Covid-19: incidência em “níveis máximos” nos mais velhos mantém mortalidade elevada

Grupo etário dos 80 ou mais anos está a registar uma média de cerca de 1500 casos diários e é responsável por três quartos dos óbitos diários. Vacinação é “muito importante” para contrariar a situação actual, em vésperas de festas dos Santos Populares.

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O país registou esta quarta-feira o valor mais elevado de mortes num dia desde Fevereiro Manuel Roberto

Portugal já terá ultrapassado o pico desta vaga da pandemia, mas a situação epidemiológica no grupo etário dos 80 ou mais anos mantém o país em níveis de mortalidade muito acima dos limiares definidos.

O país registou esta quarta-feira o valor mais elevado de mortes num dia desde Fevereiro, com 47 óbitos. O relatório de monitorização da pandemia, divulgado esta sexta-feira pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) em conjunto com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) indica que a mortalidade específica por covid-19 a 23 de Maio estava nos 43,9 óbitos a 14 dias por milhão de habitantes, mais do dobro do limite de 20 óbitos definido pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC na sigla em inglês).

O valor é nesta altura superior, estando agora em 47 óbitos por milhão de habitantes, de acordo com o matemático Óscar Felgueiras, um registo que é praticamente o dobro do verificado no final de Abril.

A explicação para este registo, numa altura em que o país está num “planalto” de casos com tendência ligeiramente decrescente, está no facto de a incidência nas pessoas com 80 ou mais anos estar “em níveis máximos para toda a pandemia”, embora a taxa de letalidade seja “baixa” (cerca de 2%) em comparação com o histórico desde 2020.

Este grupo etário apresenta nesta altura uma média a sete dias de cerca de 1500 casos diários, quando em finais de Abril estava à volta dos 700. A duplicação de casos traduz-se também numa duplicação dos óbitos – e Óscar Felgueiras adianta que cerca de três quartos dos óbitos são de idosos neste grupo etário.

O boletim divulgado esta sexta-feira pela DGS, com dados de 24 a 30 de Maio, dá conta de 155.766 infecções pelo SARS-CoV-2 e 220 mortes associadas à covid-19. Destas, 164 (74,5%) foram de idosos com 80 ou mais anos.

Por outro lado, e apesar de Portugal registar nesta altura mais casos no grupo etário de 80 ou mais anos que na vaga de Inverno, o matemático refere que a mortalidade não chega aos níveis atingidos nessa altura – uma diferença que pode ser atribuída ao facto de a mortalidade no Inverno ser naturalmente superior.

“Tudo isto é consequência de termos uma grande circulação do vírus. Houve uma descida nas últimas duas semanas, mas ainda é lenta e não é homogénea em todo o país. Já temos regiões onde se pode dizer que há uma descida consolidada, como o Norte, mas em Lisboa e Vale do Tejo isso ainda não acontece”, observa Óscar Felgueiras, confirmando o “planalto” mencionado esta quinta-feira pela directora-geral da Saúde, Graça Freitas.

Dose de reforço é “muito importante”

O matemático sublinha que a vacinação dos mais velhos com a dose de reforço é “muito importante” e “uma das ferramentas” disponíveis para contrariar a situação actual, especialmente existindo o risco de a incidência se manter elevada nas próximas semanas devido às festas dos Santos Populares.

“Estes eventos de massa são sempre um factor de risco, e vão ser muitos espalhados pelo país todo”, alerta Óscar Felgueiras. Daqui resulta uma circulação do vírus elevada que vai potenciar muitos casos entre os idosos e, consequentemente, muitos óbitos. “Havendo a vacinação dos idosos, poderá ajudar a protegê-los, em particular diminuir a mortalidade”.

Não se pronunciando sobre a pertinência de antecipar a dose de reforço para a faixa dos 70 aos 79 anos, Óscar Felgueiras observa que a situação nesse grupo é distinta da verificada no grupo etário mais avançado.

“Na faixa etária dos 70 aos 79 anos, o número de óbitos é cinco vezes inferior ao da faixa de 80 ou mais anos e as letalidades são muito diferentes: próximo dos 2% nos 80 ou mais anos e de cerca de 0,2% nos 70 aos 79 anos”, esclarece. “Em termos da mortalidade, aquilo que terá mais impacto é a vacinação do grupo mais velho”.

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