Musk “derreteu” as acções do Twitter com um tweet (e depois corrigiu-se)
Empresário escreveu que a compra da rede ficava “à espera” de dados sobre contas falsas. Na bolsa, foi o terramoto nas acções do Twitter e as da Tesla subiram.
O empresário norte-americano Elon Musk voltou a lançar a confusão no Twitter. Bastou uma mensagem, publicada por volta das 11h (em Portugal continental) a dizer que congelou a compra desta rede, para as acções do Twitter entrarem numa queda acentuada na negociação antes da abertura da bolsa de Nova Iorque. A mensagem transformou-se numa notícia planetária de que o negócio estaria suspenso, o que levou Musk a regressar ao Twitter para esclarecer numa segunda mensagem: “continuo empenhado na aquisição.”
Na primeira mensagem, Musk escreveu que pôs o negócio "on hold" [em espera] até saber quantas contas falsas existem afinal na rede. Na última prestação de contas, o Twitter reconheceu que tinha inflacionado o número de utilizadores activos nos últimos três anos. E indicou que menos de 5% das contas seriam falsas ou autoras de spam (mensagens comerciais não solicitadas).
O empresário ofereceu 41 mil milhões de euros pelo Twitter. A mensagem espalhou-se rapidamente pela imprensa mundial, sugerindo que o negócio estaria suspenso. Porém, até ao momento, não havia qualquer confirmação oficial desse cenário. Pelo contrário. O próprio Musk acabou a corrigir-se com a segunda mensagem a garantir que continuava empenhado no negócio. Mas o mal estava feito: as acções do Twitter “derreteram” (e depois recuperaram). São efeitos favoráveis para Musk: o Twitter que ele quer comprar chegou a cair mais de 17% na negociação antes da abertura da bolsa em Wall Street; e a Tesla (que já é dele e cujas acções quer entregar como colateral num empréstimo bancário) subiam 5%.
Depois da abertura da bolsa nova-iorquina, o Twitter caía quase 11% (por volta das 15h em Portugal continental). Já a Tesla manteve a tendência de subida em torno dos 5%.
No site do regulador da bolsa dos EUA, a SEC, não há documentos sobre uma eventual suspensão. Vai ser preciso esperar para ver se existe alguma comunicação oficial ou se, como aconteceu em Agosto de 2018, é apenas uma tirada de Musk com sérias implicações no comportamento do mercado.
A 7 de Agosto desse ano, o empresário escreveu que estaria a pensar tirar a Tesla da bolsa. Nas horas seguintes, as acções dessa empresa dispararam. Mês e meio depois, a SEC processou Musk por fraude, acusando-o de ter inventado um negócio que não pretendia fazer e de, com isso, ter influenciado o comportamento do mercado. Três dias depois, Musk chegou a um acordo com a SEC para evitar ser julgado: em troca do arquivamento da queixa, aceitou uma multa de 20 milhões de dólares; viu-se forçado a deixar o cargo de presidente do conselho de administração (salvando no entanto a posição de director executivo); e aceitou que todas mensagens com potencial impacto financeiro sobre a Tesla teriam de ser previamente aprovadas por advogados.
À luz desse passado, aguarda-se por isso com expectativa os próximos desenvolvimentos neste caso. A compra do Twitter não se suspende através de um tweet. Vai ser preciso informação oficial. Contactada pela agência Reuters, nenhuma das partes fez declarações até ao momento. No entanto, na bolsa, as ondas de choque continuam.
O último documento relativo ao Twitter entregue na SEC é de há dois dias. Diz respeito ao príncipe saudita que aceitou ceder as suas acções numa compra liderada por Elon Musk.
Musk não estava proibido de escrever no Twitter sobre a potencial compra desta rede, mas estava limitado no que podia publicar. Era isso que determinava o acordo prévio entregue no final de Abril à SEC. Musk teria de se abster de criticar a actual equipa de gestão do Twitter ou de publicar mensagens com impacto material e financeiro sobre o Twitter. Foi precisamente isso que conseguiu hoje, com um simples tweet. Qual será o entendimento da SEC e dos ainda donos e gestores do Twitter?
O mesmo acordo estipula que o negócio terá de estar concluído em seis meses desde a data da primeira oferta, ou seja, até 24 de Outubro. Desde então, Musk vendeu quase nove mil milhões de dólares de acções da Tesla e angariou apoios substanciais entre amigos e outros investidores. Tudo parecia encaminhado, até esta mensagem de Musk, uma intenção que, até este momento, suscita dúvidas.
O acordo também fixa uma cláusula de rescisão de mil milhões de dólares. Se Musk não reunir o dinheiro, ou voltar costas sem justificação, terá de pagar essa quantia ao Twitter. Se os donos da rede, pelo contrário, abandonarem o negócio ou começarem a negociar com outros investidores, terão de pagar essa mesma quantia a Musk. Neste quadro, torna-se ainda mais evidente que não basta um tweet para suspender o negócio. Mas basta um tweet para ver as acções entrarem num rodopio.
Notícia alterada às 13h05: a primeira notícia não assinada foi integralmente substituída pela deste autor.