PCP insiste perante o Governo que inflação só é contrariada com melhores salários
Partidos da oposição criticaram o executivo pela ausência de respostas à degradação do poder de compra das famílias.
O deputado comunista Bruno Dias justificou esta quinta-feira a interpelação feita pelo partido ao Governo, no Parlamento, com a necessidade de valorizar todos os salários, já que os aumentos dos últimos meses acabaram anulados pela inflação.
Na intervenção de abertura da interpelação do PCP ao Governo sobre política geral, mas com um enfoque específico na inflação e degradação das condições de vida dos portugueses, Bruno Dias argumentou que, “com a escalada dos preços, muitos dos aumentos salariais”, entre os quais o do salário mínimo para 705 euros, “já foram anulados pela inflação nestes últimos meses”.
Perante os ministros da Economia e do Mar, António Costa Silva, e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, o deputado comunista advogou que o aumento do custo de vida só pode ser contrariado com o aumento do salário mínimo para 850 euros “no curto prazo” e com a erradicação “da praga da precariedade”.
O deputado culpou o executivo socialista pela imposição do que “está a ser na prática” um “corte de salários e pensões”, uma vez que, na ótica do PCP, o Governo recusou aumentar salários quando a inflação era baixa “porque não era preciso”, mas “quando os preços dispararam, não se aumenta os salários por causa da inflação”.
“Senhores membros do Governo... Então como é?! Se dizem agora o contrário do que nos andaram a dizer, que explicação têm agora para manter esse esmagamento de salários?”, questionou Bruno Dias.
A par com estas medidas, o deputado considerou que “não é aceitável que, perante a espiral de aumentos de preços”, o Governo “recuse medidas de controlo e fixação de preços, em especial de bens e serviços essenciais”.
“O Governo está em funções há 100 dias, mas as ilusões que pudessem existir sobre a maioria absoluta do PS já ficaram pelo caminho há muito tempo”, completou.
Oposição lamenta falta de respostas
O bloquista José Soeiro insurgiu-se contra o apoio ao cabaz alimentar no valor de 60 euros por família, que “não compensa o efeito da inflação” e também não abrange o conjunto de trabalhadores que dele necessitam. “O que o Governo tem para oferecer é uma humilhação”, vincou o deputado do BE, acusando o Governo de praticar uma “política de complacência” com o aumento das desigualdades.
À direita, o deputado social-democrata Nuno Carvalho disse não saber em que país vivem os ministros de António Costa e recorreu à ironia para falar daquilo que o partido diz ser a incapacidade do executivo para levar o país a bom porto. “Senhores ministros, digam lá, vocês não sabem o que fazer com a maioria absoluta, pois não? Parecem uma criança dentro de um carro desportivo. É tudo muito bonito, mas não chegam com os pés aos pedais”, comentou.
O líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, reagiu às intervenções do PCP ao longo do debate, afirmando que o discurso poderia ter sido feito por históricos comunistas, como Álvaro Cunhal, Octávio Pato ou Carlos Brito.
“O PCP não evoluiu nada, continua sempre no mesmo discurso, sempre com a mesma cassete. O que o senhor deputado Bruno Dias se esqueceu de dizer (...) foi que estamos a viver um aumento brutal de preços, e porquê esse aumento brutal de preços? Por uma guerra, por uma guerra que o PCP é o único partido aqui dentro deste Parlamento que não foi capaz de condenar”, criticou.
Pela IL, o presidente do partido, João Cotrim de Figueiredo, argumentou que o PS “não vai conseguir explicar como é que num ano como o de 2022, com imensas dificuldades” para os portugueses, “não há baixa de impostos”.
A degradação das condições de vida dos portugueses e a inacção do Governo, no entender dos liberais, “vai ser mais um exemplo de como gostam [os socialistas] de fazer brilharetes com o dinheiro dos outros”, completou Cotrim de Figueiredo.
Depois de um debate de mais de duas horas, o ministro da Economia citou o filósofo israelita Yuval Harari para resumir as intervenções que ouviu ao longo da tarde: “A espécie humana tende a pensar com base em narrativas e não em factos, não em números, não em equações.”
“O que trazemos aqui são factos, são números e se quiserem, no futuro, equações”, respondeu Costa Silva, que considerou as palavras de todos os partidos jogos de “demagogia” e de “exploração das dificuldades” dos portugueses.