Contra a guerra!
Resta-nos a esperança de que surja um poderoso movimento pacifista global capaz de acabar com esta e com todas as outras carnificinas em curso
O sofrimento do povo ucraniano é insuportável. É insuportável, desde logo, para as mulheres, os homens e as crianças que sofrem na sua própria pele as consequências trágicas desta guerra, que perderam as suas casas, os seus entes queridos, os amigos e os vizinhos, ou foram obrigados a fugir para longe dos bombardeamentos sanguinários e da grotesca exaltação do ódio. É insuportável também para quem assiste, impotente, a este massacre, adivinhando apenas as consequências inevitáveis da intransigência dos fautores da guerra, efeitos que já são sentidos na Europa e que, por modos diversos, alastram por todo Mundo, por todos os que dependem de matérias-primas, dos fertilizantes, do pão ou da energia que começam a escassear.
São insuportáveis estas imagens da guerra que diariamente inundam os nossos ecrãs oferecendo-nos o retrato instantâneo e impiedoso dos horrores da destruição bélica, agora, numa perspetiva inédita: o lado das vítimas. A Europa do pós-guerra, o Ocidente da guerra fria, o chamado “mundo livre” que triunfou sobre as ruínas da velha União Soviética e do Pacto de Varsóvia não souberam construir a nova era de paz que entusiasticamente nos prometeram há 30 anos. Em vez disso, empenharam-se na feroz corrida aos armamentos que continuam a semear a morte e a destruição dos povos mais fracos e vulneráveis, nos territórios mais ricos e apetecíveis, a todas as latitudes.
Este espetáculo inédito de insuportável sofrimento demonstra de forma cabal que a alternativa que hoje enfrentamos nos coloca de novo perante o dilema incontornável que chegou a figurar ostensivamente na agenda internacional do fim da guerra fria: - a perpetuação da violência armada que fatalmente nos conduz à destruição apocalíptica da sociedade humana em alternativa ao fim dos blocos militares, ao desarmamento geral e à gradual destruição de todas as armas nucleares. À morte ou à paz!
Espanta-nos que o espetáculo contínuo de destruição minuciosamente capturada pelas câmaras dos média e por vídeos amadores, ao serviço da propaganda e da contrapropaganda dos contendores, filmado no mais íntimo reduto da fragilidade humana, nas casas em ruínas, no leito de grávidas e moribundos, nos olhos dos órfãos, nas lágrimas dos que sobrevivem, na desolação das cidades ou na histeria dos combatentes, tarde tanto a suscitar a mais veemente indignação universal. Porque esta guerra é igual a todas as outras guerras, é movida pelos mesmos interesses canalhas, empreendida com o cinismo habitual e praticada com idêntica brutalidade. O que faz falta é uma informação crítica, objetiva e imparcial, uma condenação enérgica pela opinião pública internacional, a rejeição lúcida de todos os povos do mundo e a exigência do diálogo indispensável para a construção da paz.
Resta-nos apenas a esperança de que surja por fim um poderoso movimento pacifista global capaz de acabar com esta e com todas as outras carnificinas atualmente em curso, para inaugurar uma nova ordem internacional respeitadora da infinita diversidade cultural das sociedades humanas, empenhada na cooperação pacífica e generosa entre todos os povos e fundada, simplesmente, no reconhecimento do valor universal da dignidade humana.