Morreu Leonardo del Vecchio, o empresário italiano que deu estilo aos óculos e que detinha a Ray-Ban
Del Vecchio sobreviveu a uma infância num orfanato e acabou a amealhar milhares de milhões de euros. O italiano, que era presidente da EssilorLuxottica, morreu esta segunda-feira. Tinha 87 anos.
O empresário Leonardo del Vecchio criou a empresa de óculos que é proprietária de marcas como a Ray-Ban e usou os seus muitos milhões para se tornar uma das figuras mais influentes nas finanças italianas. Morreu esta segunda-feira, aos 87 anos.
Del Vecchio, que sobreviveu a uma infância de pobreza, tendo crescido num orfanato, tornou-se exemplo de como muitos vingaram durante a recuperação económica do pós-guerra em Itália e, segundo a Forbes, era o segundo homem mais rico de Itália, atrás apenas de Giovanni Ferrero, do grupo Nutella.
E, como é comum em Itália, Del Vecchio, o presidente do fabricante de óculos EssilorLuxottica, não se retirou calmamente, tendo intensificado a sua actividade empresarial já depois de ultrapassar a barreira dos 80 anos. Foi em 2018, com 83 anos, por exemplo, que selou um importante acordo de fusão para combinar a empresa Luxottica, que fundou em 1961, com a francesa Essilor.
Além disso, a sua holding Delfin é a maior accionista do grupo italiano de serviços financeiros Mediobanca e tem também uma participação considerável na seguradora Generali, o que o coloca no centro das intrigas da administração do país, tornando-o numa pessoa cujo desaparecimento é sentido nas mais altas esferas. “Uma figura de destaque nos negócios italianos há mais de 60 anos, Del Vecchio criou uma das maiores empresas do país vindo de um início humilde. Sempre combinou a abertura internacional com um enfoque nas questões sociais e locais”, reagiu o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi.
Também o CEO da Unicredit, Andrea Orcel, fez questão de salientar “a extraordinária liderança e visão de Leonardo” e a forma como o fez não esquecendo a projecção internacional. “Um verdadeiro empresário internacional, dedicou com sucesso toda a sua carreira ao desenvolvimento e crescimento económico, tanto em Itália como em todo o mundo.”
Do orfanato à ribalta
Del Vecchio nasceu na pobreza. O seu pai, que vendia fruta e legumes, morreu quando ainda era muito novo, e a sua mãe, na impossibilidade de lhe proporcionar conforto, entregou-o a um orfanato milanês quando ele tinha 7 anos.
Aprendeu a trabalhar com metais numa loja de ferramentas antes de montar um negócio de fornecimento de componentes para óculos em Agordo, uma aldeia no sopé das Dolomitas, no Nordeste de Itália, onde foram oferecidas terras a novas empresas.
Após um começo difícil, a empresa começou a fazer os seus próprios óculos uma década mais tarde e expandiu-se rapidamente nos anos de 1980, quando Del Vecchio descobriu o valor de fazer óculos como um acessório de moda e não como uma necessidade.
Um gestor pragmático
A partir do momento que Leonardo del Vecchio compreendeu que os óculos eram também um objecto de desejo, fez acordos de licenciamento com Giorgio Armani em 1988 e passou a trabalhar com outras marcas de luxo, como Bulgari, Chanel, Prada e Valentino.
E as relações ficaram até aos dias de hoje. “Antes de mais, perco um amigo, com quem partilhei uma longa e pioneira aventura profissional”, lamentou o designer Giorgio Armani, que completa os 88 anos no próximo dia 11. “A nossa geração viveu tempos difíceis que a endureceram: os anos de guerra e reconstrução. De Leonardo recordarei sempre a sua forma directa de comunicar, o seu pragmatismo, a sua lealdade.”
As aquisições também faziam parte da estratégia Del Vecchio. Em 1999, a empresa comprou a famosa marca Ray-Ban e passou a adquirir a Oakley da Califórnia, bem como cadeias de retalho na América do Norte e Austrália.
Como muitos empresários italianos, os críticos dizem que Del Vecchio lutou para se separar da sua criação, não cedendo o controlo nem designando um herdeiro. O empresário tem seis filhos de três relações e voltou a casar com a sua segunda mulher em 2010.
Durante uma década, Del Vecchio prescindiu do controlo da sua empresa, entregando as rédeas a Andrea Guerra, enquanto continuava a ser o presidente da Luxottica. Mas os desentendimentos com Guerra levaram à súbita saída da mulher, no Verão de 2014, e Del Vecchio voltou a ser a força motriz na sede da Luxottica, em Milão.