“Tech4Good”. As empresas dão as ferramentas, as pessoas trilham o caminho

Como pode e deve ser usada a tecnologia em prol de um mundo melhor? A NTT DATA, em parceria com o PÚBLICO, reuniu responsáveis das principais empresas portuguesas para reflectir sobre o papel reservado para a tecnologia na construção de um mundo mais sustentável e de maior convergência social e económica.

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Evento "Tech4Good" hcasinhas

O mote foi definido por Ricardo Zózimo, Investigador e Professor da Nova SBE, na abertura do evento: “Para que servem as empresas se não for para contribuir para o desenvolvimento do mundo?” Esta é a grande questão, disse, lembrando que o que não faltam são empresas que se dizem preocupadas com os problemas que afectam o globo, mas que “não o são assim tanto”. Mas o ónus não pode estar só no mundo empresarial, sublinhou. “A sustentabilidade tem que ser vivida na primeira pessoa. Temos que a querer para que aconteça.”

Ricardo Zózimo aproveitou a introdução à conferência não só para lançar temas de debate, como para dar exemplos concretos de como a tecnologia já hoje serve para premiar quem usa o mundo digital em prol do bem comum, e traçar caminhos para o futuro, sublinhando aqui a força que a “diferenciação” pode vir a ter ao nível comportamental. “Uma pessoa que usa o carro todos os dias, mas dando boleia a outras pessoas em vez de andar de carro no ‘casa-trabalho’ sempre sozinha, devia ter gasolina mais barata”, exemplificou. A seu ver, esta diferenciação qualitativa será o próximo passo do mundo digital, premiando o cidadão de acordo com as suas escolhas. Até porque isto é algo que já hoje acontece, se bem que em sentido inverso: o cidadão pode ainda não ser premiado por escolher ou ter comportamentos mais sustentáveis, mas já tem as ferramentas para ele próprio premiar as empresas que o têm.

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Ricardo Zózimo, Investigador e Professor de Gestão na Nova SBE

O professor da Nova SBE deu como exemplo algumas aplicações que já permitem saber qual o produto, ou loja, ou restaurante que tem menos pegada, que é mais natural, ou que tem menos impacto negativo, facilitando que cada um de nós faça a diferença através das suas escolhas. Já hoje existem diversas formas através das quais a tecnologia está a ser usada em prol do bem comum. Mas para que tal seja uma realidade, e mais do que as empresas, dependemos das pessoas: “A sustentabilidade tem que ser vivida na primeira pessoa”, como disse Zózimo.

As empresas a potenciar o papel dos cidadãos

No arranque do debate assente no tema “Tecnologia para uma economia mais sustentável”, foi precisamente para as pessoas que João Nascimento, Digital Global Unit Lead da EDP, olhou quanto ao uso dado à tecnologia, mas sublinhando que esta é uma responsabilidade só possível de cumprir se as empresas e as organizações derem aos cidadãos as ferramentas necessárias para aproveitarem o que a tecnologia oferece. “O digital é para e com as pessoas. É preciso capacitar as pessoas, para todos sermos agentes ou consumidores activos”, defendeu.

E dar às pessoas as ferramentas para usarem a tecnologia “em nome do bem” é precisamente uma das funções da SIBS, referiu Madalena Tomé, CEO da empresa portuguesa de serviços financeiros. Apontando o digital como “uma tecnologia silenciosa e invisível, mas facilmente disponível e que facilita o dia-a-dia de todos nós enquanto comunidade”, a responsável explicou que este é o lema que move a SIBS. E deu visibilidade à invisibilidade tecnológica da SIBS: com o MBWay e serviços associados entretanto desenvolvidos, a SIBS conseguiu colocar nos dedos dos clientes não apenas transferências instantâneas, mas também donativos instantâneos. E a força deste avanço fez-se sentir recentemente: “No contexto de emergência actual, por exemplo, os portugueses muito rapidamente conseguiram ajudar instituições envolvidas em acções de apoio com 1,5 milhões de euros em quatro meses. Foi três vezes mais do que os donativos registados no período homólogo”, apontou.

