O fogo regressou ao centro, expulsou centenas das suas casas e cortou auto-estradas
As chamas reacenderam-se em Ourém na manhã desta terça-feira, obrigaram ao fecho da A1, IC2, IC8 e EN350, levaram à evacuação de localidades em Leiria e à retirada de centenas de pessoas das suas casas. Em Alvaiázere, já arderam habitações.
A noite tinha sido de descanso para a população de Ourém, o incêndio que começara na tarde da última quinta-feira estava já em fase de rescaldo. Mas chamas reacenderam-se nesta terça-feira no distrito de Leiria, perto da fronteira com Santarém, e voltaram a causar sobressalto. Durante a tarde, foram evacuadas as localidades de Figueiras e Mata dos Milagres, no município de Leiria, e retiradas populações de Alvaiázere. Os cinco incêndios activos na região ganharam tal dimensão que obrigaram ao corte da A1 e do IC2 em ambos os sentidos, do IC8 e da nacional 350 — durante a madrugada, a circulação foi restabelecida na A1 e IC8.
De acordo com a Protecção Civil, num ponto de situação feito às 19h, já tinham sido retiradas 300 pessoas da antiga freguesia de Freixianda, em Ourém, a poucos quilómetros da Cumeada, onde começou o incêndio na semana passada. Pelo menos nove casas ficaram danificadas — cinco no distrito de Santarém e quatro já em Leiria. Ainda assim, explicou o autarca de Ourém, Luís Albuquerque, o fogo lavrou, “essencialmente, em zonas de mato, pinheiro e eucalipto”. De acordo com a Polícia Judiciária, o incêndio terá sido provocado. O principal suspeito, um homem de 45 anos já condenado por crimes semelhantes, foi detido nesta segunda-feira.
Já em Leiria, a autarquia pediu aos moradores das localidades entre Figueiras e Mata dos Milagres, na freguesia de Milagres, que se deslocassem para o pavilhão dos Pousos ou para o Estádio Municipal. Pelas 16h30, o presidente da junta, Mário Gomes, afirmou que não existiam casas ardidas, mas “muita coisa destruída pelo fogo”.
No centro de Portugal continental, mantinham-se, no final desta terça-feira, cinco incêndios activos. Os que motivavam maior preocupação eram os fogos de Ourém, que atravessaram a fronteira entre Santarém e Leiria; e o incêndio em Pombal. O alerta de reactivação do incêndio de Ourém, que já tinha provocado dezenas de feridos na semana passada, foi dado pelo Centro de Coordenação Operacional de Santarém às 12h08 desta terça-feira. Na noite de segunda-feira, às 21h49, era dado como dominado e estava em fase de rescaldo, ainda que com possibilidade de reactivação. As chamas, porém, reacenderam-se na localidade de Avanteira, em Alvaiázere, já no distrito de Leiria, tornando-se de novo no incêndio que obrigou a uma maior mobilização de operacionais, meios terrestres e aéreos no país.
O autarca de Alvaiázere, João Guerreiro, avançou que várias habitações arderam no município e “diversas localidades foram evacuadas”, numa situação que descreveu como “muito complicada” no concelho. “Como há outros incêndios na região, não nos são disponibilizados mais meios”, lamentou em declarações à Lusa.
Quanto ao incêndio em Pombal, que teve início na última sexta-feira e entrou esta segunda-feira em fase de rescaldo, reacendeu-se também de tarde e já se estendia a Ansião. “O incêndio está agora numa fase muito difícil de combate e os operacionais no terreno aguardam o reforço de meios”, afirmou à agência Lusa o presidente da Câmara de Ansião, António José Domingues. Às 20h30 desta terça-feira, contavam-se no terreno 248 operacionais, 67 veículos e duas aeronaves.
A A1 cortada a meio
As várias frentes destes fogos, que já consumiram milhares de hectares, obrigaram ao corte da A1 nos dois sentidos entre Leiria e Pombal, perto das localidades de Santa Eugénia e Raposeira. O dia terminou sem previsão de reabertura ao trânsito na A1, encerrada às 14h. O IC2 também foi fechado em ambos os sentidos, entre as localidades de Barracão e Figueiras. Além disso, estiveram cortados o IC8, de Pombal até Ansião, e a EN350. As melhores alternativas eram a A17 ou a nacional 109, informou a GNR de Leiria.
Dos cinco incêndios activos, três novos deflagraram nas regiões de Leiria e Santarém durante a tarde desta terça-feira. Um na freguesia de Caranguejeira, que às 21h mobilizava 359 operacionais, 103 veículos e uma aeronave, depois de as restantes deixarem o local ao anoitecer. O segundo em Espite, Ourém, que lavrava numa zona de mato com 350 operacionais, 97 meios terrestres e duas aeronaves a combater as chamas. O menor, e activo há menos tempo, avançava em Regueira de Pontes e exigia, também às 21h, a presença de 107 operacionais e 34 veículos.
A população também combate o fogo em lugares onde não chegam os bombeiros e faltam “mais meios aéreos”: Agodim, em Pombal; e Freixianda, em Ourém.
O autarca de Pombal, que comparou a situação à tragédia de Pedrógão Grande, pediu “mais meios aéreos, carros de combate, bombeiros”. Pedro Pimpão disse ainda à SIC que existiam feridos, sem acrescentar detalhes, e lamentou que as equipas no terreno sejam “manifestamente insuficientes para o que se está a viver”. “Enquanto país, devíamos estar muito mais bem preparados.” A Protecção Civil sublinha que a prioridade é salvar vidas e evacuar zonas em risco, mas diz ser “natural” que, por vezes, “não existam meios”, considerando a dimensão dos incêndios activos.
O Governo já decretou situação de contingência até às 23h59 de sexta-feira em todo o continente, sendo que, até lá, o risco de incêndio se irá agravando diariamente. O risco máximo de incêndio vai abranger um total de 133 concelhos do país na sexta-feira, 15 de Julho. São raros os municípios que terão perigo de incêndio rural moderado ou reduzido, todos no litoral dos distritos de Aveiro, Porto e Braga.
Protecção Civil reforça meios de combate ao fogo
A Protecção Civil activou o reforço de meios para o combate aos incêndios que lavravam em Leiria e Santarém, com mais 727 operacionais prontos para actuar no terreno. Além dos bombeiros, serão mobilizados dois pelotões militares (44 militares no total) e meios do INEM, explicou André Fernandes, comandante Nacional de Emergência e Protecção Civil, no mais recente ponto de situação, às 19h desta terça. No total, estavam a combater as chamas em Portugal 1360 operacionais, 390 veículos e 19 aeronaves.
Desde 7 de Julho, os incêndios provocaram 82 feridos, mas até ao momento apenas foi registado um ferido grave, confirmou André Fernandes. “Esta é uma situação extrema, uma situação meteorológica nunca experienciada e o uso do fogo tem de ser zero”, apelou.
O comandante esclareceu ainda que “a temperatura e a humidade relativa baixa” dificultam o combate às chamas, mesmo que o vento diminua durante a noite. Estando prevista uma subida das temperaturas máximas amanhã, com 16 distritos sob aviso vermelho do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, é possível que a reactivação de incêndios já controlados se repita.
Para lá de Santarém e Leiria, outro incêndio deflagrou mais a sul na tarde desta terça-feira, numa área agrícola de Serpa, no Alentejo. Às 21h, estavam no local 93 operacionais, apoiados por 34 veículos.