Plano Marshall pós-guerra: o que significa?

Se a integração europeia for bem sucedida, talvez os valores europeus se tornem visíveis nas cidades, de acordo com os princípios da Nova Bauhaus europeia. Mas certamente haverá fórmulas próprias, desenhadas com a vontade da população ucraniana. Até contar com um programa de ajuda que se assemelhe ao Plano Marshall, e até à reconstrução pós-guerra, o percurso será longo, mas a promessa mantém-se.

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Conferência de Lugano, na Suíça EPA/ALESSANDRO DELLA VALLE

A 4 e 5 de Julho, em Lugano, na Suíça, discute-se a reconstrução da Ucrânia, e a expectativa aumenta com a lista dos participantes. Além da Presidente da Comissão Europeia, Ursula Van Der Leyen, são oito chefes de Governo, delegações de 37 países, vários ministros do Governo ucraniano e uma videoconferência com o presidente Volodimyr Zelenskyy, que afinal permanece na Ucrânia.

Da Conferência de Lugano sairão decisões importantes sobre a ajuda internacional a prestar àquele país, para ultrapassar a marca de destruição deixada pela guerra. Quem tiver interesse em ajudar na reconstrução, não deixará de ter em atenção o que se decidir em Lugano: quais serão as linhas de financiamento, ou a coordenação que as instituições terão entre si, dentro e fora da Europa.

Esta discussão lembra o Plano de Recuperação Europeia, mais conhecido por Plano Marshall: o programa de apoio financeiro a vários países europeus entre 1948 e 1952, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial. Foram doações e empréstimos dos EUA que ajudaram a relançar a economia europeia enquanto se mudava a face das cidades, mais modernas, mais conectadas.

Portugal também beneficiou do plano, apesar da relutância do Estado Novo em, alegadamente, deixar o país dependente dos EUA, e também o impacto na economia foi mais reduzido. Não terá sido alheio à capacidade de instituições responderem pela aplicação dos fundos e o contexto em que os estímulos tiveram lugar. Nesse sentido, a redução de barreiras alfandegárias entre vários países foi como um prelúdio da integração europeia como a conhecemos.

Discutir as ajudas internacionais para a reconstrução da Ucrânia é muito mais do que determinar a disponibilidade de financiamento. Prevê-se uma reconstrução demorada, mesmo depois dos trabalhos mais urgentes, até porque a falta de condições sanitárias favorece a propagação de doenças.

Para já, a discussão parece prematura, já que o conflito está longe de sarar. Assim, nesta fase, propostas específicas para reconstruir cidades ucranianas poderão ser questionadas. Até mesmo a associação entre a Conferência de Lugano e um novo Plano Marshall corre o risco de se tornar num lugar-comum quando, no passado ano de 1948, já a paz tinha regressado à generalidade dos países europeus.

Mesmo assim, a ajuda poderá ser bem recebida, especialmente se, à semelhança do Plano Marshall, passar predominantemente por doações que não criem pressão sobre a dívida soberana. Ao perceber de que forma o país irá beneficiar de apoio, e como será feito o controlo das ajudas, espera-se que a Conferência de Lugano tenha dado o seu contributo.

Mais tarde, outras questões irão permanecer: como será a identidade do território? Como serão tratadas as marcas da destruição, e qual será a imagem de futuro? Nessa fase de reconstrução, que certamente contará com o envolvimento da população, será também a arquitectura a contribuir para uma identidade própria, tal como o Plano Marshall ajudou a desenhar as cidades da Europa Ocidental.

Se a integração europeia for bem sucedida, talvez os valores europeus se tornem visíveis nas cidades, de acordo com os princípios da Nova Bauhaus europeia. Mas certamente haverá fórmulas próprias, desenhadas com a vontade da população ucraniana. Até contar com um programa de ajuda que se assemelhe ao Plano Marshall, e até à reconstrução pós-guerra, o percurso será longo, mas a promessa mantém-se.

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