Vinhos de Trás-os-Montes, o que dizem os enólogos: “São cada vez mais e melhores, o que é preciso é prová-los”
Enólogos destacam qualidade diferenciada dos vinhos de Trás-os-Montes. Mas falta ainda massa crítica e um trabalho persistente de promoção e divulgação
Aproveitando a natural qualidade das uvas, o grande salto da região está a fazer-se com conhecimento e equipamento. A par do investimento nas vinhas e nas adegas, é a enologia que está a potenciar a qualidade das uvas e a riqueza da diversidade. Ou seja, a puxar pelos vinhos, “que são cada vez mais e melhores”, como sintetiza Rui Cunha, enólogo que assina os vinhos de Valle Pradinhos, Casal Cordeiro e Palmeirim d’Inglaterra. São brancos muito frescos e vivos e tintos com muito equilíbrio, que conseguem boas maturações sem degradar a acidez, destaca Rui Cunha, explicando que “o que o Douro anda a fazer com a procura da altitude já nasceu em Trás-os-Montes”.
É apenas preciso ter algum cuidado com a extracção de taninos, “evitar as extracções violentas”, para não fazer sobressair a acidez. Destacando que tem havido “um salto muito grande” com as novas vinhas e a qualidade das uvas, reconhece que falta apenas “uma maior coesão entre os produtores e algum dinamismo por parte da CVR” para que os vinhos de Trás-os-Montes se imponham em definitivo junto dos consumidores.
“O que falta mesmo é ir mais vezes a Lisboa”, brinca, por sua vez, Paulo Nunes para enfatizar a ideia de que a região precisa de mais promoção e comunicação. “Quem prova fica rendido, a opinião é unânime”, reforça o reconhecido enólogo, que na região faz os vinhos Palácio dos Távoras, um dos mais eloquentes exemplos da qualidade e diversidade dos vinhos da região.
O encepamento único, com grande quantidade de vinhas velhas, é outra das qualidades que diferenciam a região, “um património que foi preservado pelo isolamento”, ao qual Paulo Nunes associa também “a riqueza das condições climáticas completamente diferenciadas”, com três sub-regiões completamente distintas. E a comparação com o Douro, onde se utilizam as mesmas castas, é inevitável: “Aqui o clima é mais continental, com dias muito quentes e noites muito frias. Mesmo com grau, os vinhos têm sempre fruta e preservam a frescura, são sempre equilibrados.”
Francisco Gonçalves, produtor e enólogo dos vinhos Montalegre que acompanha também as marcas Terras de Mogadouro e Quinta do Salvante (Valpaços), destaca que “a região tem acima de tudo uma grande diferenciação”, muito mais acentuada que nas três sub-regiões do Douro. “Temos a Terra Quente que dá vinhos frescos, com estrutura mas sem a concentração do calor, e o Planalto, com as grandes amplitudes térmicas a preservar a frescura, tal como em Chaves.” O enólogo regista ainda “a preservação de vinhas velhas, com castas autóctones e longamente adaptadas”, o que confere uma forte identidade aos vinhos de Trás-os-Montes, uma região de que gosta “muito”.
Responsável pela enologia na Quinta de Arcossó e Encostas de Sonim, Francisco Montenegro não escapa igualmente à comparação com o Douro. “Com as mesmas castas, os vinhos aqui têm acidez e tanino maduro. A acidez é natural, os vinhos nascem com a frescura que lhes dá longevidade, são sempre frescos e vivos”, expõe, dando conta de que “é também importante que tenham tempo”, que vão para o mercado com algum tempo de estágio para que fiquem mais macios, mais fáceis de beber.
É isso mesmo que acontece na Quinta de Arcossó, com vinhos como o tinto Bago-a-Bago, quem tem agora à venda a colheita de 2016, ou o branco Reserva, que está a vender o de 2019.
O tinto 2012 Romano Cunha 2012 é outro dos exemplos de excelência dos vinhos da região, tal como o The Lost Corner 2017 de Valle Pradinhos, o Grande Reserva Vinhas Velhas Tinto 2016 da casa Encostas de Sonim. Da marca Palácio dos Távoras, o Grande Reserva Vinha Velha Branco (Valpaços) e o Tinta Gorda (Planalto Mirandês) são exemplos maiores da diferenciação entre sub-regiões, enquanto o branco e o tinto de 2017 da Casa do JOA constituem a mostra viva do novo ímpeto com a nova geração de produtores de Trás-os-Montes. Há que prová-los!