Do príncipe britânico André a Donald Trump: os nomes poderosos no caso Ghislaine Maxwell
A ex-socialite britânica incorre numa pena de até 55 anos por crimes de tráfico sexual, incluindo de menores, num caso que fez tremer nomes poderosos.
Jeffrey Epstein (1953-2019) fez fortuna cedo, depois de se ter dedicado aos sectores bancário e financeiro, nomeadamente a trabalhar para o banco de investimentos Bear Stearns, que se afundou na crise de 2008. Mas, filho de um jardineiro e de uma auxiliar de educação, faltava-lhe um historial familiar que lhe permitisse reclamar um estatuto de intocável. Foi neste ponto que Ghislaine Maxwell fez a diferença.
Filha mais nova do magnata da imprensa britânica Robert Maxwell, que detinha títulos como o Daily Mirror, Ghislaine foi preparada desde cedo para circular entre as mais altas esferas — o pai até ambicionara casar a caçula com um Kennedy — e foi habituada a uma miríade de luxos. Porém, a herança do pai não passou de um amontoado de dívidas (entre 450 e 850 milhões de euros) e muita papelada, entre a qual terá encontrado o nome de Jeffrey Epstein, que ajudara o progenitor no desvio de fundos. Sem nada a prendê-la no Reino Unido, Ghislaine rumou aos EUA, onde se tornou namorada de Epstein, estendendo ao financeiro o tapete vermelho para os eventos onde se reunia a nata da sociedade.
Juntos, Ghislaine Maxwell e Jeffrey Epstein desfilaram ao longo de anos ao lado de presidentes, estrelas de Hollywood e até membros da realeza, recebendo estas personalidades nas suas propriedades milionárias ou dando-lhes boleia no seu jacto particular. E essas ligações, foi dito em tribunal, acabaram por servir de engodo às vítimas de abusos sexuais do casal.
De acordo com os testemunhos ouvidos, Maxwell vangloriava-se frequentemente das suas amizades próximas com Bill Clinton, com o príncipe britânico André ou com o milionário Donald Trump, que chegaria à Casa Branca em 2016. E essas referências, alegou a acusação, tinha um efeito inebriante, mas sobretudo assustador.
Depois da morte de Jeffrey Epstein, em Agosto de 2019, restou Ghislaine Maxwell para responder pelos crimes. E a mulher foi considerada culpada de cinco dos seis crimes que era acusada (apenas não foi condenada pelo crime de incitar menor a viajar para se envolver em actos sexuais ilegais). A sentença deverá ser conhecida nesta terça-feira. No entanto, houve vários nomes que acabaram por ser arrastados com o caso.
Bill Gates, uma amizade que foi um erro
Numa entrevista com Anderson Cooper, na CNN, em Agosto de 2021, o co-fundador da Microsoft considerou que “foi um grande erro” ter estabelecido uma relação com Jeffrey Epstein.
Meses antes, o anúncio do divórcio de Bill e Melinda Gates acabaria por fazer emergir a amizade entre os dois homens, apontada como a causa do fim do mediático e milionário casamento. O relacionamento de Gates com Epstein começou por volta de 2011 e dois anos depois (ou seja, cinco anos depois de Epstein ter sido condenado por solicitar sexo a uma menor) Gates terá voado com Epstein no jacto privado deste, de New Jersey para Palm Beach. O interior do jacto, baptizado de Lolita Express, terá sido adaptado para proporcionar maior conforto aos encontros sexuais do seu proprietário e convidados, nomeadamente com a inclusão de um piso almofadado, contaram duas mulheres que viajaram na aeronave à Vanity Fair.
Bill Clinton, um amigo de casa
Durante o julgamento, várias testemunhas relataram que na casa de Palm Beach, na Florida, havia fotografias de Epstein com Fidel Castro, ao lado do Papa João Paulo II; ou com Bill Clinton, quando visitou o então Presidente na Casa Branca.
Aliás, de acordo com o Daily Mail, Epstein esteve 17 vezes na Casa Branca durante o primeiro mandato de Clinton, entre 1993 e 1997.
Príncipe André, o anfitrião e hóspede
A ligação do casal Epstein e Maxwell ao terceiro filho de Isabel II parece ter sido próxima. Os dois foram convidados de André para ficarem alojados em Balmoral — e, de acordo com o The Daily Mail, a comitiva incluía várias jovens. Depois, foram convidados da festa de aniversário dos 40 anos do duque de Iorque, que foi organizada no Castelo de Windsor, e foi em casa de Ghislaine que André terá conhecido Virginia Giuffre quando esta era ainda menor.
De acordo com a queixa apresentada por Giuffre (e, entretanto, resolvida por acordo extra judicial), a jovem, então com 17 anos, foi “compelida” por Epstein, Maxwell e pelo príncipe André, através de “ameaças directas ou implícitas”, a ter relações sexuais com o duque de Iorque. “A riqueza, o poder, a posição e as relações permitiram-lhe abusar de uma criança assustada e vulnerável, sem que ninguém que a protegesse”, lia-se no documento entregue em tribunal, a que a Reuters teve acesso.
A queixosa recordava, ainda, ter sido levada por Jeffrey Epstein para Londres de propósito para conhecer André. Aí, afirmava ter sido mantida como “escrava sexual” com a ajuda de Ghislaine Maxwell.
As boleias no Lolita Express
Durante o julgamento de Maxwell, Larry Visoski, que foi o piloto do Lolita Express durante 25 anos, testemunhou que transportou, além de André, Clinton e Trump, o actor Kevin Spacey, o violinista Itzhak Perlman e os antigos senadores George Mitchell (Maine) e John Glenn (Ohio).