Mark Bourke vai substituir António Ramalho à frente do Novo Banco

O Lone Star já escolheu a equipa para liderar o banco até 2025 após a demissão do actual presidente executivo. Nomes terão ainda de passar no crivo do Banco Central Europeu.

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Diogo Ventura

Mark Bourke é o escolhido para ocupar o cargo que António Ramalho vai deixar vago a partir de Agosto. O gestor irlandês era o até agora o administrador financeiro do Novo Banco e sobe a presidente executivo numa equipa que conta com duas novidades na sua composição.

Leight Bartlett é o novo administrador financeiro, uma contratação feita pelo Novo Banco ao Masthaven Bank, onde este gestor era presidente executivo desde 2020, depois de uma carreira no RBS. Carlos Brandão sobe, por seu turno, a administrador com o pelouro do risco, um departamento onde já desenhava funções como director desde 2017.

Os restantes membros da comissão executiva continuam na equipa, num mandato que recomeça a contagem a partir do momento que o Banco Central Europeu (BCE) der luz verde à idoneidade dos gestores. São eles Luís Ribeiro (com o pelouro do retalho), Andrés Baltar (empresas), Luísa Soares da Silva (compliance) e Rui Fontes (que assume um novo cargo na estrutura, dedicado a créditos de grandes empresas e PME). O número de administradores cresce, assim, de seis para sete.

“O Conselho Geral e de Supervisão (CGS) concluiu que, por existirem dois novos membros do Conselho de Administração Executivo (CAE) e pelo facto de as funções e responsabilidades de dois actuais membros mudarem substancialmente, deveria existir um novo mandato de quatro anos”, explica o banco em comunicado, divulgado esta quinta-feira.

Mark Bourke começou a sua carreira na PwC em 1989, passou pelo IFS Group e, antes de chegar ao Novo Banco pela mão do seu accionista privado Lone Star, era administrador financeiro do Allied Irish Bank, onde estava desde 2014.

“O CGS acredita que, sob a liderança de Mark Bourke, esta é a equipa de gestão do CAE que irá executar, com sucesso, a próxima fase de desenvolvimento do Novo Banco, competindo como um banco sólido e independente, dedicado ao segmento de empresas e retalho e continuando a crescer e a cumprir as suas metas e objectivos de acordo com o plano a médio prazo”, destaca a instituição em comunicado.

Estas alterações acontecem depois de um período marcado pela polémica em torno da actuação de António Ramalho na liderança do banco, em particular na gestão dos créditos problemáticos herdados do BES e do recurso sistemático e acelerado à almofada de capitalização criada com cobertura do Estado no momento da venda do Novo Banco aos norte-americanos do Lone Star.

De um total de 3,89 mil milhões de euros, o Novo Banco já utilizou 3,4 mil milhões para compensar as vendas de carteiras de créditos de grandes clientes, entre outros, num processo validado quase na totalidade pelo Fundo de Resolução, o accionista minoritário da instituição e que gere o mecanismo que financia as injecções no banco através de contribuições dos bancos privados, com cobertura do Estado. Ainda assim, existem várias divergências contabilísticas em curso entre o Fundo de Resolução e Novo Banco que têm travado uma pequena parte das injecções.

Na sequência desta estratégia e, em particular, devido à proximidade de Ramalho com os clientes envolvidos nestes créditos problemáticos e à estratégia de procurar maximizar o recurso do Fundo de Resolução para “limpar” as contas do banco, o gestor ainda em funções acabou na mira das autoridades, no âmbito da investigação Operação Cartão Vermelho, que tem no epicentro as operações financeiras de Luís Filipe Vieira, antigo presidente do Benfica.

Um processo que levou à saída abrupta e surpreendente, a meio do mandato, de António Ramalho do Novo Banco, apanhado nas escutas que tinham como alvo o seu antigo administrador Vítor Fernandes, que havia saído já da instituição na anterior reconfiguração da comissão executiva. A idoneidade de Ramalho voltou a estar em cima da mesa do BCE, depois de conhecidos os desenvolvimentos da sua relação com Luís Filipe Vieira, mas o supervisor europeu não confirmou até agora qualquer alteração no seu estatuto, tendo entretanto o Lone Star promovido uma avaliação interna que concluiu que Ramalho mantinha todas as condições para se manter no cargo. Ainda assim, poucos meses depois, o antigo presidente da IP - Infraestruturas de Portugal anunciou a sua saída, alegando motivações pessoais e permanecendo como consultor do Lone Star, ao mesmo tempo que tem investimentos financeiros na sociedade que detém o Novo Banco, a Nani Holdings.

Quanto à investigação em curso pelo Ministério Público às relações de Luís Filipe Vieira com gestores do Novo Banco, ainda não se conhece qualquer desfecho, em especial sobre o estatuto de António Ramalho e, em particular, do seu antigo “braço direito” Vítor Fernandes. Contactada pelo PÚBLICO, fonte oficial da Procuradoria-Geral da República tem optado pelo silêncio sobre esta questão.

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