A seca e as temperaturas muito quentes poderão provocar uma “quebra de produção assinalável” de vinho nesta vindima na Região Demarcada do Douro, adiantou esta terça-feira a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID).
O ano de 2022 é de incertezas para a mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo — o Douro — devido às condições que se fazem sentir, como a falta de água, que provoca stress hídrico na videira, e o calor intenso.
“O que nós verificamos foi que as temperaturas muito elevadas levaram ao desavinho [acidente fisiológico em que não ocorre a transformação das flores em fruto], a secura a uma menor expansão da parede vegetativa (folhas) e a bagos mais pequenos”, explicou Rosa Amador, directora-geral da ADVID, com sede em Vila Real, perspectivando uma “quebra de produção assinalável” neste território.
A associação divulgou a previsão de produção para a vindima de 2022, que se situa num intervalo entre as 262 mil e as 287 mil pipas de vinho. No entanto, Rosa Amador advertiu que, neste momento, “já não se considera que a produção atinja o intervalo mínimo das 262 mil pipas de vinho”. “É muito difícil fazer a previsão de qual é a quebra”, admitiu a responsável.
No ano passado, a produção declarada de vinho no Douro atingiu as 264 mil pipas.
A responsável explicou que as previsões da ADVID são baseadas no método de pólen recolhido na fase de floração da videira, entre Maio e Junho, nas três sub-regiões do Douro (Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior) e, por isso, não têm em consideração os factores pós-florais, que podem alterar o potencial de colheita. “Este ano a nascença foi muito boa. O potencial produtivo era muito bom”, apontou.
O Inverno e a Primavera já foram secos, no entanto, entre Junho e Julho as condições ficaram ainda mais adversas e, segundo a responsável, as previsões indicam que esta será uma semana de “condições de escaldão”, em que o bago fica queimado.
Em contrapartida, 2022 é um ano sem problemas a nível de doenças e pragas na vinha.
Segundo Rosa Amador, 2017 foi um ano com “previsões muito idênticas” e nesse ano a produção de vinho foi de 232 mil pipas e a previsão, no intervalo mínimo, era de 255 mil pipas.
“Não sabemos se a quebra este ano não pode ainda ser maior tendo em conta o que ainda falta [até à vindima]. A maturação está, agora, a iniciar-se e o bago já está mais pequeno e nalgumas situações, ainda pontuais, já estamos a verificar paragens de crescimento, na maturação, por causa da temperatura”, referiu. Acrescentando que, “mesmo nas situações regadas, as condições são bastante adversas”
“A videira, com temperaturas elevadas, adapta-se. Adaptou-se com o desavinho, manda cachos fora, adaptou-se com a parede vegetativa mais reduzida e adaptou-se com os bagos mais pequeninos, ela vai-se adaptando. O problema é que a produção vai diminuindo”, apontou.
As maiores dificuldades poder-se-ão sentir no Douro Superior e nas zonas mais baixas do Cima Corgo.
Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), mais de um quarto do território do continente estava no final de Junho em seca extrema (28,4%), verificando-se um aumento em particular na região Sul e em alguns locais do interior Norte e Centro.
As previsões de vindima são um dos parâmetros avaliados pelo conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) para definir o benefício, ou seja, a quantidade de mosto que cada produtor pode transformar em vinho do Porto. O interprofissional deverá fixar o benefício ainda este mês. Para a vindima de 2021, o benefício foi de 104 mil pipas (550 litros cada).