Jornalistas afegãs cobrem o rosto na televisão por ordem dos taliban
Decreto entrou em vigor este domingo. Apresentadoras prometem continuar a trabalhar, “mesmo que seja de burqa”.
As apresentadoras e jornalistas afegãs que aparecem na televisão estão obrigadas, a partir deste domingo, a cobrir o rosto para cumprir uma medida imposta pelo regime taliban, em mais um retrocesso para os direitos das mulheres no Afeganistão.
Os meios de comunicação social afegãos esperavam conseguir convencer os taliban a reverter o decreto mas, no sábado, um porta-voz do Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício afirmou que “a decisão é final e não há espaço para discussão.”
As mudanças foram visíveis já neste domingo. Uma das apresentadoras do Ariana News, Basira Joya, garantiu com o rosto parcialmente coberto que o Islão não proíbe nada e que as mulheres vão continuar a trabalhar, “mesmo que seja de burqa”. “Nada nos vai parar”, disse, no ar, segundo a agência DPA.
Um responsável pela Tolo News, Khpolwak Sapai, partilhou imagens de uma reunião da equipa da estação nas redes sociais, juntamente com a mensagem: “Hoje estamos de luto”. Nas fotografias, tanto homens como mulheres aparecem com máscaras, num aparente gesto de solidariedade.
A apresentadora da Tolo News, Farida Sial, reconheceu em declarações à BBC que a nova medida vai tornar “muito difícil” o trabalho das profissionais afegãs, enquanto outra jornalista citada pela emissora pública britânica lamentou o que descreveu como “mais um negro dia para as mulheres”.
Quando os taliban regressaram ao poder em Agosto de 2021, prometeram respeitar os direitos conquistados pelas mulheres nos últimos 20 anos mas, na prática, foram sendo cerceados desde então, com várias limitações no que diz respeito ao trabalho e ao ensino.
O declínio dos direitos das mulheres no Afeganistão está a preocupar os Estados Unidos. Este fim-de-semana, o representante especial da Administração norte-americana para o Afeganistão, Thomas West, e a enviada para assuntos da mulher, Rina Amiri, falaram com o ministro dos Negócios Estrangeiros dos taliban, Amir Jan Muttaqi, para expressar pessoalmente as suas preocupações.
Os responsáveis norte-americanos recordaram a unidade internacional em relação às “actuais e crescentes restrições aos direitos de mulheres e meninas e o seu papel na sociedade”, cada vez mais diminuídos desde Agosto de 2021.
“As meninas devem voltar às aulas, as mulheres devem ter liberdade de movimento e de trabalho”, explicou West, que vinculou qualquer normalização mínima das relações entre os EUA e o regime taliban ao progresso nessa área.
Na mesma linha, Amiri enfatizou no Twitter que “a restauração dos direitos das mulheres e meninas e a protecção das populações vulneráveis são essenciais para que haja qualquer progresso com os taliban”.