Paulina Chiziane: “No momento da guerra entre o preto e o branco, onde é que fica o mulato?”
O amor, a mulher, a violência, a desigualdade social, a casa, são os protagonistas da literatura de Paulina Chiziane, a moçambicana que denuncia fossos sociais com histórias que conta como à frente da fogueira na sua infância. Orais, livres de amarras de géneros. Pergunta-se muitas vezes o que pode um prémio. No caso de Paulina, a primeira mulher africana a vencer o Camões, retirou-lhe a estranheza, resgatou a obra do esquecimento, deu-lhe leitores. Não foi só o prémio, também foi o seu poder de sedução para falar da liberdade de fazer o que quer.
No dia em que ganhou a edição de 2021 do Prémio Camões, Paulina Chiziane estava sentada à sombra da sua árvore, no quintal da sua casa na periferia de Maputo, e não escondeu a surpresa nem a alegria. Saiu-lhe uma gargalhada rouca, longa, de boca virada para o céu, como as que deu ao longo desta conversa. Paulina estava então “posta em seu sossego”, como diz agora, noutro dia, em Lisboa, meses depois de o seu nome ter saído do esquecimento e de os seus livros ganharem leitores por todo o mundo de língua portuguesa. A repercussão do Prémio Camões, no caso de Paulina, teve um efeito inédito nesse sentido: o da projecção de um nome e da curiosidade do público em relação à sua obra.
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