BBC vai pagar à ex-ama de William e Harry por “danos substanciais” na sequência da entrevista de 1995 à princesa Diana

A emissora britânica informou que não voltará a exibir a conversa entre a princesa de Gales e o jornalista Martin Bashir nem atribuir licenças para que outros o façam.

Foto
Diana esteve casada com o príncipe Carlos entre 1981 e 1996 Reuters (arquivo)

A BBC informou, esta quinta-feira, que aceitou pagar uma indemnização à antiga ama dos príncipes William e Harry, admitindo que foi responsável por “danos substanciais” na sequência da transmissão da entrevista de 1995 à princesa Diana, a qual uma investigação provou ter sido obtida de formas pouco escrupulosa.

No caso de Tiggy Legge-Bourke, agora Alexandra Pettifer, o jornalista da BBC Martin Bashir recorreu a falsas informações sobre a mulher que tomava conta dos herdeiros de Carlos para convencer Diana a dar uma entrevista que se transformou num dos maiores escândalos da família real — durante a conversa, a princesa de Gales admitiu ter tido um caso extraconjugal, falou sobre a infidelidade de Carlos e deu detalhes íntimos sobre a relação do casal, que já estava separado desde finais de 1992.

No ano passado, um relatório concluiu que Bashir enganou o irmão de Diana para conseguir uma reunião com a princesa, tendo para tal apresentado extractos bancários falsos, sugerindo que Diana estava a ser observada pelos serviços de segurança e que dois dos seus assistentes mais próximos estavam a ser pagos para fornecer informações sobre si. A investigação descobriu ainda que a emissora tivera conhecimento do engodo, optando por assobiar para o lado. E, desde há um ano, a emissora britânica tem vindo a assumir a sua parte na responsabilidade da entrevista, chegando agora a vez de se retractar com Alexandra Pettifer.

“A BBC concordou em pagar à sra. Pettifer por danos substanciais”, informou o director-geral da BBC, Tim Davie, numa declaração oficial. “Gostaria de aproveitar esta oportunidade para lhe pedir desculpa publicamente, mas também ao príncipe de Gales e aos duques de Cambridge [William] e Sussex [Harry] pela forma como a princesa Diana foi enganada.”

Os meios de comunicação locais informaram, segundo a Reuters, que o advogado da BBC disse a um tribunal londrino que a emissora aceitou o facto de as alegações feitas contra a ama serem “totalmente infundadas”. Já o director-geral lamentou pelo facto de a BBC não ter chegado aos factos imediatamente a seguir ao programa quando “houve sinais de alarme de que a entrevista poderia ter sido obtida de forma imprópria”, adiantando que a emissora não voltará a exibir a conversa nem atribuir licenças para que outros o façam.

No início deste ano, a BBC também concordou em fazer um pagamento substancial ao antigo secretário privado de Diana, Patrick Jephson, na sequência da mesma entrevista.

Entretanto, Bashir pediu desculpa pelas declarações falsas, mas manteve que há mais de 25 anos acreditava nas provas que tinha na sua posse, acrescentando que, na sua opinião, Diana não aceitou dar a entrevista por causa disso.

Uma entrevista com “falhas claras”

Em Maio do ano passado, a BBC informou que o relatório da investigação ao processo da entrevista à princesa Diana pelo jornalista Martin Bashir, em 1995, concluiu que houve “falhas claras”, lamentando o sucedido.

O documento, elaborado pelo juiz jubilado John Anthony Dyson, pormenoriza que “Bashir enganou [Charles Spencer] e induziu-o a marcar um encontro com a princesa Diana”, considerando que o jornalista “agiu de forma inadequada”. Já sobre a BBC, o relatório concluiu que Bashir mentiu repetidamente aos seus chefes sobre a forma como a entrevista foi obtida, acusando os gestores da BBC, porém, de não terem examinado devidamente a situação e de terem ocultado factos sobre a forma como Bashir tinha conseguido a entrevista.

Nas vésperas de ser conhecido o resultado da investigação, a BBC anunciou que Martin Bashir iria abandonar o cargo de editor de assuntos religiosos do organismo de radiodifusão financiado por fundos públicos devido a problemas de saúde. O que não foi o suficiente para os filhos de Diana.

Numa declaração extremamente assertiva, William, agora com 38 anos, descreveu a forma como a entrevista foi obtida como “enganosa”. “É de uma tristeza indescritível saber que as falhas da BBC contribuíram significativamente para o medo, paranóia e isolamento [de Diana] de que me lembro desses últimos anos.”

O seu irmão mais novo, o príncipe Harry, disse que a entrevista fazia parte de uma série de práticas pouco éticas que acabaram por custar a vida à sua mãe. “A nossa mãe perdeu a sua vida por causa disto, e nada mudou”, disse, numa clara alusão à forma como a imprensa britânica o perseguiu, e à mulher, ao longo do último ano que o casal viveu no Reino Unido.

Vingança ou engodo

Diana Spencer foi um dos mais populares membros da família real britânica, tendo sido até baptizada com o epíteto de “princesa do povo”. Foi considerada “a mulher mais fotografada do mundo”, nomeada como a terceira maior personalidade britânica de todos os tempos e uma das pessoas mais importantes do século XX pela revista Time.

Quando se deu a entrevista ao programa Panorama da BBC, em Novembro de 1995, Carlos já tinha levantado o véu sobre os problemas do matrimónio, um ano antes, numa conversa televisiva em que confessou o adultério. Por isso, na época, muitos consideraram a entrevista de Diana como uma espécie de vingança, e talvez a forma de obter a liberdade desejada, já que os dois estavam separados, oficialmente, desde 9 de Dezembro de 1992. E teria resultado: o divórcio formal foi finalizado em Agosto de 1996.

Foto
À pergunta “Foi infiel?”, Diana de Gales respondeu: “Estava apaixonada” DR

Ao longo da conversa, Diana admitiu ter mantido uma relação extraconjugal com o instrutor de equitação, James Hewitt, discorreu sobre as infidelidades de Carlos — “Havia três neste casamento, era gente a mais”, numa alusão a Camilla Parker-Bowles, que viria a casar com o herdeiro da coroa. Mas falou sobretudo de si: da bulimia e das depressões que sofreu.

Já divorciada, foram-lhe conhecidos dois relacionamentos românticos: com o médico cardiologista paquistanês Hasnat Khanman (uma relação retratada pelo premiado realizador alemão Oliver Hirschbiegel em Diana, de 2013) e com o milionário egípcio Dodi Al-Fayed, filho de Mohamed al-Fayed e então herdeiro da cadeia de lojas Harrods.

Estava com o último, quando se deu o fatídico acidente de viação. Às primeiras horas do dia 31 de Agosto de 1997, após um jantar no Ritz de Paris, o casal entrou no carro em direcção ao apartamento de Al-Fayed. Mas o condutor, que a investigação determinou estar embriagado, acabou por perder o controlo da viatura, a limusine Mercedes-Benz W140, no túnel da Ponte de l'Alma, quando seguia em excesso de velocidade para escapar às câmaras fotográficas dos paparazzi, que os perseguiam — e que continuaram a captar imagens imediatamente após o acidente.

Diana, Dodi Al-Fayed e o condutor morreram; apenas sobreviveu, com ferimentos graves, o guarda-costas dos dois, Trevor Rees-Jones, que era o único que tinha o cinto de segurança posto. A princesa tinha 36 anos.

Sugerir correcção
Comentar