Mais de 700 pessoas mortas a tiro nos EUA desde o tiroteio na escola do Texas

Duas semanas depois do assassinato de 19 crianças e de dois funcionários numa escola primária em Uvalde, no Texas, um comité especial foi estabelecido na Câmara dos Deputados dos EUA para investigar outros casos de mortes por armas.

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Pessoas presentes no memorial na Robb Elementary School, em Uvalde, depois do tiroteio em massa Reuters/NURI VALLBONA

Nas duas semanas que se seguiram ao tiroteio na escola primária em Uvalde, no Texas, foram registados assassinatos com armas de fogo em 43 dos 50 estados dos Estados Unidos da América, segundo dados do Gun Violence Archives, organização que analisa todos os incidentes de violência armada diariamente, através de mais de 7500 fontes policiais, governamentais e comerciais num esforço para fornecer dados em tempo real.

Contabilizaram-se, assim, 650 incidentes desde 24 de Maio, de onde resultaram 730 mortes. Das vítimas mortais, 23 eram crianças — valor superior às do massacre de Uvalde — e 66 eram adolescentes. Estes números espelham um contexto profundamente difícil para os políticos do Capitólio que lutam para encontrar um terreno comum sobre como reformar as leis de armas dos Estados Unidos. Estes políticos vão ouvir o testemunho dos pais e sobreviventes do tiroteio na escola em Uvalde.

O Comité de Supervisão da Câmara dos Deputados dos EUA organizará uma reunião intitulada “A necessidade urgente de abordar a epidemia de violência armada”, que ocorre num momento em que os políticos republicanos e democratas permanecem divididos sobre até que ponto as leis sobre armas devem ser alteradas.

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por sua vez, já apelou ao Congresso para que proíba as armas de assalto no país e estabeleça leis de controlo mais rígidas, numa mensagem ao país na noite da passada quinta-feira, na Casa Branca. “Temos de proibir armas de assalto e cartuchos de alta capacidade”, sublinhou Biden num discurso transmitido em directo, com 56 velas brancas em pano de fundo, representando as vítimas de violência armada em todos os estados e territórios do país.

Biden pediu também leis mais apertadas de verificação de antecedentes e um aumento da idade mínima para comprar armas para 21 anos, dias depois de um massacre numa escola ter voltado a chocar o país. Pediu ainda novas regras para o armazenamento seguro de armas, novas leis de “sinais de alerta” que impeçam a venda de armas a pessoas com antecedentes criminais, revogando fugas de responsabilidade dos fabricantes de armas e fornecendo mais serviços de saúde mental.

O Estado norte-americano de Nova Iorque aprovou uma nova legislação que aumenta a idade mínima para comprar armas semiautomáticas de 18 para 21 anos, para reforçar o controlo de armas na região.

Com esta decisão, Nova Iorque torna-se o primeiro Estado do país a restringir a compra de armas após o tiroteio de Uvalde. “Estamos a tomar medidas rápidas para reforçar as leis de alerta de segurança, colmatar lacunas existentes e proteger comunidades inteiras”, afirmou a governadora do Estado, Kathy Hochul.

A nova lei também proíbe a venda de munições que consigam penetrar coletes à prova de bala e permite a identificação daqueles que possam, eventualmente, causar danos a si próprios ou a outros, se estiverem na posse de uma arma.

O governador do Estado da Florida assinou, também, nesta quarta-feira, um projecto de lei que procura aumentar a segurança nos centros educacionais. Exigirá que os profissionais de segurança escolar recebam formação de intervenção em crises, que, pelo menos, 80% dos trabalhadores nas escolas recebam formação em saúde mental e que se preserve a comissão de segurança pública Marjory Stoneman Douglas, um conselho formado para analisar especificamente os dados dos tiroteios nas escolas, outros incidentes de violência em massa no Estado e abordar recomendações e melhorias no sistema.

Contudo, o massacre Uvalde não foi excepcional nos EUA. Desde o dia do tiroteio, marcado por 56 mortes em todo o território norte-americano, foram registados apenas cinco dias com menos mortes por tiro. Destacam-se os dias 29 de Maio e 5 de Junho em que morreram, sob estas condições, 74 e 66 pessoas, respectivamente.

A maioria dos incidentes deste género, que envolve a morte de uma pessoa, ocorre após a escalada de um conflito na rua — facilitado pela legalização do porte de arma em grande parte dos Estados —, em situações de violência doméstica, ou às mãos da polícia.

Desde Uvalde que foram também registados 34 incidentes de tiroteios em massa nos EUA. Estes 34 ataques em massa ocorreram em 17 estados diferentes, resultando em 161 feridos e 35 mortes. No Texas, foram registados apenas três novos casos de mortes por tiroteios desde o dia 24 de Maio.

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