Em França, todas as instalações comerciais vão ter de passar a fechar as portas dos seus estabelecimentos como forma de poupar energia, caso contrário pagarão uma multa no valor de 750 euros. Esta medida, que foi anunciada esta segunda-feira pela ministra responsável pela transição energética na França, deverá ser convertida em decreto-lei dentro de poucos dias, segundo o jornal britânico The Guardian.
Deixar as portas abertas enquanto se tem o ar condicionado ligado pode levar a “mais 20% de consumo de energia”, justificou a ministra Agnès Pannier-Runacher, acrescentando que é um desperdício “absurdo” considerando as crises climática e energética actuais.
Durante a onda de calor que afectou (não só) a França na semana passada, já algumas autarquias, como de Paris e Lyon, tinham decretado uma medida semelhante.
Na capital, a polícia já começou a cobrar multas de 150 euros às lojas depois da presidente da Câmara, Anne Hidalgo, ter anunciado a decisão como forma de combater o que chamou de “aberração”. Ou, segundo as palavras do vice-presidente Dan Lert, um “vasto e irresponsável desperdício de energia”.
Em declarações à rádio pública France Info, Yves Marignac, um especialista em consumo energético que integra o think thank francês négaWatt, considerou que, embora a decisão agora anunciada não seja uma “medida milagrosa”, já é bastante simbólica.
“Estamos a falar de medidas capazes de reduzir o consumo em alguns por cento num sector que representa, por si só, vários por cento do consumo da França”, disse Marignac. “Mas é importante precisamente porque só conseguiremos atingir de uma forma colectiva este objectivo se trabalharmos em todos os eixos”, acrescentou.
Para mais, o especialista considera que é um passo importante para as pessoas ganharem consciência de que os tempos passaram a ser outros: “Temos vivido durante décadas numa promessa de energia abundante e perdemos completamente de vista a realidade do nosso consumo energético”. No fundo, fechar as portas das instalações comerciais com ar condicionado é mais uma questão de “senso comum”, relembra. Daí que “quando um governo nos tem de lembrar disto, tal mostra até onde descemos no caminho da energia barata e inofensiva que temos vindo a percorrer”.
Apesar de a electricidade em França não ser muito cara, visto que 70% das suas necessidades são colmatadas por energia nuclear, o Presidente Emmanuel Macron já decretou o que designou de “plano de sobriedade energética” perante os cortes do gás russo. Este plano, que visa reduzir o consumo de energia em 10% nos próximos dois anos, obriga os estabelecimentos a retalho a reduzir os níveis de iluminação durante o dia e a desligar por completo assim que fechem, por exemplo. Também as instalações públicas passam a ter de elevar os termóstatos no Verão e, em contrapartida, a baixá-los no Inverno. Já a população em geral é instada a desligar os routers wi-fi quando estes não forem precisos, assim como a prestar mais atenção às luzes na casa.