Foi de forma suave e pausada que Johnny Depp se dirigiu ao tribunal onde decorre o julgamento por difamação contra a ex-mulher, que, por seu turno, acusa o actor de violência doméstica e também de difamação. Num testemunho que durou quase três horas, Depp recordou o “choque” que sentiu há cerca de seis anos quando ouviu as “hediondas e perturbadoras” acusações de que tinha sido violento durante a relação. “Nunca cheguei a ponto de atingir a sra. Heard de forma alguma, nem jamais bati numa mulher na minha vida”, disse o actor, que se apresentou de fato escuro e com o cabelo preso num rabo-de-cavalo.
Sobre a decisão de interpor uma acção contra a ex-mulher por difamação, o actor afirmou ter considerado ser sua responsabilidade corrigir a percepção do público em relação a si, para o seu bem, mas também para o dos seus filhos — Depp é pai de Lily-Rose, 22 anos, e de Jack, 20, ambos da sua anterior relação com a actriz francesa Vanessa Paradis; na época, os dois jovens estudavam no secundário.
“É muito estranho quando um dia se é, por assim dizer, Cinderela e, depois, em 0,6 segundos, se passa a Quasímodo”, acrescentou Depp, questionado pelo seu advogado, que lhe perguntou sobre o início da relação, quando os dois se conheceram nas gravações do filme O Diário a Rum. Depp descreveu a actriz nessa altura como doce, inteligente e divertida.
O actor também pormenorizou a relação tumultuosa dos seus próprios pais. Depp disse que os seus pais discutiam frequentemente e que a sua mãe abusava fisicamente dos filhos. O actor declarou que o seu pai nunca agrediu fisicamente a sua mãe, mas esmurrou violentamente uma parede até ficar com a mão partida.
Quando Depp tinha 15 anos, o pai saiu de casa. Nessa altura, o actor recordou que já tinha “experimentado todas as drogas que conhecia” e, depois de se ter ferido nas filmagens de Por Estranhas Marés, o quarto filme da saga Piratas das Caraíbas, ficou viciado em opiáceos. No entanto, ressalvou ter ultrapassado essa dependência.
Terá sido esse problema com a toxicodependência, considerou Depp, que o tornou “um alvo fácil de [Amber Heard] atingir”. Em 2016, quando Heard pediu o divórcio e uma pensão depois de 15 meses de casamento, a actriz alegou ser vítima de agressões verbais e físicas repetidas, causadas, segundo ela, pelos problemas com álcool e drogas que o actor tinha.
Enquanto o actor falava, a actriz manteve-se quase inexpressiva, inclinando ocasionalmente a cabeça ou escrevendo apontamentos. Esta quarta-feira, o actor deverá voltar a prestar declarações durante o contra-interrogatório da equipa jurídica de Heard.
Johnny Depp, de 58 anos, afirma que Amber Heard, de 35, o difamou quando escreveu um artigo para o The Washington Post, em Dezembro de 2018, no qual relatou ser uma sobrevivente de abusos domésticos. Pouco tempo depois, Depp interpôs uma acção de 50 milhões de dólares (46,3 milhões de euros).
No texto em causa, Amber Heard não identifica o seu agressor pelo nome, mas, defende o advogado do Depp, Benjamin Chew, era claro que se estava a referir ao actor. Do seu lado, a actriz não nega que de facto falava sobre o ex-marido, mas observa que, por um lado, apenas escreveu a verdade e que, por outro, a sua opinião está protegida como livre expressão ao abrigo da Primeira Emenda da Constituição dos EUA. Ou seja, respondeu com uma contra-acusação, pedindo uma indemnização de cem milhões de dólares (92,6 milhões de euros).
Há menos de dois anos, Depp perdeu um caso de difamação contra o tablóide britânico The Sun, que publicou um artigo que descrevia o actor como “espancador da mulher”. Um juiz do Supremo Tribunal de Londres considerou dado como provado que o actor tinha repetidamente agredido Heard e, por isso, a expressão “espancador da mulher” não constituía difamação.
Desta feita, no caso dos EUA, Depp e Heard apresentaram longas listas de potenciais testemunhas que podem chamar, incluindo o ex-namorado de Mera de Aquaman e o chefe executivo de Tesla, Elon Musk, e o actor James Franco.