Temporada do São Carlos com cinco novas produções e duas estreias de compositores nacionais
Entre as seis óperas da temporada, conta-se Blimunda, de Asio Corghi, a partir de Saramago, numa encenação de Nuno Carinhas. Elisabete Matos, a directora artística, está a dois meses de terminar o actual mandato.
A próxima temporada lírica e sinfónica do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) contará com duas estreias de compositores nacionais, uma ópera de Sérgio Azevedo e uma sinfonia de Nuno Côrte-Real.
Numa temporada lírica composta por seis óperas, a apresentar entre Outubro deste ano e Junho de 2023, o único teatro de ópera nacional procurou uma programação “plural”, combinando duas obras contemporâneas – uma delas a encomenda a Sérgio Azevedo – com grandes peças de repertório que não têm sido encenadas nos últimos anos no TNSC, como é o caso de Blimunda, de Asio Corghi, Der fliegende Holländer, de Wagner, ou Lucia di Lammermoor, de Donizetti.
Entre as seis óperas da temporada, há cinco novas produções do São Carlos, que serão interpretadas pelos dois corpos artísticos da sala do Chiado – a Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP) e o Coro do TNSC – que viram recentemente renovadas as suas lideranças, com os italianos Antonio Pirolli e Giampaolo Vessella como maestros titulares, respectivamente.
A ópera O Rouxinol, de Sérgio Azevedo, destina-se ao público infantil e tem a estreia marcada para 29 de Janeiro, com direcção musical do maestro João Paulo Santos e encenação de Mário João Alves. A outra ópera contemporânea é uma nova produção de Blimunda, com libreto baseado no Memorial do Convento, de José Saramago, obra que já não era apresentada no São Carlos desde a sua estreia em Lisboa em 1991. Sob a direcção musical do maestro José Eduardo Gomes e com encenação de Nuno Carinhas, encerra as comemorações do centenário do nascimento do escritor português com récitas previstas para 11, 14 e 16 de Novembro.
O TNSC destaca que desde 2011 não apresentava uma ópera para o público infantil, num projecto “muito acarinhado” pela directora artística Elisabete Matos.
Com encenação igualmente de Mário João Alves, a ópera O Elixir do Amor, de Donizetti, abre a temporada lírica, a 1 de Outubro (com mais três récitas a 3, 6 e 8), noutra produção do São Carlos. A temporada lírica fica completa com O Trovador, de Verdi, numa encenação de Stefano Vizioli; a produção do Teatro de Trieste é a única que chega do estrangeiro.
A ópera Lucia di Lammermoor, agendada para Março, terá encenação de Alfonso Romero Mora, enquanto O Navio Fantasma estará em cena no Centro Cultural de Belém (CCB) em Abril, numa encenação de Max Hoehn. Terá direcção musical de Graeme Jenkins, o único maestro que chega do estrangeiro para dirigir uma ópera nesta temporada. Antonio Pirolli, o novo maestro titular da OSP, dirige as três óperas italianas.
Mandato a chegar ao fim
Elisabete Matos está a dois meses de terminar o actual mandato e não rejeita a possibilidade de tomar o seu lugar de deputada na Assembleia da República, disse numa entrevista à agência Lusa. A soprano foi eleita deputada pelo Partido Socialista, no círculo eleitoral de Braga, de onde é natural, nas últimas legislativas. O seu mandato como directora artística do São Carlos, iniciado em Outubro de 2019, termina a 30 de Setembro deste ano.
Sobre o futuro, disse à Lusa que não quer ser “taxativa”, fazendo um “balanço muito positivo” da sua acção no São Carlos, embora reconhecendo que ficou por criar um estúdio de ópera, “algo essencial para os cantores nacionais”, situação a que não foi alheia a pandemia. “Mas o teatro nunca fechou”, ressalvou.
Em gestão corrente desde Dezembro está a equipa de Conceição Amaral, presidente do Opart, o organismo que gere o São Carlos, a OSP e a Companhia Nacional de Bailado. Mantém-se também em funções como vogal do Opart o economista Alexandre Miguel Santos, uma vez que a outra vogal, Anne Victorino d’Almeida, pediu em Abril ao novo ministro da Cultura para sair.
