Em 2021, só 181 cuidadores informais descansaram com o apoio da rede de cuidados continuados
Custos associados à medida são apontados como a razão para esta fraca adesão.
No ano passado, apenas 181 cuidadores informais, dos 8122 reconhecidos pelo Estado até ao final de Março, beneficiaram do descanso a que têm direito, através do apoio da Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCC). No ano anterior, tinham sido 24. Os custos associados são apontados como a razão para a fraca adesão a esta possibilidade.
Os dados foram fornecidos pelo Ministério da Segurança Social ao Jornal de Notícias, que traz a informação na sua edição desta quarta-feira.
Os cuidadores informais têm direito a 30 dias de descanso, mas a colocação do dependente numa unidade da RNCC tem custos e a comparticipação nos mesmos é fixada em função do rendimento do agregado familiar. O ministério referiu ao jornal que o valor médio pago pelos utentes foi 20,56 por dia e que os internamentos variaram entre 30 e 90 dias. O valor máximo cobrado pela RNCC até ao final de Julho foi 33,36 euros por dia, embora haja casos em que, devido aos baixos rendimentos familiares, a estadia possa ficar a custo zero.
Ainda assim, tendo em conta o valor médio de 20,56 euros, uma estadia de 30 dias implicaria um custo de cerca de 616 euros, o que, lembra o JN, é o dobro do valor médio recebido pelos cuidadores informais, que corresponde a 310 euros mensais. E são estes custos que a vice-presidente da Associação Nacional dos Cuidadores Informais, Maria dos Anjos Catapirra, ouvida pelo diário, associa à baixa procura por esta possibilidade de descanso. “Conheço um casal a quem pediram 900 euros por mês, o que correspondia à reforma dos dois. Como é que depois iam pagar a renda e as outras despesas?”, disse ao diário, frisando que, com estas condições, “poucas pessoas” podem beneficiar do descanso previsto no estatuto do cuidador informal.
A responsável defende que a permanência dos dependentes na RNCC, deveria ficar a custo zero para todos os cuidadores informais e argumenta que, neste momento, a prioridade é dada a quem tem mais meios económicos, e pode pagar os custos associados. Além disso, afirma, as vagas que poderiam ser ocupadas por estes dependentes estão, de facto, a ser utilizadas para outros casos, como idosos abandonados nos hospitais ou por pessoas que estão em instituições, e não entregues aos cuidados de um cuidador informal.
O presidente da União das Misericórdias, Manuel de Lemos, confirma ao JN que os lares desta entidade estão a receber muitos “casos sociais dos hospitais”, ao abrigo de um protocolo estabelecido com o Estado, pelo que as vagas disponíveis são ocupadas “rapidamente”.