De mão dada com o grande rio Guadalquivir, da nascente até à foz
Da nascente, a 1400 metros de altitude, até à foz, próxima de Sanlúcar de Barrameda, o Guadalquivir percorre mais de 650 quilómetros por entre cidades e vilas onde o viandante é obrigado a deter-se, de Sevilha a Córdova, de Montoro a Lora del Río.
O nome, desde logo, inspira exotismo: Guadalquivir. São, no total, 657 quilómetros, desde a nascente até à sua foz, no porto de Bonanza, em Sanlúcar de Barrameda, atravessando paisagens da Andaluzia que umas vezes parecem amar aquela corrente e que, noutras, menos talvez, sugerem alguma rejeição face àquele curso. Umas e outras estão, ainda assim, de acordo: estas águas, vindas de fontes míticas e místicas das montanhas de Sevilha, por vezes estendendo-se, aqui e acolá, calmas, ignorando o seu destino, até ao grande Atlântico, são responsáveis por lendas e por cidades de ouro, por uma descida do rio que me remete, durante estes dias, para toda a história andaluza em geral, sempre com tempo, exigindo paciência, a contagem de cada passo que dou nesta verdadeira empreitada a que me proponho: percorrer todos estes quilómetros desde a primeira gota do Guadalquivir, tão selvagem, tão estéril de aldeias e vilas ao longo do seu curso, até à doce Sanlúcar de Barrameda, esse final de uma viagem para mim, o início de uma outra, num outro tempo, para os conquistadores, essas últimas águas que, temidas pelos marinheiros perante a possibilidade de naufrágio, com as suas rochas negras e os seus bancos de areia, não eram mais do que as últimas águas a caminho da América. As últimas águas de um sonho. De um sonho nem sempre concretizado.
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