Kevin Spacey terá mesmo de responder em tribunal pelo caso que desencadeou a sua queda
Em 2017, Anthony Rapp acusou o actor de o tentar seduzir quando tinha apenas 14 anos. Spacey, que nega ter cometido tal acto, disse no dealbar do movimento #MeToo que não recordava de nada mas pedia “sinceras desculpas”.
O actor norte-americano Kevin Spacey terá mesmo de responder em tribunal pelo caso que desencadeou todo o seu pesadelo #MeToo — o actor Anthony Rapp acusou-o em 2017 de o ter tentado seduzir com o uso da força quando o jovem tinha apenas 14 anos. Trata-se de um processo cível em que Rapp formaliza judicialmente aquilo que contou em Outubro de 2017 e que desencadeou uma série de acusações de outros homens, dentro e fora do ambiente laboral, contra o comportamento de Spacey.
O juiz federal Lewis Kaplan deliberou segunda-feira em Manhattan contra o pedido de Kevin Spacey para que o processo cível de Rapp não fosse por diante, dizendo que há um caso a ser julgado e duas versões distintas sobre as alegações do queixoso, que procura uma indemnização compensatória e uma indemnização sancionatória ou punitiva. O juiz determinou ainda que Rapp pode ainda ver Spacey responder em tribunal por agressão e imposição intencional de sofrimento emocional, mas não por agressão sexual (por prescrição do prazo público de denúncia deste tipo de crime), detalha a agência Reuters.
Anthony Rapp, cujo nome ficará para sempre ligado à revelação pública da homossexualidade de Spacey e da existência de uma “rede de segredos” que avisava os jovens profissionais que com ele se cruzavam de que o então respeitado actor teria um comportamento alegadamente predatório, acusou Spacey de o assediar em 1986, numa festa na casa do actor de Beleza Americana. Ambos trabalhavam na Broadway, em peças diferentes, e numa festa na casa de Spacey Rapp diz que deu por si no quarto do anfitrião, que tinha então 26 anos, já com a casa vazia. Spacey ter-se-á deitado sobre Rapp e usado força para o manter naquela posição e ter-lhe-á tocado nas nádegas sem o seu consentimento.
"Não me lembro"
Numa altura em que Spacey enfrenta acusações de agressão sexual a três homens no Reino Unido, às quais diz que responderá voluntariamente em tribunal, a sua defesa mantém que este nega “categoricamente” estas acusações. Em Outubro de 2017, meras três semanas após o levantar da tempestade Harvey Weinstein — que fez nascer o movimento #MeToo de denúncia da cultura de assédio e violência sexual nos meios laborais e na sociedade —, Spacey pedia porém desculpas por um incidente do qual dizia não se recordar. “Estou mais do que horrorizado por ouvir esta história. Honestamente, não me lembro do encontro, terá sido há mais de 30 anos. Mas se me comportei como ele descreve, devo-lhe as desculpas mais sinceras por o que teria sido um comportamento bêbado profundamente inapropriado”.
O processo movido por Anthony Rapp data de 2020 e fez-se ao abrigo de uma lei nova-iorquina, o Child Victims Act, que no foro civil permite que qualquer pessoa com menos de 55 anos que tenha sido alvo de abuso sexual na pré-adolescência ou adolescência (até aos 18 anos) possa ainda assim encetar um processo legal contra agressores, entre outras possibilidades, mesmo muitos anos depois dos alegados crimes.
As consequências das acusações e vários processos judiciais contra Spacey foram, inicialmente, a saída da sua personagem protagonista da série Netflix House of Cards e a sua eliminação do filme de Ridley Scott Todo o Dinheiro do Mundo; depois fez uma travessia do deserto, continuando a encontrar fãs mundo fora em viagens (passando por Portugal) e actualmente tem dois filmes por estrear que estiveram em busca de distribuidora no Festival de Cannes no mês passado.