Modelo, empresária, designer, autora. Ivana, que manteve o apelido Trump mesmo após o divórcio, há 30 anos, morreu esta quinta-feira no seu apartamento em Manhattan, Nova Iorque, depois de ter sido emitido um pedido de socorro que levou os bombeiros da cidade a enviarem uma equipa de paramédicos ao local, por volta das 12h (17h, em Lisboa), conforme avança a ABC News. Tinha 73 anos e deixa três filhos, todos da união com o antigo Presidente norte-americano: Donald Jr., Ivanka e Eric.
“Entristece-me muito informar todos aqueles que a amavam, que são muitos, que Ivana Trump morreu na sua casa em Nova Iorque”, escreveu Donald Trump na plataforma Truth Social. “Era uma mulher maravilhosa, bela e espantosa, que levava uma vida grande e inspiradora. O seu orgulho e alegria eram os seus três filhos, Donald Jr., Ivanka, e Eric. Ela sentia tanto orgulho neles, como todos nós sentíamos orgulho dela.”
O anúncio emocionado não é de espantar. Foi ao lado de Ivana que Donald Trump se estabeleceu como uma figura mediática na cena nova-iorquina, ao mesmo tempo que construía um império que o levaria, já sem a checo-americana ao seu lado, à Casa Branca.
Ivana nasceu a 20 de Fevereiro de 1949, em Zlín, Morávia, região pertencente à antiga Checoslováquia (actual Chéquia). Foi por aqui que deu os primeiros passos no esqui, integrando a equipa nacional júnior, o que lhe permitiu conhecer o que acontecia para lá da Cortina de Ferro, que mantinha o Leste Europeu sem acesso a informação.
O salto para a ribalta dá-se em 1970, quando aparece na Televisão Checoslovaca, na série de televisão infantil Pan Tau. Mas Ivana ambicionava chegar mais longe e a oportunidade dá-se com o casamento com Alfred Winklmayr, um instrutor de esqui austríaco, o que lhe permitiu obter a cidadania de um país que lhe abria o mundo sem que fosse acusada de deserção.
Não demorou muito entre ter o passaporte com nacionalidade austríaca e o divórcio de Winklmayr, que, entretanto, se tinha mudado para Los Angeles, Califórnia, para ensinar as artes do esqui. A sua biografia dá conta que, por esta altura, envolveu-se com o letrista e dramaturgo checo Jiří Štaidl. Porém, a morte precoce do amante, num acidente em 1973, leva-a a cruzar o oceano, rumo ao Canadá, onde se envolveu com o artista visual Jiři Syrovatka e iniciou o seu percurso nas passerelles — um trabalho e não uma carreira, como esclareceu à Montreal Gazette, em 1975.
Mas, mesmo não levando a vida de modelo a sério, a actividade abriu-lhe portas inesperadas: fez parte da promoção dos Jogos Olímpicos de Verão de Montreal, em 1976, o mesmo ano em que conheceu Donald Trump. Terá sido um encontro feliz: a 7 de Abril de 1977, casaram-se e transformaram-se num dos casais mais glamorosos de Nova Iorque, ao mesmo tempo que cresciam juntos como empresários, investindo em projectos como a Trump Tower na Quinta Avenida, em Manhattan, ou na construção do Resort do Casino Trump Taj Mahal em Atlantic City, New Jersey. Ivana é, aliás, descrita no documentário Trump: Um Sonho Americano, da Netflix, como sendo “viciada no trabalho”, mas ao mesmo tempo “uma igual” ao lado de Trump.
O casal teve três filhos, Donald Jr., nascido a 31 de Dezembro de 1977, Ivanka (n. 30 de Outubro de 1981) e Eric (n. 6 de Janeiro de 1984). Mas o quadro idílico viria a ter um fim abrupto. Em 1989, durante as férias de Natal em Aspen, Colorado, as discussões intensificaram-se por Ivana ter apanhado Donald Trump com Marla Maples, que esteve casada com o milionário entre 1993 e 1999. Mas antes correu muita tinta, com um duro litígio entre os dois empresários, o que não passou ao lado dos órgãos de comunicação social do mundo inteiro.
O divórcio acabou por sair, em 1992. Mas, para tal, Ivana teve de assinar um acordo de confidencialidade para receber, segundo o New York Times, 14 milhões de dólares, uma mansão de 45 quartos no Connecticut, um apartamento na Praça Trump e o uso de Mar-a-Lago, Palm Beach, Flórida, durante um mês por ano.
Depois de Trump e com um currículo recheado (foi executiva sénior e vice-presidente executiva para o design de interiores e presidente do Hotel e Casino Trump Castle em Atlantic City), Ivana dedicou-se a criar colecções de roupa, jóias e produtos de beleza. O regresso à Europa deu-se via Croácia, com a compra de 33% do segundo maior jornal diário do país, em 1998.
Pelo caminho, publicou vários livros, incluindo For Love Alone (1992), Free to Love (1993) e The Best Is Yet to Come: Coping with Divorce and Enjoying Life Again (1995). E, no final daquela década, lançou a sua própria revista de lifestyle.
A vida romântica da antiga modelo também não ficou estagnada. Em 1995, casou-se com o empresário italiano Riccardo Mazzucchelli. Dois anos depois, chegou o divórcio e um novo interesse: o aristocrata italiano Roffredo Gaetani dell'Aquila d'Aragona Lovatelli, com quem se casou em 2008, numa festa organizada pelo ex-marido Donald Trump em Mar-a-Lago. O enlace oficial não durou mais que um ano, mas a relação arrastou-se até 2019. Em 2021, o conde morreu.
A autobiografia chegou em 2017. Em Raising Trump, falou dos seus primeiros anos de vida, mas também da educação da prole Trump. “Ivana Trump foi uma sobrevivente. Fugiu do comunismo e abraçou este país. Ensinou aos seus filhos a coragem e dureza, compaixão e determinação”, testemunhou a família Trump numa declaração citada pela ABC News.