Reacções à morte de Paula Rego: Marcelo fala em “perda nacional”
Presidente lamentou a morte da pintora aos 87 anos. Câmara de Cascais já decretou um dia de luto municipal.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou esta quarta-feira, a partir de Braga, onde está para participar nas comemorações do 10 de Junho, a morte da pintora Paula Rego, aos 87 anos. Marcelo disse ainda que tenciona falar com o primeiro-ministro sobre a melhor forma de “assinalar esta perda nacional”.
“Eu sei, acabei de saber”, disse o Presidente da República aos jornalistas, referindo-se ao óbito da artista plástica como uma “perda nacional”. “É, em termos de artista plástica, muito completa, com maior projecção no mundo desde que nos deixou Vieira da Silva”, justificou Marcelo. “A maior homenagem seria podermos garantir, através de intervenções de organismos públicos e privados, que uma parte relevante do legado de Paula Rego ficará em Portugal, país onde não vivia há muito, mas que nunca abandonou”, sublinhou posteriormente numa mensagem escrita publicada no site oficial da Presidência da República.
O primeiro-ministro, António Costa, descreve as pinturas da artista, que diz ser de “qualidade excepcional”, como “imagens poderosas que ficarão sempre connosco”. Anunciou ainda, em comunicado, que o Governo decidiu decretar um dia de luto nacional.
Paula Rego era uma artista de qualidade excecional, cuja obra alcançou um grande reconhecimento internacional. As suas pinturas encerram imagens poderosas que ficarão sempre connosco e com as gerações por vir. Aos seus familiares e amigos, apresento as mais sentidas condolências. pic.twitter.com/k7Wi7H53U4
— António Costa (@antoniocostapm) June 8, 2022
Em homenagem à pintora, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, recorda Paula Rego como uma “artista da metáfora e do real”, que “explorou o humano com múltiplas ressonâncias sociais, psicológicas e existenciais.” Sempre preocupada com “as grandes causas do seu tempo”, foi uma artista com “um papel fundamental na internacionalização da cultura portuguesa”, lê-se no seu comunicado.
"Irreverente” criadora
“A cultura portuguesa perde assim uma das suas mais importantes e irreverentes criadoras, alguém que se distinguiu como mulher, ser humano e artista”, reagiram também a Fundação D. Luís e a Câmara de Cascais em comunicado conjunto. “A Câmara Municipal de Cascais, por decisão do seu presidente, vai decretar um dia de luto municipal para amanhã, 9 de Junho”, lê-se na nota.
“As suas criações artísticas são inconfundíveis, com um percurso singular, ficarão para sempre gravadas no panorama das artes dos séculos XX e XXI”, considera a Câmara Municipal de Lisboa num comunicado no qual envia também as condolências à família e amigos da falecida. Da sua obra destaca a “os traços da identidade portuguesa, nomeadamente o imaginário, os contos populares e recordações de infância vividas em território nacional”.
O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, lamentou a morte da pintora e considerou que cada quadro seu constituiu “é um dardo atirado contra o preconceito, a dominação, a indiferença”. Na sua conta na rede social Twitter, o presidente da Assembleia da República escreveu: “Paula Rego soube explorar os nossos sonhos, os nossos medos, as nossas histórias, a nossa condição”. “Muito, muito obrigado, Paula Rego”, acrescentou.
Paula Rego ??
— Fundação Calouste Gulbenkian (@FCGulbenkian) June 8, 2022
Recordamos esta incomparável artista, cuja história está intimamente ligada à Fundação Gulbenkian. Foi bolseira, representada em mais de 80 exposições, com dezenas de obras na nossa coleção permamente. pic.twitter.com/cmbK9QYoHF
A Fundação Calouste Gulbenkian também lamentou “profundamente” a morte de “uma das mais extraordinárias artistas nacionais, com a qual manteve profundos laços desde que foi bolseira Gulbenkian nos anos 1960”. “Artista ímpar no panorama internacional”, Paula Rego “deixa um legado inesquecível”. Em Fevereiro, a colecção do Centro de Arte Moderna foi reforçada com a aquisição de duas obras – O Anjo e o Banho Turco - que tornou a fundação na instituição privada “com o maior e o mais significativo acervo da artista”, constituído por 37 obras, entre pintura, desenho e gravura.
O Centro Nacional de Cultura (CNC) manifestou “grande desgosto” pela morte da pintora. O CNC recorda que Paula Rego era “uma das mais aclamadas e premiadas artistas portuguesas a nível internacional”.
O director do Centro Português de Serigrafia (CPS) mostrou gratidão pelo legado deixado por esta que é “uma das mais relevantes e acarinhadas artistas portuguesas de sempre”. Num comunicado partilhado nas redes sociais, João Prates referiu que, “com uma obra gráfica notável, iniciada nos anos 50, a artista sempre aplicou à gravura, nas suas múltiplas expressões, a mesma dedicação e importância que ao desenho ou à pintura.”
“Paula Rego foi uma figura incrivelmente importante para a Tate”, disse à Lusa a directora desta rede de museus britânicos, Maria Balshaw. Foi uma artista que “revolucionou de forma única a maneira como as vidas e as histórias das mulheres são representadas”, continua, e que foi ganhando um “enorme respeito de muitos colegas artistas e críticos de arte, liderando o caminho em dar uma forma poderosa na denúncia de injustiças”.
O museu britânico Victoria and Albert (V&A) lamentou a morte da artista, salientando que o seu trabalho, “muitas vezes inspirado por provérbios, canções de embalar, jogos infantis e canções, pesadelos, desejos, terrores, foi sempre brilhante e desafiador”. O acervo do museu inclui seis obras da pintora, que vivia em Londres.