mais de 1500 operacionais. A Protecção Civil fez um prognóstico cauteloso.

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Fogo deflagrou na Covilhã durante a madrugada de sábado passado. LUSA/MIGUEL PEREIRA DA SILVA

Os autarcas dos municípios atingidos pelo grande incêndio na Serra da Estrela, que lavra há mais de cinco dias e já queimou mais de 12 mil hectares, lamentam a extensão do incêndio e criticam a descoordenação dos meios no terreno. A secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, diz tratar-se de um dos fogos mais complicados do ano.

A situação continua preocupante, com cinco concelhos afectados pelo incêndio: Covilhã, Gouveia, Guarda, Manteigas e Celorico da Beira. Os presidentes das autarquias afectadas já manifestaram a intenção de pedir ao Governo a realização de uma análise independente para perceber o que falhou.

Quatro destes autarcas já reuniram com a secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar. Segundo o Ministério da Administração Interna, os encontros permitiram identificar situações que “poderão necessitar de ajustamentos” do ponto de vista operacional e dadas as características do incêndio.

Ninguém consegue controlar este fogo apesar de tantos meios humanos, de tantos camiões e carros de combate que, segundo dizem, estão no local – mas nós não os vemos”, dizia à RTP o presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa.

No ponto de situação dado ao final do dia, o segundo Comandante Nacional de Emergência e Protecção Civil, Miguel Cruz, referiu que a tarde foi de “muito trabalho” devido, sobretudo, ao relevo do terreno e ao vento.

A zona mais preocupante é a de Celorico da Beira, assim como a freguesia de Videmonte, no concelho da Guarda, contra os quais os meios estavam a ser “reorganizados”.

“Vamos continuar a trabalhar para conjugar todas as oportunidades da noite e continuar a fazer um esforço para o mais cedo possível poder debelar o incêndio, tendo em linha de conta, sempre, a segurança dos profissionais e das populações”, salientou o segundo comandante, antecipando uma redução da intensidade do vento e da temperatura durante a noite.

Sobre as críticas das autarquias, Miguel Cruz referiu que o dispositivo reagiu “prontamente”, mas não teve a “elasticidade” para acompanhar a velocidade de propagação e o movimento do incêndio.

Pelas 22h, combatiam este incêndio 1572 operacionais, com 496 viaturas, de acordo com a página da Protecção Civil. Chegaram a estar destacadas mais de dez aeronaves durante o dia.

Combate ao incêndio na Serra da Estrela é “operação difícil de gerir"

Em entrevista à RTP esta quinta-feira, a secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, disse que o combate ao incêndio na Serra da Estrela é “uma das operações com maior complexidade deste ano, talvez dos últimos anos” e, por isso, uma situação “difícil de gerir”.

“As supostas falhas de que temos ouvido falar não deixam de ser sentidas por aqueles que estão na operação”, sublinhou a secretária de Estado. “É uma operação com contornos de enorme complexidade. Não posso descartar que, num dado momento, possa haver algo que não tenha corrido conforme expectável”, reconheceu Patrícia Gaspar, depois de enumerar a dimensão do dispositivo que se encontra no terreno – para além do grande número de operacionais, há um posto de comando principal e um posto de comando dedicado a cada um dos municípios atingidos.

A responsável destacou ainda as “péssimas condições meteorológicas” que se têm sentido desde que o fogo deflagrou na noite de sábado e que têm obrigado a um constante "reajustar da estratégia” e da “aplicação dos meios no terreno”. Confrontada com a crítica da descoordenação do terreno, Patrícia Gaspar disse existir “uma operação muito difícil de gerir, aqui ou em qualquer país do mundo”.

"Isso não tem a ver com questões de descoordenação, é preciso perceber a operação”, referiu.

Chamas chegaram ao concelho de Celorico da Beira. Três bombeiros feridos

Durante a manhã desta quinta-feira, o incêndio chegou ao concelho de Celorico da Beira (na Guarda), sendo a situação mais complicada na freguesia de Carrapichana. Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara de Celorico da Beira, Carlos Ascensão, explicava que as chamas entraram no concelho através de um reacendimento que ocorreu a meio da manhã desta quinta-feira.

“Hoje um reacendimento com uma intensidade grande atingiu toda a parte da Carrapichana, sendo que a situação se tornou incontrolável pelo vento, chamas e falta de resposta”, disse.

Durante o combate ao incêndio um carro dos bombeiros de Loures capotou. O acidente fez dois feridos graves e três ligeiros.

Carlos Ascensão disse entender a falta de resposta”, dadas “as solicitações que são muitas” e a “vasta área” do incêndio. “A situação em Linhares da Beira está mais ou menos controlada. Na Carrapichana [freguesia] está mais preocupante”, salientou.

Para Carlos Ascensão agora, o mais importante, “é tentar debelar o problema”. “No final, há contas para acertar. Há coisas que têm que ser repensadas e analisadas. Há uma falência do sistema que já vem desde 2017”, acrescentou.

Incêndio já ultrapassa cerca de 10 mil hectares

Este fogo já terá consumido uma área próxima dos 10 mil hectares. O Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais, que, através de vários satélites, regista incêndios com áreas superiores a um hectare, contabiliza que arderam na Serra da Estrela 9532 hectares até esta quarta-feira.

Miguel Cruz deu conta que o incêndio provocou ferimentos ligeiros a 11 operacionais, tendo danificado dois veículos e duas habitações não permanentes. Disse ainda que o fogo obrigou a deslocar temporariamente 26 pessoas que já regressaram às respectivas habitações.

Comentando críticas do presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Miguel Cruz confirmou que no dia anterior os dois Canadair que compõem o dispositivo de combate estiveram inoperacionais por problemas mecânicos e a terceira aeronave que os costuma substituir estava em revisão, logo não foi possível contar com nenhum dos aviões pesados de combate a incêndios.

A situação foi parcialmente resolvida, garantiu, adiantando que durante a manhã esteve um Canadair a combater este incêndio, que deflagrou na Covilhã na madrugada do passado sábado.

Confrontado com críticas de descoordenação, o comandante da ANEPC reconheceu a complexidade do teatro de operações, devido à orografia do terreno, ao grande perímetro do incêndio e às condições meteorológicas. E garantiu que a autoridade vai continuar com “uma atenção redobrada” à meteorologia, para aproveitar as janelas de oportunidade que esta criar.

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