Turquia e ONU tentam desbloquear a exportação de cereais da Ucrânia
Reunião de quatro interlocutores terminou sem novidades, mas a Ucrânia acredita que um acordo pode estar próximo – se a Rússia quiser. Erdogan e Putin encontram-se em Teerão na terça-feira.
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Militares russos e ucranianos reuniram-se na quarta-feira em Istambul com homólogos turcos e uma delegação da ONU para tentar desbloquear a exportação de cereais da Ucrânia. O encontro terminou ao fim de três horas sem que nenhuma das partes explicasse se foram feitos progressos.
O ministro da Defesa turco explicou à AFP que as negociações deviam permanecer “confidenciais” até que um acordo seja alcançado. Para que isso aconteça, a Ucrânia quer garantias de que a Rússia não vai aproveitar a oportunidade para atacar Odessa, enquanto a Rússia insiste que todos os navios que transportem cereais devem ser fiscalizados previamente para garantir que não são usados para enviar armas e outro material militar.
O plano proposto pela Turquia e pela ONU prevê a criação de três corredores seguros no mar Negro, contornando as minas marítimas colocadas em redor do porto de Odessa. Em Istambul deverá ficar instalado um centro de comando da operação, com funcionários turcos e da ONU, e em cima da mesa está a hipótese de os navios mercantes serem escoltados por navios de guerra de países terceiros – como a Turquia.
Uma solução semelhante fôra proposta pela Estónia e Lituânia em meados de Maio, mas esse plano não foi negociado com a Rússia e gerou receios de um aumento de tensão entre o Ocidente e o Kremlin. A pedido da ONU, a Turquia tem conduzido esforços diplomáticos com vista a ultrapassar o bloqueio, que está a provocar um aumento global dos preços dos cereais e escassez em países de África e do Médio Oriente.
“Estamos a trabalhar arduamente, mas ainda há muito caminho pela frente”, disse na terça-feira o secretário-geral da ONU, António Guterres. Em entrevista ao El País, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia disse que um acordo está “a dois passos” de ser alcançado, mas que “tudo depende da Rússia”. “Se eles realmente quiserem, as exportações de cereais começarão imediatamente”, afirmou Dmitro Kuleba, acrescentando: “A Rússia não está interessada em que a Ucrânia exporte porque sabem que, se exportarmos, recebemos verbas dos mercados internacionais e isto far-nos-á mais fortes.”
A Ucrânia é um dos maiores exportadores mundiais de milho, cevada e óleo de girassol, sendo ainda responsável, em conjunto com a Rússia, por 30% da produção mundial de trigo. O sector agrícola representa 10% do PIB ucraniano e calcula-se que haja 20 milhões de toneladas de cereais prontas a sair do país. À excepção de Odessa, a Rússia controla todos os outros portos ucranianos importantes nas costas do mar Negro e do mar de Azov.
Segundo fontes diplomáticas turcas, Ancara tem 20 navios de carga no mar Negro prontos a embarcar os cereais retidos na Ucrânia. Na próxima semana, Recep Tayyip Erdogan e Vladimir Putin encontram-se pessoalmente em Teerão e esse poderá ser o cenário para o anúncio público de um acordo.
A visita dos dois líderes ao Irão tem como objectivo discutir a situação na Síria e não servirá para Putin negociar a compra de drones com o regime de Teerão, disse esta quarta-feira o seu porta-voz, Dmitri Peskov. O conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, afirmou na terça que o Irão vai fornecer “centenas de drones num prazo muito curto” à Rússia, mas Peskov recusou-se a comentar a declaração.
Quem comentou foi o porta-voz dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanani: “A cooperação tecnológica [com a Rússia] existe desde antes dos acontecimentos na Ucrânia e não há nenhum desenvolvimento a registar nesse domínio recentemente.”