Durante a temporada 23-24, a programação já deverá ser afectada pelas obras previstas para 2024-25, altura em que o edifício sofrerá “uma intervenção muito relevante”, prevendo o São Carlos apresentar-se noutras salas do país. No comunicado enviado às redacções, a direcção artística acrescenta que as cinco novas produções da temporada lírica foram “concebidas com a flexibilidade necessária para se ajustarem a palcos de diferentes dimensões”.
A temporada sinfónica e coral-sinfónica conta por sua vez com 17 concertos, com a OSP a apresentar-se também no Teatro Camões, no CCB e no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, e no Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB), em Almada, maioritariamente sob a direcção do seu maestro titular, Antonio Pirolli.
Na temporada da orquestra, destaque para a estreia absoluta no São Carlos de uma obra de Nuno Côrte-Real, Sinfonia 2022, a 13 de Janeiro. O compositor português dirige a formação num concerto em que será solista a própria directora artística Elisabete Matos. O programa inclui ainda o prelúdio de Tristão e Isolda e a transfiguração de Isolda, de Richard Wagner, e Rédemption: Morceau Symphonique, de César Franck.
No Mosteiro dos Jerónimos, a 13 de Dezembro, a OSP, sob a direcção de Nuno Côrte-Real, apresenta Tremor e Magnificat Manuelino, do próprio Côrte-Real, sendo solista a soprano Bárbara Barradas.
Elisabete Matos sublinhou o regresso à normalidade do TNSC nesta temporada, “tanto a nível operático como sinfónico e coral-sinfónico": “Voltamos ao que é importante para os nossos corpos artísticos, e voltamos a ter aquilo que distingue o TNSC, voltamos a fazer as grandes obras.”
A soprano sublinhou a presença na programação de “portugueses com qualidade e não só por serem portugueses”, desde logo com duas estreias de compositores nacionais, mas também com maestros e cantores nos diversos elencos. A soprano Rita Marques protagoniza O Elixir do Amor, Cristiana Oliveira e Cátia Moreso lideram O Trovador, que encerra a temporada lírica em Junho de 2023, enquanto Luís Gomes canta o papel de Edgardo na ópera de Donizetti. Joana Carneiro, ex-maestrina titular da OSP, volta a dirigi-la em Maio, no CCB, com um programa que inclui Ligeti, Salonen e Richard Strauss.
Elisabete Matos disse ainda à Lusa que a temporada lírica “foi pensada para dar palco aos cantores portugueses, nomeadamente os que têm carreiras internacionais”. “O TNSC [tem a obrigação de dar] a possibilidade de se apresentarem. Queremos que sejam vistos e aplaudidos pelo nosso público no auge das suas carreiras”, acrescenta a directora artística no comunicado.
Na temporada de concertos, estão previstos nomes como os do pianista António Rosado a 11 de Dezembro, sob a direcção de Pirolli, num programa inteiramente preenchido por peças de César Franck; da meio-soprano Maria Luísa de Freitas, no concerto coral-sinfónico de 18 de Março, no TMJB, e do dia seguinte no CCB, num programa que inclui Alexander Nevsky, de Sergei Prokofiev, e a suíte Belkis, Queen of Sheba, de Ottorino Respighi; ou do maestro Nuno Coelho, que dirige a OSP no seu último concerto da temporada, a 24 de Junho. Este concerto inclui Vathek, de Luís de Freitas Branco, How Slow the Wind, de Tóru Takemitsu, e La Mer, de Claude Debussy.
A temporada sinfónica inclui ainda um concerto de Natal preenchido pela Messa di Gloria, de Puccini, com o tenor Luís Gomes e o barítono André Baleiro, a dia 22 de Dezembro, no TMJB e, no dia seguinte, no Teatro Camões; e um Concerto de Páscoa, no dia 6 de Abril, no TNSC, constituído pela Sinfonia n.º 2 em dó menor, Ressurreição, de Mahler, sob a direcção de Pirolli e com a soprano Carla Caramujo e a meio-soprano Maria José Montiel.