Vinhos do Tejo: frescura e equilíbrio junto ao rio

A proximidade ao rio e a versatilidade do terroir dão à Região Vitivinícola do Tejo, uma das mais antigas zonas vínicas do País, um carácter transversal, com vinhos elegantes e equilibrados, frescos e frutados. Um legado que já acumula quatro milénios.

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GONCALO VILLAVERDE
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Há quatro milénios, quando os Tartessos – nome dado pelos gregos à primeira civilização ibérica – plantaram as primeiras vinhas junto às margens do Tejo, estavam a criar uma das mais antigas regiões vínicas do País. Desde então, a evolução e crescimento da Região Vitivinícola do Tejo elevaram-na a novos palcos. E aqui, os números não mentem: 61 milhões de litros vinificados ao ano, em curva ascendente, e doze mil hectares de vinha espalhados por 21 concelhos nos distritos de Lisboa e Santarém, num território cortado a meio pelo Tejo, um dos maiores rios nacionais, e um dos principais influenciadores do produto final.

Banhado pelo rio, o terroir único aliado aos dias quentes e noites mais frias, além de a uma graduação alcoólica moderada, cria vinhos equilibrados e frescos, com aromas frutados, tornando os Vinhos do Tejo presença regular à mesa, em qualquer altura do ano e emparelhando com qualquer refeição. Nos brancos nota-se um perfil aromático, fresco e elegante, com presença de fruta tropical e cítrica. Já nos tintos de guarda, há equilíbrio e taninos elegantes, com fruta no aroma e a madeira presente, de forma discreta. Rosés, espumantes, frisantes, licorosos e colheitas tardias completam o portfólio de uma região demarcada onde se destacam as referências DOC (Denominação de Origem Controlada) do Tejo e IGP (Indicação Geográfica Protegida) Tejo.

Uma das razões que explica a transversalidade do apelo dos Vinhos do Tejo é o seu terroir versátil, marcado ao longo do Tejo em três zonas distintas. Localizado a Norte e leste do rio, com a Serra de Montejunto a Este e o sopé das cordilheiras da Serra de Aire e dos Candeeiros a Norte, o bairro distingue-se pelos seus solos argilo-calcários e alguns xistosos, condições perfeitas para os tintos. Já na charneca, a sul e sudeste do Tejo, dominam terrenos arenosos e menos férteis que, associados a temperaturas mais elevadas, aceleram a maturação da uva e originam vinhos mais concentrados. Já no campo, com terras mais férteis situadas em zonas de aluvião, predominam as produções dos brancos.

Uma casta branca rainha na região

E falar em vinhos brancos é falar na casta-rainha desta zona. Entre as autóctones, a Fernão Pires (também conhecida como Maria Gomes) é a casta mais expressiva da Região Vitivinícola do Tejo, com aroma frutado e floral e acidez média a oferecer-lhe frescura. Uma das suas mais-valias reside na elevada capacidade produtiva, boa precocidade e intensidade aromática.

Ainda nos brancos, destaque para castas como Arinto, Verdelho, Alvarinho, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Já nos tintos, dá-se primazia a castas como o Castelão, Trincadeira, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Syrah, Cabernet Sauvignon e Aragonez.

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Uma rota para descobrir os vinhos locais

Chama-se Tejo Wine Route 118 e surgiu há um ano, para dar a conhecer os produtores locais. A rota soma 150 quilómetros, ao longo da EN118 – que atravessa a região vínica ao longo da margem esquerda do rio – e é um dos reforços do enoturismo da Região Tejo. Visita a vinhas, adegas e quintas, prova de vinhos, refeições, alojamento e zonas de loja para abastecer a garrafeira em casa são algumas das actividades que se podem fazer. “O vinho dará o mote e será o elemento agregador para exploração do território e de momentos de partilha, em família ou entre amigos, enófilos ou não”, explica João Silvestre, director-geral da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, que criou a iniciativa, em parceria com o Turismo do Alentejo e do Ribatejo. Basta saber mais aqui.

Tradição à mesa e património histórico

E se os vinhos são presença garantida numa mesa portuguesa que se preze, o mesmo se aplica ao receituário tradicional. Na Região Tejo, o cálice de Baco acompanha clássicos como a sopa da pedra, ex-líbris de Almeirim, cabrito assado em alho, favas com chouriço, fatias de Tomar ou doces conventuais como pampilhos e celestes. As enguias do Tejo e o cultivo de arroz e tomate também se traduzem à mesa, tal como acontece com produtos como o Queijo de Tomar e da Maçussa, ou os melões doces de Almeirim e Alpiarça.

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Ao ar livre, não faltam opções de passeio para apreciar a diversidade arquitectónica e cultural da zona, do estilo gótico que domina em Santarém a tesouros manuelinos como o Castelo Templário e o Convento de Cristo, em Tomar, classificados Património da Humanidade pela UNESCO. A capital da cortiça, Coruche, está ali mesmo, tal como a Golegã, capital do cavalo, as salinas de Rio Maior ou, entre outras, Constância, terra de Camões.

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