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Mas além dos clientes, quais as pessoas que as empresas conseguem influenciar mais directamente? Os seus próprios trabalhadores, apontou Nuno Pedras, Chief Information & Digital Officer da Galp. “Temos consciência que geramos milhares de empregos, directos e indirectos, logo temos a obrigação, o compromisso e a capacidade de influenciar positivamente todos eles”, explicou Nuno Pedras na conferência. Pegando no propósito da empresa, «Juntos Vamos Regenerar o Futuro», o responsável explicou que a Galp tem olhado para todos os seus negócios e processos, tanto internos como externos, do ponto de vista da sustentabilidade para descobrir e avançar com soluções e novas formas de trabalhar que optimizem ganhos de sustentabilidade.

A difusão das soluções tecnológicas, potenciando a sua crescente adopção, é também uma das metas da NTT DATA, empresa líder enquanto catalisadora da transformação digital. Tiago Barroso, CEO da NTT DATA, explicou que, enquanto «enablers» da mudança, a empresa procura que cada desenvolvimento tecnológico não se limite a contribuir para o negócio em si, como, “em simultâneo”, para um mundo mais inclusivo e amigo do ambiente. Aumentar o alcance das possibilidades digitais é mesmo uma das prioridades da NTT DATA, que coloca as suas capacidades e serviços ao dispor de empresas ou organizações que, de outra forma, não conseguiriam avançar com uma transformação digital significativa. “São projectos pro bono, com ONG, organismos sociais, onde apoiamos o desenvolvimento de projectos tecnológicos que promovem a transformação”, explicou Tiago Barroso.

Potenciar talentos e partilhar conhecimento

Mantendo o foco nas pessoas, o painel debateu a importância do desenvolvimento e retenção de talentos no país. “Os RH na área são escassos, é preciso assegurar que existem mais. Este é o grande desafio de hoje, atrair e potenciar talento e desenvolver tecnologia portuguesa de alcance global”, apontou Madalena Tomé. Um caminho que passa também pelo apoio a jovens talentos e às ideias disruptivas que vão surgindo um pouco por todo o lado. O investimento em start-ups, em programas de retenção de talentos ou em parcerias com fornecedores e até concorrentes foram caminhos apontados por todos os presentes.

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Já o responsável da NTT DATA sublinhou, porém, que há duas dimensões a considerar na questão do talento. “Se gerarmos e criarmos talento ‘tecnológico’, mais facilmente o país apanhará o comboio da frente dos desenvolvimentos”, reconheceu. Mas é preciso não deixar que ninguém fique para trás. “Temos de considerar o talento não só tecnológico, como as competências de toda a população, para que toda a sociedade continue coesa e ninguém perca a oportunidade de aproveitar os benefícios da tecnologia”, sublinhou Tiago Barroso.

Lado a lado com o talento, está a colaboração entre talentos para melhor se potenciar o digital, disse, por seu turno, João Nascimento. “Hoje em dia já não é a tecnologia que é limitativa, já o foi no passado. Hoje é o oposto, nós é que estamos limitados face a tanta tecnologia”, explicou. Esta é a razão para que os modelos colaborativos sejam cada vez mais procurados segundo os intervenientes no painel.

Sustentabilidade: “Walk the talk”

Dada a provocação deixada por Ricardo Zózimo, o tema tornou-se inevitável na mesa-redonda. Todas as empresas se dizem sustentáveis, mas serão todas realmente sustentáveis?

“É um caminho que está a ser percorrido, mas ainda não estamos no ponto onde queremos estar”, admitiu sobre a realidade portuguesa. Contudo, a pressão é cada vez maior: “As novas gerações, a pressão que criam com as suas preocupações, estão a forçar esse caminho. Aliás, os cidadãos exigem, os colaboradores exigem e gradualmente não estão a deixar alternativa aos líderes a não ser seguir esse caminho”, apontou Tiago Barroso. Mas para que o caminho seja realmente feito, é preciso mais escrutínio.

E as ferramentas para o escrutínio avançar já existem, lembrou João Nascimento. “As empresas já geram e armazenam dados suficientes para que se possa fazer o rastreio e usar esses dados para escrutinar. As empresas devem ser claras em termos de objectivos de sustentabilidade e, ao mesmo tempo, estar abertas ao escrutínio externo para que se saiba se estão a fazer aquilo a que se propõem ou se as medidas anunciadas são apenas um embrulho”, defendeu o gestor da EDP.

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Já Nuno Pedras recuperou as exigências crescentes apresentadas pelos cidadãos, para lembrar que isso também já acontece ao nível dos recursos humanos. “Quando falo com alguém para um cargo já me perguntam coisas muito concretas sobre o que a empresa faz e como se posiciona em relação à sustentabilidade”, concluiu.

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