União Europeia e Japão renovam a sua aliança para conter a Rússia e a China
Japão comprometeu-se a reforçar o fornecimento de Gás Natural Liquefeito (GNL) à UE para que esta se possa libertar mais rapidamente da dependência de Moscovo.
A União Europeia e o Japão retomaram as suas cimeiras presenciais, esta quinta-feira em Tóquio, e as conclusões dos trabalhos reflectem bem as prioridades dos dois lados para o aprofundamento da relação bilateral: enquanto a contenção da China é a principal preocupação do parceiro asiático, a atenção dos europeus está concentrada na resposta à agressão russa e ao apoio à Ucrânia.
A declaração conjunta final mostra até que ponto estes interesses são coincidentes, e como algumas das medidas que estão a ser desenhadas para responder aos desafios colocados pela guerra na Ucrânia trazem benefícios mútuos — em matérias de segurança e geopolítica, mas também do ponto de vista económico e comercial.
“A UE e o Japão têm tanto em comum: os valores da democracia e do estado de Direito, o modelo económico, e uma certa visão do mundo, baseado num sistema global multilateral, com regras concebidas para proteger e beneficiar a todos”, enumerou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no final da reunião.
Como justificou a líder do executivo comunitário, “é precisamente porque esta visão é hoje tão frequentemente posta em causa, que a UE quer reforçar e aprofundar as suas relações com o Japão”, em áreas “muito concretas” onde os dois lados identificam potencial económico e vantagens políticas.
Um exemplo óbvio diz respeito ao sector da energia. Os dois aliados comprometeram-se a “cooperar para manter a estabilidade do mercado global de energia e assegurar a segurança do abastecimento de cada um”, o que passa pelo reforço do fornecimento de Gás Natural Liquefeito (GNL) japonês à UE, que assim terá condições para se libertar mais rapidamente da sua dependência da Rússia, que, como repetiu Von der Leyen, “é hoje a ameaça mais directa à ordem mundial”.
E não é só por causa da sua “guerra bárbara contra a Ucrânia”, que a presidente da Comissão e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, mais uma vez denunciaram, renovando o seu apelo à “retirada imediata e incondicional de todas as forças e equipamentos militares da Rússia do território da Ucrânia”.
A ameaça representada por Moscovo não afecta apenas a segurança da Europa, mas também da região do Indo-Pacífico, argumentou Ursula von der Leyen, referindo-se ao “preocupante” pacto entre a Rússia e a China e à “amizade sem limites” que une Vladimir Putin e Xi Jinping. “Tal como a União Europeia, o Japão compreende o que está aqui em jogo”, acrescentou.
Por isso, na declaração final da sua 28.ª cimeira bilateral, Bruxelas compromete-se a consultar e envolver o Japão nas decisões que dizem respeito às “dinâmicas políticas, económicas e de segurança” do seu relacionamento com a China; ao mesmo tempo que Tóquio promete aumentar a sua cooperação com a UE em regiões como os Balcãs Ocidentais, o Sahel ou a América Latina, onde a China e Rússia pretendem alargar a sua influência.