O poder das parcerias: porque apoiar as nossas forças da paz é mais importante agora do que nunca
Num clima político e de segurança mundial cada vez mais tensos, as operações de manutenção da paz da ONU continuarão ao lado dos nossos parceiros, para ser uma forte força de mudança num esforço coletivo para alcançar a paz e o progresso para todos os povos.
Todos os dias, as forças de manutenção da paz das Nações Unidas trabalham para proteger centenas de milhares de pessoas vulneráveis nos contextos políticos e de segurança mais frágeis do mundo.
O nosso pessoal civil e militar apoia cessar-fogos, previne e responde à violência, investiga as violações e os abusos de direitos humanos e ajuda a construir a paz, a recuperação e o desenvolvimento em países afetados por conflitos. Não há dúvida de que a sua presença salva e muda vidas.
No Sudão do Sul, mais de 80% dos entrevistados de um recente estudo de perceção afirmaram que se sentem mais seguros graças à presença das forças de paz da ONU. As comunidades de outras zonas de conflito também dão o seu testemunho sobre o impacto da manutenção da paz. Durante a operação “Que reine a paz”, na República Centro-Africana, os líderes locais relataram que o aumento das patrulhas dissuadiu a presença dos grupos armados, ao mesmo tempo que o fornecimento de água potável, a assistência médica e a reabilitação de estradas efetuados pelos agentes da paz melhoraram significativamente as suas vidas.
Em algumas operações de paz, a principal tarefa passa por assegurar a proteção dos civis devido à natureza das ameaças sentidas no terreno. Os nossos militares e agentes policiais fazem tudo o que está ao seu alcance para cumprir esse mandato em condições difíceis e, muitas vezes, perigosas. No entanto, o objetivo final é criar condições para soluções políticas e uma paz sustentável. Essa é a medida do nosso sucesso.
Alcançar esses resultados torna-se mais difícil num clima político e de segurança mundial cada vez mais tensos.
Os conflitos são mais complexos e multifacetados, com tensões locais alimentadas por forças nacionais, regionais e internacionais que atuam em nome dos seus próprios interesses. Um número crescente de atores está envolvido em atos violentos, incluindo criminosos, terroristas e outros agentes armados. É difícil interagir com esses indivíduos e grupos, com motivos e objetivos diversos e muitas vezes ligados ao crime organizado transnacional, porque estes não estão realmente interessados em alcançar acordos políticos que promovam uma paz duradoura.
Estamos a assistir a uma abordagem menos unida para a resolução de conflitos entre as potências mundiais devido às crescentes divisões políticas, que, por sua vez, reduzem a pressão às partes beligerantes para que acabem com a violência e façam concessões. Essas divisões são evidentes em resoluções do Conselho de Segurança da ONU relativas aos mandatos de manutenção da paz, observando-se uma menor unanimidade nas decisões tomadas pelos Estados-membros, nomeadamente nas renovações de mandatos, mas também um menor apoio às nossas missões quando enfrentam desafios no terreno.
O aumento da desinformação e da manipulação da informação também está a criar novas e crescentes ameaças à segurança dos agentes ao serviço da ONU e das comunidades que estes servem. Em países como o Mali, a República Centro-Africana e a República Democrática do Congo, as notícias falsas alimentam os combates e a hostilidade em relação às missões de manutenção da paz. Estamos a assistir a um aumento de ataques às nossas bases, de emboscadas a veículos e do uso de artefactos explosivos improvisados. Nesse ambiente, a icónica bandeira azul que deveria garantir segurança às forças de paz agora corre o risco de torná-las um alvo.
Apesar dos nossos melhores esforços para manter a segurança dos soldados da paz, membros das forças de manutenção da paz são feridos ou mortos nessas condições voláteis. A frequência de ataques maliciosos contra as forças de paz aumentou de 280, em 2020, para 463, no ano passado. Em 2021, registaram-se 24 mortes devido a estes atos violentos.
Entre aqueles que perdemos estão oito Capacetes Azuis que morreram quando o helicóptero em que seguiam caiu no leste da República Democrática do Congo em março, durante uma missão de reconhecimento para ajudar a proteger civis. Assisti a um serviço fúnebre muito comovente com os meus colegas em Goma. Todos nós entendemos que o risco e as perdas são inevitáveis, dada a natureza do nosso trabalho, mas, reunidos nestas circunstâncias trágicas, lembramo-nos do elevado preço pago pelos soldados da paz que pereceram e pelas suas famílias. A todos eles presto a minha homenagem. O seu sacrifício inspira-nos a redobrar os nossos esforços para construir a paz e a estabilidade.
As Nações Unidas não estão sozinhas na manutenção da paz e trabalham com muitos parceiros por esta causa.
Entre eles estão as organizações humanitárias que prestam assistência vital aos mais vulneráveis. As parcerias feitas com as comunidades também são fundamentais, as quais nos inspiram com a sua resiliência e persistência em ajudar a resolver tensões, apoiar a reconciliação e a construir a paz. As mulheres e os jovens também são parceiros vitais enquanto poderosos defensores da paz, assim como a sociedade civil e os media que identificam desafios e ajudam a promover soluções. Continuamos a reforçar as nossas parcerias com os 122 Estados-membros que contribuem com mais de 75.000 militares e agentes policiais para as nossas 12 operações de manutenção da paz. Contamos com o consentimento e a participação ativa dos governos anfitriões, bem como com o forte apoio dos governos regionais e internacionais.
É por isso que, este ano, comemoramos o Dia Internacional dos Soldados da Paz da ONU sob o tema “Pessoas. Paz. Progresso. O Poder das Parcerias”. É uma oportunidade de agradecer aos nossos parceiros pelas suas contribuições e lançar um novo apelo à ação na busca pela paz e segurança mundiais.
As missões de manutenção da paz são uma ferramenta imperfeita que nunca pode responder a todas as necessidades ou expetativas. Há momentos em que somos impedidos ou deixamos de cumprir os nossos mandatos, desiludindo-nos a nós próprios e àqueles a quem servimos, incluindo os casos de má conduta por parte do nosso pessoal.
Enquanto continuar a acontecer, continuaremos a assumir responsabilidades, a questionar constantemente o nosso desempenho e a encontrar maneiras de ser mais inovadores e eficazes, principalmente através da iniciativa “Ação pela Manutenção da Paz”, que estabelece áreas prioritárias onde é necessário avançar. Isto inclui o fortalecimento da nossa capacidade de promover soluções políticas e de apoiar a paz sustentável, melhorar a proteção de civis e a segurança das forças de manutenção da paz, implementar a “Agenda Mulheres, Paz e Segurança” e avaliar rigorosamente o nosso próprio desempenho.
Os nossos objetivos são ambiciosos e nem todos serão alcançados.
Às vezes, pode questionar-se o valor e o impacto da manutenção da paz, mas se não for a manutenção da paz, qual será a alternativa? Existe alguma solução melhor hoje para manter o cessar-fogo, proteger civis, prevenir o caos e apoiar os esforços de paz nos ambientes complexos e afetados por conflitos onde as nossas operações estão a atuar?
Apesar destas questões, e perante muitos desafios que temos pela frente, as operações de manutenção da paz da ONU continuarão ao lado dos nossos parceiros, para ser uma forte força de mudança num esforço coletivo para alcançar a paz e o progresso para todos os povos.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico