E depois de Boris? Um guia sobre a escolha do novo primeiro-ministro britânico
Processo desenrola-se por etapas e pode durar várias semanas. Tradicionalmente, o primeiro-ministro mantém-se no cargo até à escolha de um sucessor, mas pode abandonar as funções antes disso.
Com a anunciada renúncia de Boris Johnson ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, desencadear-se-á o processo de sucessão na liderança do Partido Conservador e, por inerência, do Governo britânico.
Como se escolhe o novo líder conservador?
A nomeação de um novo primeiro-ministro é um processo por etapas que pode demorar várias semanas.
Primeiro, os interessados apresentam a sua candidatura à liderança do Partido Conservador. Para tal precisam do apoio de, no mínimo, oito deputados conservadores.
Os deputados realizam, de seguida, várias votações destinadas a reduzir o número de candidatos. Na primeira ronda, todos os candidatos que obtenham menos de 18 votos são eliminados. Na segunda, todos os que obtenham menos de 36 votos saem da corrida. Se todos estiverem acima deste limiar, é o candidato com menos votos que é eliminado
O processo repete-se até que restem dois candidatos. Anteriormente, as votações eram realizadas todas as terças e quintas-feiras, mas a Câmara dos Comuns entrará no período de férias parlamentares de Verão a 21 de Julho, pelo que o processo deverá ser acelerado.
Os dois últimos candidatos serão então submetidos a uma votação por correspondência de todos os membros do Partido Conservador, com o vencedor a ser nomeado o novo líder.
O líder do partido com maioria na Câmara dos Comuns é o primeiro-ministro de facto. Ele ou ela não é obrigado a convocar eleições antecipadas, mas tem o poder para o fazer.
Quanto tempo vai demorar o processo?
A duração do processo para escolher um novo líder pode variar, dependendo de quantas pessoas se apresentarem à votação. Theresa May tornou-se líder em menos de três semanas depois da renúncia de David Cameron em 2016 e de todos os outros candidatos terem desistido a meio da corrida.
Boris Johnson enfrentou o ex-ministro da Saúde Jeremy Hunt na corrida final à sucessão de Theresa May em 2019 e assumiu o cargo dois meses depois de May ter anunciado a sua intenção de renunciar à liderança dos tories.
A imprensa britânica aponta pelo menos 13 putativos candidatos à liderança, mas nenhum deles anunciou essa intenção até ao momento.
Boris Johnson vai manter-se em funções?
Tradicionalmente, o primeiro-ministro demissionário mantém-se no cargo até que o seu sucessor esteja escolhido. Boris Johnson anunciou que tenciona fazê-lo, mas há vozes no Partido Conservador (e não só) a pedirem a sua partida imediata de Downing Street.
Nessa situação, Johnson teria de propor à rainha o nome de alguém que o substituísse até à conclusão do processo de sucessão.
Vai haver eleições antecipadas?
Quem quer que venha a tornar-se primeiro-ministro pode convocar novas eleições, uma vez que tem a maioria na Câmara dos Comuns. Essa decisão é geralmente tomada tendo em vista a legitimação do chefe do Governo e o reforço da maioria parlamentar, mas nem sempre corre bem.
Em 2017, Theresa May marcou eleições antecipadas para garantir estabilidade no período de negociação dos acordos do “Brexit”. Ganhou o escrutínio, mantendo os tories como força maioritária, mas perdeu 13 deputados face à anterior composição da Câmara dos Comuns.