“RankinG” versus “GniknaR”, ou como diferentes olhos podem ler os mesmos resultados
É nesta perspetiva que entendemos este ranking, como uma forma de diagnosticar dificuldades e problemas nas escolas e, em função desses indicadores, desenvolver e implementar medidas de melhoria.
Por definição, um “Ranking” é uma lista ordenada/hierarquizada segundo determinados critérios ou parâmetros. Logo, dependendo dos critérios definidos à partida, os resultados refletirão esses mesmos critérios.
Assim, se a nossa intenção é olharmos para o “RankinG” das escolas, na perspetiva de quem quer ver quais são as melhores do país, baseando essa análise nos valores obtidos pelos seus alunos nas provas de exame nacional das várias disciplinas, teremos um quadro que reflete uma determinada realidade. Acreditamos que este seja o olhar de muitas famílias do país que, pelas suas diversas razões, pretendem que os seus filhos cresçam e estejam sempre entre “os melhores”. É uma opção tão legítima como qualquer outra.
Já se nos colocarmos na posição de um decisor político local/nacional, imaginamos que o seu olhar possa incidir, exatamente, na ordem contrária à anterior, tendo como referência o pressuposto básico de que lhe cabe perceber o que está a correr menos bem e, por isso, definir e implementar medidas que visem melhorar os resultados dos “primeiros dos últimos”, nesse ranking lido ao contrário – “GniknaR”.
Agora na posição dos professores, imaginamos que aqueles cujos resultados não corresponderam ao esperado possam ter aquele sentimento de “onde é que EU falhei?”, ou, no outro extremo, “os meus alunos não trabalharam nada!”. Já no caso oposto, aquele em que os resultados alcançados corresponderam às expectativas, e isso não quer dizer que foram os melhores dos melhores, imaginamos que o grau de satisfação é enorme, aquele sentimento de dever cumprido.
Entre os dois grupos anteriores estão os Diretores, uma vez que são os primeiros decisores com o poder de alterar o estado de coisas, através das decisões que tomam a nível de escola.
A diferença entre o valor médio obtido pelos alunos da escola melhor colocada no “RankinG” da disciplina de Biologia e Geologia e a primeira escola colocada no “GniknaR” é de 7,83 valores, com a curiosidade de ambas serem escolas privadas. Nas primeiras 20 escolas do “RankinG”, apenas uma delas é uma escola pública, colocada em 2º lugar. Das primeiras 20 escolas do “GniknaR”, 7 são escolas privadas, sendo que as primeiras duas desta lista são privadas.
As explicações para os resultados são sempre muitas e de grau e natureza muito diferentes. “Ah e tal porque os alunos têm todos... explicações!”. Ou “aquela escola tem melhores resultados porque é privada”, ou “faz a seleção dos seus alunos!”. Ou, ainda, “aquela escola tem alunos cujos ambientes socioeconómicos são muito mais favoráveis!”...
Todos sabemos como essas questões são importantes mas, no final das contas, o que importa mesmo? Quais os apoios que podemos implementar nas escolas com resultados menos positivos? Que tipo de intervenção se pode fazer nessas escolas, no sentido de se melhorar a performance dos alunos, aqui entendida de acordo com os diferentes percursos existentes? Que tipo de apoios socioeconómicos podem ser criados pelos municípios e pelo poder central, no sentido de reduzir as diferenças entre aquilo que temos e aquilo que queremos para os nossos alunos?
É nesta perspetiva que entendemos este ranking, como uma forma de diagnosticar dificuldades e problemas nas escolas e, em função desses indicadores, desenvolver e implementar medidas de melhoria. E, sem preconceitos de qualquer natureza, aprender com as boas práticas desenvolvidas pelas escolas com os melhores resultados, no sentido de reproduzi-las nas restantes, adaptadas a cada uma das realidades.
Estas são algumas das situações que poderão contribuir, decisivamente, para a diminuição das diferenças que existem entre as várias realidades traduzidas por esses números. Outras, porém, escapam à Escola e estão mais centradas na Família, outro dos pilares fundamentais para o sucesso dos nossos alunos e, por isso, das gerações que estamos a criar. Porque, se é verdade que a Escola não é a única forma de um adolescente/jovem poder ascender socialmente, construindo um futuro melhor para si e para os seus, também é verdade que foi através da Escola e do sucesso nela obtido que foram criadas gerações e gerações de pessoas que conquistaram aquilo com que sonharam para si e para os seus! E, se na parte dos números temos muitas dúvidas, sobre este ponto específico da conversa temos todas as certezas do mundo, pois é algo que decorre da experiência vivida...
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico