Após fim do direito à protecção do aborto, Billie Joe Armstrong, dos Green Day, vai renunciar à cidadania norte-americana
O cantor anunciou, num concerto em Londres, que se vai mudar para o Reino Unido, depois da reversão do direito ao aborto nos Estados Unidos. “Que se lixe a América”, disse o vocalista dos Green Day.
O vocalista dos Green Day, Billie Joe Armstrong, anunciou, durante um concerto em Londres, que vai “renunciar” à sua cidadania norte-americana, na sequência da decisão do Supremo Tribunal de derrubar Roe vs. Wade, que protegia o direito ao aborto nos Estados Unidos.
“Que se lixe a América. Vou renunciar à porra da minha cidadania. Venho para aqui”, disse Billie Joe Armstrong perante os fãs no Estádio Olímpico de Londres, esta sexta-feira, num concerto do tour Hella Mega, que reúne também as bandas Fall Out Boy e Weezer.
O cantor de punk rock acrescentou que “há demasiada estupidez no mundo para voltar àquela desculpa miserável de país”. Para não deixar dúvidas, voltou a insistir: “Não estou a gozar. Vão levar muito comigo nos próximos dias.”
Para além da cidadania norte-americana, Billie Joe Armstrong é também cidadão honorário da comuna de Viggiano, em Itália, de onde são originários os seus trisavós, desde 2018. Há muito que o músico de 50 anos é politicamente activo, tendo apoiado todos os candidatos do Partido Democrata nas presidenciais desde 2008, incluindo, mais recentemente, Joe Biden. Na sequência da eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, em 2016, chamou-o de “fascista” e “fantoche dos Illuminati”, em entrevista à revista NME.
Onda de críticas
O Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu reverter a decisão do caso Roe vs. Wade, com seis votos a favor e três contra, permitindo a proibição do aborto em vários estados norte-americanos. A decisão de 1973 tinha estabelecido o aborto como um direito protegido.
Desde a reversão que dez estados, como o Arcansas, o Kentucky, o Luisiana e o Missouri, já proibiram o aborto, depois de terem sido activadas “proibições de gatilho”, que permitem banir a prática de imediato após a decisão do Supremo. Outros cinco estados têm também proibições do género, que devem entrar em vigor dentro dos próximos dias, podendo depender da promulgação do governador, do procurador-geral ou da legislatura, segundo o The Washington Post.
Para além do vocalista dos Green Day, vários outros artistas já se pronunciaram em relação à decisão. Olivia Rodrigo disse-se “devastada e aterrorizada” durante um concerto no Festival de Glastonbury, no Reino Unido. “Tantas mulheres e tantas raparigas vão morrer por causa disto”, acrescentou. A cantora dedicou ainda uma versão da música Fuck you, da britânica Lily Allen, a cinco dos juízes do Supremo Tribunal.
Durante o mesmo festival, a cantora Lorde também criticou a reversão da protecção federal do direito ao aborto: “Que se lixe o Supremo Tribunal”. Dirigindo-se às mulheres que a estavam a ouvir, partilhou um “segredo”: “Os vossos corpos estão destinados a ser controlados e objectificados, desde o momento em que nasceram.”
Os rappers Kendrick Lamar e Megan Thee Stallion e as cantoras Billie Eilish e Phoebe Bridgers também se posicionaram contra a decisão nas suas passagens pelo festival. Megan Thee Stallion confessou-se particularmente “envergonhada” pelo “estado natal” do Texas. Phoebe Bridgers liderou um cântico de “Que se lixe o Supremo Tribunal”.
Lizzo, vencedora de três Grammys, anunciou, na sua página do Twitter, que vai doar 500 mil dólares do seu próximo tour às organizações Planned Parenthood e Abortion Funds. A produtora de eventos Live Nation prometeu igualar esse valor, duplicando a doação para um milhão.
Têm surgido múltiplos protestos nos Estados Unidos em oposição à decisão do Supremo Tribunal de Justiça, que os críticos acusam de constituir um retrocesso. O Presidente Joe Biden descreveu a reversão de Roe vs Wade como “a concretização de uma ideologia extrema e de um erro trágico por parte do Supremo Tribunal”. Biden alerta para o facto da “saúde e vida das mulheres da nação estarem em risco”.
Texto editado por Carla B. Ribeiro