A actriz Amber Heard, que está a ser processada por difamação por ter afirmado num artigo de jornal que foi vítima de violência doméstica por parte do ex-marido, o actor Johnny Depp, tomou a palavra na quarta-feira para relatar a sua versão dos factos e afirmar que, no início do “mágico” romance, Depp era gentil, atencioso, generoso e engraçado — até que emergiu o seu lado “assustador”.
“Ele era o amor da minha vida”, disse Heard. “Mas ele era também esta outra coisa. A outra coisa era horrível.”
Depois de ter contado como foi a sua vida até ao ponto de conhecer o actor e como decorreu o início do romance ao estilo de conto de fadas, Amber Heard, que optou por escolher referir-se ao ex-marido como “Johnny” (Depp testemunhou aludindo-se à ex-mulher como Ms. Heard), recordou o primeiro incidente que alega ter sido a primeira vez que o actor a agrediu fisicamente.
Segundo a actriz, os dois estavam sentados no sofá, na conversa, quando ela lhe perguntou o que dizia uma das suas tatuagens, mais precisamente a que Depp fez na altura em que se relacionou com a actriz Winona Ryder, em que se lia “Winona Forever” (Winona Para Sempre); depois do fim do namoro, Depp mandou alterar o escrito para “Wino Forever”.
Johnny Depp disse-lhe que estava escrito “Wino” e Heard riu-se, achando que o actor estava a brincar. Mas, conta, o companheiro em vez de se rir, como ela esperava, deu-lhe um estalo. E a actriz continuou a rir, a achar que ele estava a brincar, o que, afirma, levou o actor a insultá-la e a esbofeteá-la mais duas vezes. “Fiquei com o coração partido”, desabafou Heard com a voz chorosa.
A mesma situação foi referida por Depp durante o seu testemunho, afirmando que tal “não aconteceu”. “Porque é que eu ficaria tão ofendido com alguém que faz troça de uma tatuagem no meu corpo? Essa acusação nunca fez qualquer sentido para mim.”
No geral, a audiência presente no tribunal, relataram os jornalistas presentes, também não demonstrou acreditar na actriz e uma perita em linguagem corporal considerou, em declarações à Court TV, que muito na expressão e forma de falar de Heard é consistente com alguém que está a mentir. Janine Driver, CEO do Instituto de Linguagem Corporal, chamou a atenção para a inclusão de detalhes irrelevantes durante o testemunho da actriz o que, segundo a especialista, é indicador de que se está a inventar uma história, apoiando os dados falsos em detalhes verdadeiros. “O que ela está a fazer em tribunal é, tristemente, risível”, avaliou.
No entanto, a especialista não comentou as outras situações descritas por Amber Heard, como quando disse que o actor a acusou, em 2013, de ter um caso e de lhe bater com as costas da mão, na qual usava anéis. “Lembro-me como se o meu lábio me tivesse entrado pelos dentes”, testemunhou. Noutra ocasião, Amber Heard contou como Depp se empenhou numa busca invasiva ao seu corpo, onde o actor julgava que a companheira teria escondido drogas. Essa busca ocorreu depois de o actor ter destruído objectos numa caravana onde o casal estava de férias, depois de se ter enfurecido pelo facto de outra mulher se ter aproximado demasiado da actriz, que se assume como bissexual.
No seu testemunho, Johnny Depp recordou que a mulher em causa tinha sido “excessivamente afectuosa” com a companheira e que, por isso, tinha afastado a mão dessa mulher de cima da namorada. Tal momento, contou, levou a uma discussão, durante a qual o actor declarou ter dado um murro numa luminária na casa de banho.
Johnny em diferentes versões
Paralelamente, Amber Heard insistiu na teoria de Johnny Depp ser dependente de drogas e álcool (o actor apenas assumiu ter tido um problema com medicação que lhe foi receitada), dando a entender que as substâncias estariam na origem da sua violência, além dos ciúmes doentios, e deixando no ar a possibilidade de o próprio não ter memória sobre uma série de acontecimentos.
“O Johnny com speeds é muito diferente do Johnny sob opiáceos. Johnny sob opiáceos é muito diferente do Johnny sob Adderall e cocaína, que é muito diferente do Johnny sob quaaludes (um medicamento sedativo e hipnótico), mas eu tinha de ser boa a prestar atenção às diferentes versões dele”, testemunhou Amber Heard.
De acordo com Heard, o antigo companheiro, quando sob a influência de álcool e cocaína, era particularmente violento, descrevendo situações de violência sexual, verbal e física. Os advogados de Heard mostraram fotografias da actriz que revelam contusões.
Durante praticamente todo o tempo em que Amber Heard falou, Johnny Depp manteve a cabeça baixa. No entanto, o actor foi visto a rir algumas vezes, o que lhe poderá custar alguma empatia que terá conquistado entre os jurados durante a apresentação do seu caso. Nota relevante foi o facto de, durante todo o tempo em que a actriz esteve a falar, o advogado de Depp não ter feito qualquer apontamento, o que demonstra algum desprezo pelo testemunho.
Johnny Depp afirma que Amber Heard o difamou quando escreveu um artigo para o The Washington Post, em Dezembro de 2018, no qual relatou ser uma sobrevivente de abusos domésticos. Pouco tempo depois, Depp interpôs uma acção de 50 milhões de dólares (47,2 milhões de euros).
No texto que levou o ex-casal a uma batalha judicial milionária, Amber Heard não identifica o seu agressor pelo nome, mas, defende o advogado de Depp, Benjamin Chew, era claro que se estava a referir ao actor. Do seu lado, a actriz não nega que de facto falava sobre o ex-marido, mas observa que, por um lado, apenas escreveu a verdade e que, por outro, a sua opinião está protegida como livre expressão ao abrigo da Primeira Emenda da Constituição dos EUA. Ou seja, respondeu com uma contra-acusação, pedindo uma indemnização de cem milhões de dólares (92,6 milhões de euros).
Amber Heard regressa, esta quinta-feira, ao tribunal de Fairfax, Virgínia, para prosseguir com o seu testemunho.