Com a ONU sob pressão, Guterres pede tréguas na Páscoa ortodoxa
O secretário-geral das Nações Unidas pediu um cessar-fogo para a abertura de corredores humanitários durante a Páscoa ortodoxa. Em simultâneo, sobe de tom a pressão para um papel mais activo de Guterres e das Nações Unidas na resposta à guerra.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou às autoridades militares russas e ucranianas para um cessar-fogo de quatro dias durante a Páscoa ortodoxa, da quinta-feira Santa até ao domingo de Páscoa, a 24 de Abril.
“Em vez da celebração de uma nova vida, a Páscoa coincide com a ofensiva russa no leste da Ucrânia”, disse Guterres, referindo-se à escalada da violência no Donbass. Com a Ucrânia “debaixo da nuvem de uma guerra”, que representa “a negação total da mensagem da Páscoa”, o líder da ONU receia que o conflito se torne cada vez mais “violento, sanguinário e destrutivo”.
De acordo com António Guterres, a pausa humanitária permitiria assegurar a saída segura de civis presos em cidades ocupadas, numa acção coordenada com a Cruz Vermelha Internacional; assim como a entrada segura de ajuda humanitária nas áreas mais críticas, como Mariupol, Kherson, Donetsk ou Lugansk.
O apelo chega no mesmo dia em que a pressão para que Guterres e a ONU tenham um papel mais activo na resposta à guerra na Ucrânia aumentou. Numa carta subscrita por mais de 200 antigos altos dirigentes da organização, a guerra é descrita como o “pináculo de uma série de ameaças à paz e segurança da humanidade, à prosperidade partilhada e ao respeito pelos direitos humanos que a ONU personifica”, o que deveria obrigar a uma presença mais visível da organização.
Os autores da carta, citada pelo Guardian, pedem “uma presença política e uma participação pública da ONU” no âmbito da guerra na Ucrânia, embora reconheçam a “resposta humanitária notável” do organismo. “Queremos ver uma estratégia clara para o restabelecimento da paz, começando com um cessar-fogo provisório, e a utilização da capacidade da ONU para [organizar] bons gabinetes, mediação e resolução de conflitos”
A ausência das Nações Unidas e do seu secretário-geral na resolução desta crise, causada pela invasão de um Estado soberano por um dos membros permanentes do Conselho de Segurança, poderia, por isso, representar uma ameaça à relevância da própria organização.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos já confirmou mais de 2000 mortes e quase 3000 feridos desde o início da invasão da Ucrânia. Os números reais deverão ser muito superiores.